28 de fevereiro de 2009

One Tree Girl


Um certo dia você se dá conta. E isso é muito importante. Dar-se conta é entender o que não se pode deixar para trás assim, como superado. Cair a ficha é ir com bastante intensidade em seus desafios mais profundos, como um diálogo mal escrito e inacabado, como esse texto que não se tem em objetivo superar a si mesmo em contexto. Pelo menos sabe muito bem o que quer dizer esse escrito e vai tentar fazer você entender até quando se completar em sua mente.

Esse certo dia de se dar conta muito tem a ver com os encontros. Quando aparece durante a estrada alguém que não apenas siga os passos, mas que entende de percauços, parece como o acender da luz quando menos se espera. E essa menina me veio assim, como uma lâmpada que se acende pela estrada. Chegou, mais que no seu canto, chegou alimentando esperanças e sendo forte. Estava diferente do retrato da parede, muito diferente. Agora vinha com uma borboleta e o sentido de que há os dias e eles hão de ser bem vividos, sempre! Estava escrito em seu obstinado pulso. Não tinha apenas caras e bocas, tinha liberdade. E da sua beldade estonteante, delineava-se toda a destreza da menina mulher sabida de seus grandes desafios. E então, era enfim uma educadora de milagres. Mais a saber, era lutadora como referência.


E então seu sorriso [difícil e belo] foi me ensinando. Seu choro pela fome alheia era tão verdadeira que me arrastava. Sua fala sobre o destino da humanidade me apresentava uma revoluta paz. Sua simplicidade elegante me resolvia crises. Sua ambição por sempre mais amor me fazia entender mais um pouco o por quê. Então, por seu abraço e sua atenção, se tornava minha mestra.

E saltitante pelos mistérios desse nosso mundo, o que ficava nítido era que "girls just wanna have fun" e que ela apostava na melancolia dos sorrisos tipo "Vogue Itália". Gosta de prazer nos brilhos dos globos da boite ou da dança secreta de "Stick and Sweet".
Ela é uma diva, uma estrela que aprendeu dos olhares, das carícias, das discretas intuições. Que entende de nunca desviar dos carinhos e de se apaixonar a todo o momento. De lembrar que as dificuldades devem ser resolvíveis, que as faltas devem ser preenchidas. A beleza marcada no seu corpo é absolutamente compatível com as inteirezas marcadas em sua alma, ela é importante para o mundo!

O que ela ainda não sabe é que como minha referência, tem agora um ser humano no mundo que, com todos os defeitos e com todas as fraquezas, a ama e a entende.
A confissão está em quando aquele lindo ser humano dizer de sentir medo e de ser frágil, este simples educando nutriu uma esperança de também ser forte assim, mesmo que com menos potencial. Ela agora roda nos lençóis do destino como uma roda de samba colorida. Os pés que bailam pelo salão são de uma simetria de como se conhecesse o caminho da liberdade e da imaginação. E sim, ela sabe.

No toque do pandeiro que vai continuar, ela samba e roda em outras tantas direções, como uma boa baiana que vai iluminando o caminho alheio por ser, em si, a própria beleza da vida. Como uma árvore na colina a crescer. One Tree Gril.


*Para a menina árvore, minha referência, Juliana Lima.

26 de fevereiro de 2009

Carnavália IV



Chovia na noite da quarta-feira nas ruas de Olinda. Chovia de duas formas, a primeira delas é das águas rolando nos paralelepípedos daquele lugar e a outra é das lágrimas de pierrots e columbinas, anjos e demônios, pessoas e pessoas que viveram toda a experiência com o corpo e as sensações durante os dias que se passaram. Chovia assim dubiamente por que não era uma quarta qualquer, acabou-se o carnaval. A chuva (e as lágrimas) lavavam o chão como se exorciza-se cada pedacinho de momento que produziram a magia da entrega e a vivacidade da leveza imagética nos rostos alheios.

Os sentimentos continuam perpassando mas, como era carnaval, era nítido que a liberdade de sentir estava pontuado como eixo central dos olhares. E então, se molhavam de água, se enxarcavam de perfume, se lambuzavam de lama. Aquelas ruas permitiam mais. Bem mais. Então, se vestiam com capas de super-heróis, se infiltravam nos contos de fada, eram personagens da caixinha mágica de luz, se protegiam com máscaras ornamentadas e outras tantas criatividades. No auge, quando se olhava pra trás, descendo ou subindo ladeiras, uma multidão de cores se formava. Energizava. Emocionava!

