31 de dezembro de 2010

pela coragem

E vamos para mais dias de aprender a lidar com a solidão.
E ha que se querer bem.
E ha a liberdade para desconstruir.
E dai que reflitam os novos planos de estrada.
Sortetude irrisoria!

14 de novembro de 2010

um, dois, três.


Deu uma volta e pronto.
Deu outra volta e não estava confiante.

Deu mais e mais voltas pra sentir.

Rodou pra dar voltas seguro.
Voltou pro primeiro ponto das voltas que deu.
Girou pra dar voltas no mesmo lugar e parar depois.
Deu uma volta e confiou no próprio taco.

Deu outra volta e - pronto - não estava.

Cirandou pra costurar os movimentos de voltar.

Rodopiou enquanto girava.


Ficou tonto.

Eu disse - viu que eu te disse?
Respirou gargalhando.

Deu outra volta e ponto.

29 de outubro de 2010

Man-ifesto


Se manifestou pela liberdade:

- Sobre a inquietação, tenho a dizer que há na intencionalidade uma visão irrequieta do mundo. Ora, se me mantenho atio, dou passos, construo, há a possibilidade de transformação prática. Ou seja, qualquer que seja a sabedoria não invalida a incoerência nos argumentos desde que na prática, haja intenção de não saber.

Ninguém se manifestou, seguindo a teoria da liberdade proposta.

Mais um tempo e mais silêncios.


Então, se manifestou pela solidariedade:

- Sobre o rigor, vale a pena mencionar a conquista de rasgos nos limites. Sem parcimônia, o que se propõe é a defesa da mobilidade e do exercício da sinergia com o ambiente. Ao mesmo tempo que a verdade seja considerada símbolo e a beleza seja negada até o seu cerne ser individualizado pela diversidade. O fazer é a própria beleza e então não há final.

Ninguém se manifestou pelo rigor proposto.


Mais alguns minutos e continuariam os burburinhos, afim de novas manifestações que se encarriam por aquele instante.

Então, quando mais fosse chamado, se manifestaria pelo desejo:

(...)

16 de setembro de 2010

Solitude


A negação na identidade é insistente. E isso é engraçado. Alguns podem pensar em patologia, mas eu acho divertido, mesmo. Veja só, se o antagonismo sempre foi a posição marcante para o que se é, quando não se é rompe-se no mínimo a barreira de ser pela complementariedade do outro.

Ocorreu que não tinha certeza. Tinha lembrado da quantidade de dúvidas apontadas. Amenizou a sinceridade e a poesia.

Um animal imaginou a imensidão - paredes silenciadas de tinta branca colorida de vinho tinto seco. Derrame, vermelho seco sobressaltado na claridade alva dos muros. Rastejou com patas e garras criativas, almejando novas posturas. A liberdade amigou-se do olhar irrequieto, planejou antever a intuição. Parafraseando o poeta, digo-lhes: "O bicho, meu Deus, era um homem".

Por fim, nada estava apaziguado. Por certo, uma guerra que nunca será findada.

28 de agosto de 2010

Dialogias - contação de história de dois.


A fantasia, pleno estado de espírito, nada mais é do que a garantia de inverdades sensíveis. Como se a imaginação fosse mais do que a liberdade de entendimento do mundo,fosse a equivocada e insolente prática de surrealismos sem arte. Ora, se não enaltece as tintas que sobressaem das argúrias cotidianas, nada mais são que ilusões mal concretizadas. Tudo, embora a necessidade de se entneder como parte, sobressalto da voracidade do diferente, nos obrigue a desfazer de nítidas idéias de sentido.


É bom falar isso logo, antes que se julgue o personagem de irrisório ou ilícito. Muito pelo contrário, eles não são. Não são de não ser mesmo de que cada um não é em individualidade e juntos continuam não sendo em coletivo. Eles optam pela desconstrução do ritmo rotineiro como práxis simbólica para a mediação com o estar e mais do que isso, enaltecem as obrigatoriedades como demônio antagônico, politicamente falando. E assim vão, como poder dizer de forma cabal [alguns dirão, chula], vivendo.


