16 de outubro de 2007

Manifesto: Fale quem quiser falar II

Por que a Fale! é um movimento!

E digo mais:

Há uma linha certeira entre a motivação da loucura e a distinção entre o agir e o sentir. Dentro disso, muitas coisas como brilho nos olhos, choro de cego, samba de morro alto, leitura de poesia em roda...

O que mais se pode inventar. Quem sejemos bregas sim! Que alimentemos a orgia da criação e a sensualidade de versos mal acabados. Ousamos ser criadores de uma outraambiência nas diferenças dos nossos passos, nas vontades que se completam. NÃO! Vão experimentar dançar arrocha, aqueles que não mais acreditam que se pode (re)inventar formas e cores.

No fundo, tenho a certeza de que nem tudo foi feito ainda e que o recriar sobre é sempre uma tentativa divertida de criar outros.

1922, 1970... Bandeira e Caetano. Comemos todos eles, até o talo. Tarsila e Bethânia, comemos elas até engasgar. E sambamos de saia na Pierre Verger, fazemos farra na casa dos amigos. Até zoar da tal feijoada vegetariana (eu quero é minha orelha de porco e folha de louro no feijão preto).

Simbioses com doses de Hermanos, Thom York (sim), mais Björk, novas imagens, novos tons antigos. Experimetamos o pagode mais suculento, uma orquetra imperial. E dizemos sim, mesmo na contra-mão do não!

No fundo, não queremos é fazer nada, só ser. E no final da noite de Salvador (ou em qualquer lugar do mundo) Falemos quem quiser falar!

Foto - Niltim Lopes

12 de outubro de 2007

carta de amor em forma de descrição


Lá fora o mundo tem dados tantas voltas. E eu, aqui de fora, nem tenho percebido todos os movimentos desse globo. Também nem posso né? Já foi-se o tempo em que viver até o limite pressupunha agarram o planeta e tudo a sua volta com as pontinhas do dedo mindinho. De vez em quando dou umas cochiladas e me pego fazendo de tudo para deter o tempo, então, sento no banco da praça, na esquina dos meus desejos, e gargalho. Isso siginifica claramente que ainda sou jovem, tão jovem. Fiquei tentado a me perceber como quadrados pintados de tinta guache, mas tenho descoberto minha querida, que sou de água, então nem posso me dar o luxo de mexer com tita. Fico borrado, sem forma.

Tenho aprendido a respeitar mais meus pés. Tenho uma relação de respeito maior com eles. Sabonete e cremes especiais estão em uso agora aqui, sabia? Mas, aprendi mesmo foi a minha necessidade umbilical deles que me garantem base. Piso no chão com maior vontade, presto atenção a minha volta, até pra eles não se machucarem. Tenho preferido terrenos menos íngrimes. Sei que eles gostam da água (afinal fazem parte de mim, né?), mas também gostam de se movimentar e isso é muito bom.

Esses dias, ando pensando no sentido que dou a liberdade. Sei que nesse lugar, nesse nível de complexidade no país, liberdade é palavra difícil. Mas memso assim tenho me proposto a pensar nela. Principalmente depois de escrever as irrisórias linhas da apresentação de uma monografia que tem sido escrita com o esforço do tempo, da coragem, do encantamento (sincero, um pouco desgastado). Mesmo assim achei bonito o pensar que a liberdade também está na amplitude de um pensamento que me liberte do espaço/tempo, ou seja, filosofar é me sentir liberto! E isso tem sido muito mais especial do que imaginava. Ah! escrevi na minha monografia da possibilidade de se contar história a mãos diferentes. E que a beleza dela (a história) é tê-la como uma colcha de retalhos, com uma grande diversidade de olhares, cores, formas que vai se completando em um grande tecido: nós!

Por aqui tenho visto muitos sons. Olhar mesmo. Chega numa fase que me embrenho pelas motivações de acordes no violão que temo enxergar até as notas se encorparem. O piano (em Madeleine Peyroux) nem se fala. Mas confesso que ando meio nostálgico. Cirandas, Côco de embolada (sem as bases eletrônicas de Krhystal), samba chula tem me raptado. E aí, vai-se cumadre florzinha. Vem-se Nação Zumbi. Falando em samba, ela ainda sou eu. Apesar de ignorante, não consigo sair dessa ambiência por que me sinto fixado, fincado como árvore, na gostosura de me sentir uma roda de samba. Torço por encontrar alguém que me chame para ir na sexta (numa sexta qualquer) tomar uma cerveja gelada e ouvir o bom pandeiro naquele lugar sagrado, você sabe qual é.

Penso que sou feito mesmo de água. Estar embaixo desse ambiente não só me acalma como gera demandas no desejo muito especiais. É fome, é um olhar diferente pro corpo (sem vergonha), uma dor substancial, pernas e branços alongados, atividades de respiração. Óculos diferentes, falta de cabelo. Um forte, robusto, loiro e carinhoso professor me indica, me observa. Então, o mergulho... Não observo e quano percebo meu corpo se transforma em água, é tudo líquido em mim. Meus pelos se movimentam como se fizesse parte daquela porção azul. Termina o tempo, sento na beira e agradeço por ter estado alí.


Ainda falaria do gostar de imagens (produzir), do manter contato - encontrar outras pessoas no mundo. Do meu desejo de sair daqui. Da minha astúcia em me propor outros projetos. Da ambição por novos olhares. Mas acho qeu já gastei um tanto demais de palavras e você deve estar cansada de ler-me. Então pararei por aqui.

Ilustração: Vânia Medeiros

* Trechos de uma carta pra ela