O outro te sorria sempre. Quando em coletivo se dava "olares/oiê/ahan", quando se passava de timbaleiro, quando a espuminha pairava pelo ar, quando a água era jogada sobre o corpo. E tudo ia acontecendo como se em um outro lugar do espaço/tempo, como se outra dimensão acercasse, como em outro mundo.

Por outras ruas alí por perto, em um lugar não tão mais antigo, outros sonhos de momo. Frevos e passinhos acompanhavam a decoração de desenhos de beleza e delicadeza, além de confetes e serpentinas. A sinceridade da rabeca rangia os acordes junto a notas suaves de guitarra; os tambores de Naná com a Luz de Tieta de Caetano; a verdade nos olhos de um moço lírico; o povo acompanhava madeira do rosarinho com mãos pro alto; e sambas em alto-astral.

Tinha também sucesso pra quem quisesse e água pra beber. Macaxeira com charque a rodo. Lugar inflável de deitar. Tinha desejos diferentes, corpos juntos todo tempo, corpo querendo descansar, também. Teve sempre Hino ao elefante, orquestra de rua, povo de beijo e troça de coveiro. E não acabava por aí, mas como diz a letra da canção: "É de fazer chorar/quando o dia amanhece/e obriga o frevo acabar/ó quarta-feira ingrata/chega tão depressa/só pra contrariar"*

Para o afago, as carícias e as alegrias das solidões juntas de quem esteve perto no carnaval. July [gatinha], Gina, Amandinha, Emanoel [bebê], Victor, Zé[Dinho], Pat e Ramon [com carinho todo especial pelo cuidado], Celis e Rafa [com prazer de estar junto], Miloca e Lari [e seus olhares carinhosos,] Diogo e Franklin. Também para o povo da Lhama! Radamés e família com sua hospedagem. E todos que foram achados, vistos e queridamentes tocados por esse olhar que se resume aqui.

* Trecho do frevo
Quarta-feira ingrata (é de fazer chorar) de Luiz Bandeira

4 de fevereiro de 2009

Prêmio

De forma inédita, publico aqui uma brincadeira, que na verdade diz respeito a uma prática de aliança entre blogueiros. Isso me pareceu importante por que a escrita no mundo virtual não se difere do mundo real no que tange a construção de pares que acompanham o trablaho literal alheio. Como iniciante, recebo [e publico] com bom grado o selo dado por Larissa a esse blog.

abaixo segue o texto que vem com o selo e a lista de inciações de blogs a recebê-lo. O selo ficará no layout do blog.


"Com o Prêmio Dardos se reconhecem os valores que cada blogueiro(a) emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras. Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os(as) blogueiros(as), uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web."

blogs que indico o selo:

A caminho de um outro lugar possível - Um relato do Fórum Social


Andando. O verbo no gerúndio para começar essa trajetória tem todo o sentido. É que pode não parece, mas um olhar sensível entre nós (leia-se, seres humanos) está em desenvolvimento. Contínuo, estamos em passos largos em direção a diferentes caminhos, alguns convergentes, muitos díspares, mas uma boa parte com destino ao bem-estar e à evolução. Esses trechos parecem positivistas, e os são na realidade, mas, de fato, uma marcha de cores, olhos, desafios, gritos e bandeiras diferentes pelas ruas de Belém nos fazem acreditar no que se acostumou chamar em Belém, na semana de 27 de janeiro à 1º de Fevereiro, de “um outro mundo possível”. É bem verdade que as notícias, o cotidiano, as perspectivas político-econômicas de futuro não parecem tão animadoras, mas a fé e a paixão daquelas pessoas pelos seus ideais me fez acreditar também.


Seguimos pelos ares de nosso país para outra região. Vôos complexos e difíceis de entender, chegamos na capital do Pará. O povo receptivo daquele lugar foi, para nós, representado por duas figuras atenciosas que se chamavam Marcio e Cíntia, donos da casa que alugamos (achei via Orkut a indicação dessa casa, entrei em contato via MSN e fechamos negócio com eles) e que nos foi buscar no aeroporto, sem nunca ter nos visto antes, demonstrando uma simplicidade e uma abertura para o outro de forma tal comovente. Bairro do Marco, entre a Av. João Paulo II (antiga 1º de Dezembro) e a Av. Almirante Barroso, estava lá a casa na travessa Curuzu (do Ilê - ?), nos fundos do Salão de beleza Maria Bonita. Uma arquitetura interessante com cores deslumbrantes nos acomodaram.


