- Obrigado
- Fico esperando, então...
- (...)
- Só espero que não demores pra voltar
Orgasmo sensorial
Enquanto me olhava, falava uma pá de histórias deslumbrantes, fazendo as palavras brilharem pela coerência, pela coragem, pelo deixar-se abrir. Era a liberdade como um toque sutil na alma, como um tornar-se acessível, porta aberta pra ser inundado e não obstante ter um leve sorriso como resposta.
(Saborearam juntos um desafio para dois, como se dividissem a mesma leveza de ser, o mesmo peso também)
Restavam toques satisfeitos de sentidos, ampliando a face externa de qualquer que seja o algoritmo do prazer, rabiscando futuros acessíveis, produzindo literatos sem critérios, corroborando das práticas do envolver-se diretamente. E ele me cogitava perito de um sem fim de fragilidade, enquanto distribuía sorrisos invisíveis, malícias eloquentes. Como produzindo um palco de mistérios e desejos torpes.
Encaixou o bem estar como faz um ser afável, tão robusto quanto sorrateiro. Tão contundente quanto delicado. Ele era como um eu em profusão, só que agora dentro de mim.
Já não tinha alí mais vazios, era solitude dividida: solidão a dois.
Taça quebradiça, película em alta resolução, cama no chão, vento frio, ingredientes e fogão, fome e sede impecáveis, conversas descabidas e olhares compenetrados.
"Ah! Que esse cara tem me consumido
A mim e a tudo que eu quis Com seus olhinhos infantis
Como os olhos de um bandido
Ele está na minha vida porque quer
Eu estou pra o que der e vier
Ele chega ao anoitecer
Quando vem a madrugada ele some
Ele é quem quer
Ele é o homem
Eu sou apenas uma mulher"*
-Tô te esperando
- Você ainda me aceita?
* Música Esse Cara de Caetano Veloso - (en)cantada por Chico Buarque
Ilustrações: Vânia Medeiros (uma com Paloma Mariano)
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