Um não é em lugares constantes. Em espaços de micro-poder saliente, com pequenas doses de avareza e até desejo simbiótico de altruidade. Lucra com a insensatez e permeia a vaidade como ponto pacífico nas questões centrais. Anda por andar. Duvida do movimento como necessidade e até insinua a preguiça como essencial, filha legítima da fluidez. Outro não é aqui, neste local, no visor, na luz. Não é também pelo fato de não se ver com paciência. Enigmático, é caçador de faltas comuns para se adaptar ao hostil ambiente de conteúdos, de práticas. Se diz muito habilidoso com o mover-se e então condena os limites de forma autoritária e até com certa razão.


Mais terão do que se falar deles durante esses dias.


Basta dizer que o sexo é sim uma questão e que aos poucos terão desafios para falar sobre o corpo e sobre a inocência, de certa forma.


[continua...]

2 de julho de 2010

Depois daquela festa


Não! Não me arrependo do beijo não dado, da ilusão mal sentida, da forma de olhar. Ontem foi... O espaço do tempo foi sentido como se realizasse a leitura de lábios. Como se fizesse sentido a falta de loucura. Como se a liberdade não se ancorasse. O lugar do redimir-se estava em ruínas. O gosto estava, a luz estava e a vontade do tempo também. Tempo, tempo. Agindo sob a égide da misericórdia. Não te perdôo, já que eu não sei mais o que é culpa. E ainda nem sei o que me fez vir aqui em palavras.

Com mais...

- Ele, o outro, na porta de casa aos berros!

1 de julho de 2010

Depois daquela noite


Eu não estava aqui ontem. Me arrependo! E estou sendo sincero quando digo que estou arrependido por não estar aqui ontem. Ontem foi um lugar imaginário muito importante.
Se estivesse complataria minhas emoções de forma a sorver a síntese do tempo.
Pelo tempo, me arrependo. Como se eu tivesse sugerindo outra proposta para a ação.
Ontem é um lugar equidistante entre a ilusão e o movimento.
E estaria a singularizar a minha completude em significado.
O dia que passou era singelo para ter feito.
E me redimo da procrastinação simplória.

Sem mais.

- Ele deixou essa carta debaixo da porta do outro, depois daquela noite!

22 de maio de 2010

Arcabouços


Surrupiou, anulou o samba das moças, segregou a ilusão do rock'in'rool. Quanto mais de sua meia verde. Punk pink de cheiro de sabão em pedras, aromatizado artificialmente com sugestão de rosas. Fazia sentido acordar - bom dia - lençol desarrumado, cuspir espuma de mentol com eucalypto, café escuro com mergulhos de biscoito maria, cabelo no espelho, chaves no cadeado de portão aberto, caminho.

- Te vi hoje, indo para o não sei aonde
- Olha... nem eu estava conseguindo me enxergar nesse dia normal
- Pois, pra mim não era assim "normal" pra você
- Meio exquizofrênico né?
- Lisonjeiro, diria. Captando a assiduidade do cotidiano, acho bonito.
- E por que não me indagou? talvez fizesse sentido pra mim acordar àquela manhã.
- Sorte minha se pudesse, ficou incompatível o espaço, era ambiente de movimento, construção de muitas imagens pela janela, cinema permanente até que...
- Até que...?
- Eu fui lá fora fazer parte do dia-a-dia.
- Não é que eu não goste do rotineiro, por favor não me leve a mal.
- Absolutamente, por isso achei especial a contemplação do óbvio
- Nem tampouco sou filófoso, bondade sua. Talvez estivesse a observar o que me era comum.
- Mesmo esse me chama atenção.
- Bonito esse seu olhar.

Compartilhou. Aludiu as alegrias estampadas nas rodas e saias girantes. Optou pela distorção holulante da corda da guitarra. Romântico pitanga do cheiro de folha de mangabeira de estradeira e lençol de chita da casa de minha vó. Era dúvida ao dormir - por que trocar de roupa? Não me vejo na tv? Lençol no chão, arrumado? Quem quer pensar no dia que ainda há de vir, se vier?

- Feliz?
- Juntos, diria eu!
- Então feliz, certo?
- Sim! No meu coletivo de cirandeiros.
-Obrigado e bons sonhos!