Chegamos em Belém dois dias antes do Fórum. Isso para podermos participar do I Fórum Mundial de Mídia Livre, no qual, comunicadores, pensadores e ativistas do mundo inteiro discutia, antes mesmo do Fórum maior começar, o que podemos fazer para que o direito humano à comunicação previsto na Declaração Universal dos Direitos Humanos fosse respeitado e fortalecesse o respeito aos outros direitos fundamentais. Uma grande roda foi aberta, inclusive ostentando o banner que indicava a I Conferência Estadual de Comunicação do Pará. Muitas experiências interessantes e muitos pensamentos de futuro da comunicação como integradora e alicerce do desenvolvimento dos países latino-americanos foram expostos. Saldo de demandas e articulações a acontecerem 2009 afora.


E então começa o Fórum. Do mercado Ver-o-peso, uma caminhada de quase 100 mil pessoas colorem cada avenida. Gritos de ordem, camisas e faixas com dizeres, fotógrafos, câmeras e jornalistas de línguas bastante diferentes na tentativa de tornar memória aquele momento. O que nos rodeava, além dos olhares atentos das janelas de prédios, bancos, Mcdonalds entre outros, era a arquitetura pomposa daquela cidade. Nessa hora a emoção do estar junto já contaminava até a Praça São Braz, onde os jovens, os povos, os mundos de cultura povoaram o palco armado. No ápice do dia, diversas tribos indígenas da região amazônica tomaram o microfone e, em coro, cantaram o Hino Nacional Brasileiro, na língua deles. Nós? Acompanhamos em melodia e no choro nas faces. Outras tribos passavam pela gente no chão e o mundo rodou em nossas mãos. A bandeira do arco-íris estendida e a banca que vendia livros em cabides também foram exemplos marcantes. A cor amarela da luz indicava noite e estava aberta a liberdade de expressão e o desafio da convivência por um lugar melhor pra viver neste planeta.


As portas das salas das Universidades Federal Rural e Federal do Pará escondiam uma imensidão de questões que povoavam esferas de discussões tão próximas quanto absolutamente distantes de nossas realidades. A escolha era uma questão séria. Ir para a discussão sobre a comunicação para o desenvolvimento ou para questões de políticas públicas de juventude? Era tudo ao mesmo tempo e agora. Ao longo do caminho era encontrar pessoas, saber do outro de tão longe, agora tão perto. Era experimentar linguagens, comidas típicas (açaí com charque, maniçoba do Pará, Tacacá no Tucupi), olhares, artes e artesanatos, experimentar a sensação de descobrimento de si mesmo em que você tenta não se esbarrar.


No meio da estrada, entre uma sala e outra, era calor em princípio, até que, em qualquer momento no meio da tarde, uma chuva torrencial caia sobre nossas cabeças com direito a trovoadas e relâmpagos.


Molhados, continuávamos sedentos por mergulhar fundo naquela imersão sócio-cultural que nos convidava a conhecer mais profundamente rios de conhecimento do mundo inteiro. Então fui escolhendo aos poucos. Políticas públicas ibero-americanas de juventude, direito à comunicação, criminalização dos movimentos sociais, ouvir Marina Silva, entrar no stand dos 50 anos de Revolução Cubana... e outras tantas experiências.


Há muito também a se criticar do Fórum, é claro. Ainda não consegue ser propositivo, a organização desorganizada dos ambientes, a falta de concentração e dispersão que atrapalhava algumas atividades e algumas outras de ordem filosófica. Mas, o saldo foi positivo!


Como lembrou Frei Betto, fomos lá pra recarregar a pilha da vontade e nos acender mais forte o desejo da utopia agora e pra frente. Das quase 24 horas de viagem (quase 12h de ida e 12h de volta), ficou a mala de papéis, a visão da floresta amazônica do alto, a memória dos rios caudalosos, o samba do Ver-o-peso na chuva, a banda que se desloca no porto, o presidente anunciando a I Conferência Nacional de Comunicação, ritmia no Hangar, sucos de cupuaçu. E então, um outro mundo tem que ser possível. E continuamos caminhando...

para Sarah (Maria), Mônica (Raquel), Flávia ( - )...