18 de maio de 2015

Continuará















- Obrigado
- Fico esperando, então...

- (...)
- Só espero que não demores pra voltar

Orgasmo sensorial

Enquanto me olhava, falava uma pá de histórias deslumbrantes, fazendo as palavras brilharem pela coerência, pela coragem, pelo deixar-se abrir. Era a liberdade como um toque sutil na alma, como um tornar-se acessível, porta aberta pra ser inundado e não obstante ter um leve sorriso como resposta.

(Saborearam juntos um desafio para dois, como se dividissem a mesma leveza de ser, o mesmo peso também)

Restavam toques satisfeitos de sentidos, ampliando a face externa de qualquer que seja o algoritmo do prazer, rabiscando futuros acessíveis, produzindo literatos sem critérios, corroborando das práticas do envolver-se diretamente. E ele me cogitava perito de um sem fim de fragilidade, enquanto distribuía sorrisos invisíveis, malícias eloquentes. Como produzindo um palco de mistérios e desejos torpes. 

Encaixou o bem estar como faz um ser afável, tão robusto quanto sorrateiro. Tão contundente quanto delicado. Ele era como um eu em profusão, só que agora dentro de mim.

Já não tinha alí mais vazios, era solitude dividida: solidão a dois.

Taça quebradiça, película em alta resolução, cama no chão, vento frio, ingredientes e fogão, fome e sede impecáveis, conversas descabidas e olhares compenetrados. 

"Ah! Que esse cara tem me consumido 
A mim e a tudo que eu quis 
Com seus olhinhos infantis 
Como os olhos de um bandido 
Ele está na minha vida porque quer 
Eu estou pra o que der e vier 
Ele chega ao anoitecer 
Quando vem a madrugada ele some 
Ele é quem quer 
Ele é o homem 
Eu sou apenas uma mulher"*


-Tô te esperando
- Você ainda me aceita?



* Música Esse Cara de Caetano Veloso - (en)cantada por Chico Buarque
Ilustrações: Vânia Medeiros (uma com Paloma Mariano)

2 de maio de 2015

Eu, desfeito em carmesim



Vermelho (um traço forte de azul piscando, quase roxo, quase cego de tão roxo). 

Vermelho de novo (longo vestígio de verde claro repousa num círculo que se abre até virar verde musgo). 

Mais vermelho (e toda tela não se sabia se laranja ou carmim, oscilando sempre). 

Tom de vermelhos (e o amarelo parece sangue escorrendo de um aparelho de televisão preto). 

Vermelho rubro (alguém cinza, muito cinza como a solidão de uma cidade). 

Batom borrado, vermelho. Perdendo identidade, vermelho sem graça (pequeno verme latino).

Vermelho final (marrom, quase liquido, quase nada, quase a morte).

Vermelho da cor do não te quero, vermelho rejeição.

Eu, rosa, pálido, furta-cor, ausente e branco.