26 de dezembro de 2008

Um homem de sonho - parte III


Eram braços e pernas em sincronia, como coreografia marcada. Nem queria prestar atenção nesses passos, mas nos movimentos da respiração ou dos desvio de ganho de tempo. Tempo é uma coisa já que já tinha pensado, mas se aprofundar nisso era orgulhar-se de um estar diferenciado que ainda não o podia fazer. Deixara então para aprofundar suas leituras sobre momento, horário, velocidade, mais tarde. Como era de praxe pela cidade em que anda, tinha sol no céu sobre sua cabeça. E quando está assim paira no ar um desejo de fazer, mais do que do ser e do fazer juntos. Seu corpo tinha uma determinada malemolência e é disso que queria prestar atenção, o fazer com gingado preciso. Se prestasse bem atenção nunca corria para atravessar a pista, se possível ainda tocava nos capus do carro há pouco em movimento. Quem diria que pela adrenalidade estava enganado, mas pelo estado de eloquência que acaba tendo com as relações cotidianas. Motoristas e pedrestes nessa cidade são parceiros de conduta, as vezes se desentendendo politicamente, mas nada tão grave. Este homem descia a ladeira que poderia muito bem dar no mar com bastante destreza. Para isso tinha seu próprio rebolado, balançava os quadris sem distinção dentro da sua masculinidade [ou do que isso poderia significar]. A ladeira é um traço bastante específico pelo caminho, ela suntuosa carrega desafios constantes e modela o corpo. Braços e pernas agora estão mais diferentes, pensa ele, sem parar de caminhar, já que enquanto há sol há muito o que se cumprir de atividade. A ladeira bem que poderia dar em um museu com suntuosa pompa. E esse homem já apreciava com contemplação o próprio ambiente, disso tinha começado a ter consciência. E praça e cinema e casa e ruas. Ah! as ladeiras dessa cidade o consumia de desejo. Se o objetivo agora não fosse apenas o andar, talvez ainda o fizesse mais...

Um comentário:

Franklin Marques disse...

foi um texto tão familiar, tão cotidiano, revivi os balanços que tenho como referência, a vida no extraordinário.