29 de abril de 2010

Sem lavores ou ornatos


Um homem está nú!

Seus dedos dos pés às mostras pelos arreios soltos de uma sandália velha. E ia mostrando a saudade pelo sangue. Eu disse que ele estava nu e descortinado. Selvagem! E as pernas eram músculos invencíveis, daqueles involuntários que perpetuavam agonias latentes de liberdade. Pregavam de medo, como cãimbra. Mesmo assim, não parava de andar, quase transparente. Nem ruborizava quando suas grossas coxas balançavam como espasmos. Objeto de desejo dele mesmo, que também tinha às vistas suas obscenas crises de auto-piedade, nada mais que um eufemismo antropológico para o que se chamaria "narcisismo".


Ao falar de pequenos pudores, não dá pra notar que o homem tinha um pênis normal. Aquele falo elegante não era sexualizado, nem tinha marcas de expressão. Estava preso alí e exigia força, talvez até virilidade. O pau do homem, pra que todo mundo olhasse era só um signo de índice: ou seja, um homem esteve alí! E não fazia muito sentido mostrar a barriga não definida, ele não era definido, isto estava óbvio. Parecia tão natural sua indiferença às respostas que quase sempre se questionava para que serve aquele umbigo alí no meio, continuava a questionar parado em um lugar público. Suas visceras eram notáveis, manchadas de lisergia e de memórias de inconsequências cabíveis para seus momentos de construção de história. Pelo menos essa era a justificativa plausível.


O homem não estava nú sozinho, mas ele estava nú e isso era o que comovia para essa leitura. Pois mostrava os peitos abertos, lânguidos e sutis ao mesmo tempo. Como se batesse vertiginosamente uma bomba de um lado e o outro calmo não reagia. Seu lugar da sensibilidade era o peito, as argolas, as emoções, os sentimentos. Largos ombros serviam para deteminar o tamanho de braços e mãos, quase pedintes de afago. Pescoço destroçado, mal serviam para segurar a última parte do corpo em pêlo.


Olhos e bochechas ruborizados, afinal ele estava pronto para ser devorado por outras visões. Orelhas de mesmo tom de pele eram coloquiais, mas nem sempre demonstravam carinho e segurança. Traíra este homem muitas vezes. Não mais do que sua boca em carne. Lambisgóia que era, estava alí presente e pronta para uso, indeterminadamente. Nua, essa boca, assim como as palavras que ele tinha coragem de produzir, peladas! Não tinha cabelos, se vocês querem saber e então sua mente fervilhava em graus quase esquisofrênicos de ternura. Lapsos de sinapse, eletrostática em movimento. Esse homem era impuro, como o vento. A diferença é que agora o homem estava nú e ninguém conseguia enxergar.

21 de abril de 2010

Por outra margem...


E se acabou de ir e vir e de tanto voltar que estava sem beira. E se alongou de reunir a inerência do andar como rosa de feira. E se imaginou no rito de ruir e implantou uma liberdade de beira. E inovou na posição de cantar ouvindo mastros de bandeira certeira. E se mostrou como mágico na cisao dos segundos mandando os cortes para a luz a escuridão rotineira.

Oh pessoa fora do roteiro, realinhe seu olhar para o real, para que sua inexistência não siga reta sem curva, sem eira.

E rosnou gritos de silêncios para fazer inútil sua razão passageira. E observou atentamente a poesia que se acaba por si na praça para montar como arte a sua humildade, besteira. "Minha alegria num instante se refaz, pois temos o sorriso engarrafado"*. E não comprou sentido no supermercado, estava em falta a ilusão varejista. E foleu a revista de ação, com imagens de dragões cuspindo fogo por que a aventura era sua inteireza brejeira.

Oh pessoa longe do destino, componha um certo número de verso que estará pronto para a serra estradeira.

E depois de sentir qualquer coisa que não estava a esperar, entendeu que a imaginação é participação de si mesmo para a construção do caminho. Partiria agora para a alcunha de pessoa inteira!

