24 de novembro de 2014

De estar no caminho desperto*



Saí por aí pra fazer sentido

Os lugares se apresentavam possíveis
O caminho era fascinante
Tudo tinha um porém,
Mas se encaixava no fato certeiro
Um objetivo claro
Que mobilizava pelas escolhas feitas.

Era noite e eu saia
Andava com esperança 
Surrupiava silêncios
Condicionava os passos
Me debrucei por sortilégios
Dizeres sofisticados
Na busca de um rompante

Me mobilizei pelas ladeiras
Famosas insinuantes que são
Rondando tambores ancestrais
Como se flor fosse!
Não tinha menino imaginário, nem girafas,
Mas ampliei a busca, agora nos sonhos
Um horizonte estampado
Um espaço imaginário e tátil

Comi as entranhas
Minhas origens, minhas buscas
Fantasia apimentada
Sempre em boa companhia
Satisfazendo o corpo em anseio
Provocando a alma de desejos

Andei sobre as pedras do lugar
Desorganizadas e convocadoras
Cheias de novas descobertas
Reluzentes de curiosidades 
Pleiteei sambas orquestrados lá no alto
Rodas dançantes lá embaixo
Descambando em café de baile

Talvez por desejo ou coisa igual
A imaginação do rosto estava em vários
A sensação do toque perseguia
A busca me agendou a alma
Mas, no final, não tinha você.

*Trecho da música Martelo Bigorna de Lenine

4 de novembro de 2014

Rompantes de silêncios


Éramos dois a sós. Um ao outro em fúria. Ilegítimos vestígios de sensatez para um casal malfeito. Éramos sós a dois, do tipo que não se reconhece em qualquer imagem desleal que passa no quadrado de moldura branca - a tal da janela. O devaneio se orienta por não ter um pressuposto contínuo entre um e outro e por isso não tem olhos nos olhos possível, não tem toque de mãos sensíveis, não tem ilusões ancoradas em tempo e espaço.

Foi quando percebi que, mesmo assim, mesmo depois do nada, meu corpo debruçava para o dele, talvez como pressuposto para me contrair pela vontade, me redimir de tal carência, me sucumbir de vez na liberdade de estar dentro do outro.

Era um desmantelo, um ofuscar do olhar. 

E a utopia se descrevia assim: cheguei atrasado/você me espera/sorri ao me ver/me pega pela mão/me fala alguma coisa sobre "s a u d a d e d e s s e c h e i r o"/comprei seu ingresso/eu compro a pipoca/toquei sua mão sem querer/aperta meus dedos em resposta/nos olhamos///

Rompantes sinceros de apatia e de silêncios se coordenava com o jeito longe de perto do qual ele falava sobre vidas alheias. É que era a justificativa para dizer-se impedido e eu era como um macarrão que cozinhou demais, sem saber onde colocar os gestos.

Afinal, estava alí com braços esticados e coração aberto. E estava só!

*Ilustração: Vânia Medeiros