8 de abril de 2008

buquê


.espero o momento solene do amor a dois. assim nem tão diferente de passar o dedo na sobre da tigela; correr na chuva sem camisa e abraçar alguém; tocar a guitarra invisível no show da banda de rock que mais gosto; tomar um capuccino com ela em dia de frio; a tela dele aparecer no msn; tocar aquela música no celular.


.espero solenemente o momento do desabrochar da flor. como as rosas se transformam em cheiros doces ou como os jasmins perfumam o ambiente sem pedir licença. assim, eu espero o encontro.


.espero você chegar sem muitos sentimentos. atrasado pelo horário do sono; vivo pela vontade de contar o segredo; alerta por que chegou o fim de semana.


.na verdade cansei de esperar, mas se quiser aparecer...


Texto e Foto do fotolog: www.fotolog.com/niltim

Conto dos paralelepípedos


Pedra de número 372. Estava a contar as pedrinhas de paralelepídedos no chão azeitado. 373. E não queria mais se orgulhar de quantos passos dara até aquele momento. Não por que não houvesse a necessidade de se libertar das agonias esfumaçantes da sua imaginação, mas limitaria seu campo de visão para as ilusões que viriam pelo meio do caminho. E sentou. 374. Tinha tão mais pela frente que descansara um pouco para pensar.


E pensar é bem mais devastador do que contar as pedras do asfalto.


375. E o sonho se tornara liberdade. Ousaria apenas avaliar sua vontade de permanecer arbitrário, imaculado na sua aspereza. Vai adormecer em sua vida mais e mais pássaros, como metáfora de criações com possibilidade de voar de seu colo. E então, 376. Havia ainda mais pedras no seu caminho, como diria o poeta.


Ousou a escrever uma carta no ponto específico de seu desejo. Ou seja, chegaria a contar 377. Balbuciou vontades inconfessas e mais letras resultavam de sua capacidade de coordenação motora. Habilidade com os dedos tinha de sobra. 378. Passos devagar e a carta tinha ficado cada vez mais extensa, sem ruído, sem vicissitudes, sem pesar. Carinho não estava a vista, mas vontade não faltava. E o amor? 379.


Mesmo que assim não o quisesse, terminara a carta com um ponto final retilínio e não desforme. Criatividade tinha para dar reticências, mas quem leria a carta? 380. Suspirou profundo. 381. Comeu algo. 382. Sorriu da fumaça que soltara. 383. Pulou ao invés de andar.


Que saudade de quem contaria displicentemente as pedras do caminho, ele pensou. Chegou no espaço de enviar emoções ao outro lado do lugar. Casa amarela e azul de número 384.
Ilustração: Vânia Medeiros