Foto: Vitor Freire
* Trecho da música Parque Industrial de Tom Zé

6 de março de 2010

Puta homem de esquina


Ela bebeu um pote de sentido tosco. Não queria mais andar na rua de pijama como fazia anteriormente por que já estava crescidinha demais para se amostrar desse jeito. Se enxergou, disse o homem que vendia geladinho na esquina, na casa do me despache. Serena, se mancebou de um sujismundo qualquer, era seu tipo preferido. Podia então olhar para o pífio autor desse texto? Óbvio que não, tinha coisa mais importante pra fazer. GRITARRRRRR. Diria ela. Assim sem sucesso, renomeou a atmosfera das coisas, deu nomes diversos a solidão e acompanhou as doses diárias de uma morte anunciada, sem medo.

Conseguiu se abster das decisões mais importantes. Atravessara a rua sem olhar pros lados? Nada de mais instintivo era importante. Andava e andava e andava. E mais, ela estava des-limitada (quero João Ubaldo dentro de mim) em um rio de ilha salgada. Nesse momento cai gotas de orvalho no chão. como se as costas dela doessem sem mistério ou argúria (se é que essa palavra existe).

Aceitava o não como resposta sim. Pintava de vermelho a alegria dela para se incendiar de inocentes pensamentos excitados. Queria a malícia, queria a misericórdia. E depois de um dia dormindo sem parar para descansar seu corpo de-s-formado, ampliava a anunciação dos gêneros. E não se sentia completa. Ela, uma travesti de ponta de rua, de esquina, de beira de estrada, não tinha mais sexo... rasgadaaaaaaaaa solentemente pela esfera do natural. Empina a bunda negra chulada, dizia pra ela. E no amor egoísta se apaixonou pelo homem mais másculo da festa.

E a vida não era mais do que a harmonia de laços ergonômicos. Estava perpassado pelo jeito e ampliado pela vontade. Correu dos espaços e ainda tinha alí a voracidade de um animal abrupto. Ela que não se eximia, indolente, surrupiava a visão alheia pra si. Tinha pensado sozinha todas as frases torrenciais. Essas que cai em gotas de doer.

Até rasgar os quadros, ela rasgou. Amputou o seu pinto, filho da galinha mais florida do quintal e no final, mais macho que ela só a liberdade que cuspia na justiça. Ela dançava à distância e a virtualidade resolvia a misericórdia. - Não pressuponho estigma. Homem que sou, nem de mulher eu gosto pra ser denominado em complexo. GRITAVAAAAA. E o mundo não se acabou. O rei, esse que é o povo, está nú e eu só vejo o seu sussurro.

Foto: Tiago Lima

1 de março de 2010

Me renda



Upload feito originalmente por Vânia
Ela me rende pela simbiose. Um tom sutil de saliência corporal, um aglutinar complexo, como se rede montasse a liberdade invariável. Uma opção ilimitada de carne, encorpada de vermelho vivo.

artmosferailimitadadesurpresa

-------------------mais o mistério que se renova!
eu rendido!

26 de fevereiro de 2010

Carnivália V


Um aporte e um mastro colorido, nada de novo com invenção. Uma estrada longa iluminada pela energia do gole. Um pulo característico e totalmente estranho, sem força, com ânimo. Uma particularidade bastante abrangente para que todo mundo se exiba nessa sua amostragem tão coletiva. Um mergulhar fatal e inofensivamente sensual. Uma interatividade ilimitada, consciente, distraída.

Nada de mais no mundo da carne afetada. Plumas e paetês com sabor de umbu-cajá docinho. E por baixo da saia justa do homem mais másculo, tímido desejo. Um oráculo teria afirmado que de alguma forma, não me interessa mais o real.

Pelo menos, há uma semana sem máscaras, sem aspas e com um prazer ligeiro.

Daí me deixei ser beijado em praça pública, ou melhor no meio da pista quando um caminhão atrás de mim queria passar. Deixei de ouvir todos os sons. Beijei e voltei a balançar o corpo como movimento uníssono. Todos faziam a mesma coisa em volta de mim, cada um de seu jeito. Beijei mesmo e não duvido de que eu não sou mais nada de mim depois do simples fato de que eu não preciso provar nada pra mim mesmo, como se criança voltasse a ser naqueles dias.

Ah! aquela semana sem máscara, no qual o desafio era se manter vivo e em troca imensidão de sabores estariam a disposição. Violento e saudável, como se a agressividade, o ódio recolhido também fosse o lugar das sensações como doce para os olhos de criança.

Depois de beijar, sim, subi no caminhão para ver se eu ainda estava alí. E estava. E o moço que veio de longe me disse, você alí, como os outros, é o chão suspenso, é a mágica. Por isso, estamos assumindo que por mais que não ame a vibração por liturgia, me absolvo no Chame Gente. Meu coração é igual!

Foto: Fernando Vivas :: A Tarde


Pelo meu bonito Carnaval, com uma linda visão do trio elétrico, esse carro que longe de oprimir, me redime e me religa! Esse manifesto de sensibilidade e nervos aflorados. Para os companheiros de publicação diária do Jornal, todos eles e elas. Para Ismael e para a querida e intensa Bruna. Para o amor e carinho que tenho pela timbaleira do meu amor, Lari. Para a parceira inteira, Celine. Para Larissa, Vinícius, Filipe... Para os ânimos bonitos de quem voltou. Para o sorriso sempre elegante de Raiça. Para a beleza estonteante de Mônica. Os abraços do querido Tiago Lima, o beijo saudoso de João Meirelles, o olhar gracioso de Camilo Fróes. As filas de Rick, Salim, San... Aos mais belos dos belos, pelas minhas lágrimas. Para Carlinhos, o Brown! Sim, Moraes, pra você que me fez sentir carne de Carnaval!

8 de fevereiro de 2010

...Clara


Clara aceitava a impáfia como obstinação era ela simpatia na sua lógica sem demolição de argumentos construia histórias de inverno com fitas vermelhas e pulava para espantar o tédio mas era frio, menina? - eu só quero saber de amanhã tem vaga? ela perguntaria se soubesse também assobiar pra chamar atenção. Eta, Clara imã de amores brutos era robusta para satisfazer aos homens de meia idade ou que falasse alemão pra ela ouvir filosofia barata e não entender, como hoje não entende em português. Quando crescer vai ser paisagista sem saber muito o motivo e agora estava parada espero o ouvir aglutinado de vozes e então ficava triste por besteira por ser fisgada mais uma vez pela música pop por não ter lido o clássico da intelectualidade moderna por saber a dança da moda antes de todos por ser Clara, mesmo preta mas disso ela se desligou, cansou! Registrou seu desentendimento com a sobriedade e não desvencilhou do cansaço como nobreza assim fazia arte, como criança aprontando (com) seu destino. E o que ela mais gostava, antes de tudo era três pontos de continuação

7 de janeiro de 2010

Ain't no sunshine*


Ele logo me olhou com esmero, antes mesmo de eu estender o olhar para sua direção. Nem sequer pressentia aquele vislmbre. O desvio sínico do olhar o denunciou entre batuques e luzes amarelas. Era quase carnaval na cidade, era calor de janeiro. Batucada na rua para alegrar os corações alheios. Também para vender música de sucesso e manter a indústria do entretenimento. Mas isso pra ele é uma página a virar. O que mais importava era a pele escura que exalava frescor, como cheiro de flor de laranjeira no salão de samba antigo ou perfume de pitanga no cangote da menina [imagem borrada de melancia no chão caída da janela]. Queria eu que cessassem os arrepios ao sentir o cheiro das folhas de pitanga que se jogam no chão em oferenda, talvez não sentisse também a vontade que dá dos braços dele acariciando meu braço até apertar de leve a minha nuca como carinho desavisado no meio do dia. O sol nos aproxima cada vez mais, como se a pele entrasse em contato com uma energia de ligação, produção e criatividade de cores. Passam o sol se pondo, a lua cheia do mar, a areia quente que se vê da janela do ônibus, o verde dos coqueiros do Jardim de Alah. A alegria é quase uma ditadura, sorrisos abertos para a coletividade impera. No fundo, me sinto cansado, até lembrar que ele me procura pela cidade de ladeiras...

*Título de música do Jackson 5