25 de dezembro de 2007

sobre o destino. continuará...


Amansei no colo um destino que estava acanhado e fugidio. De leve, passeava a minha mão por sua nuca, arrepiando sua pele na perspectiva de fazê-lo entender que deverias ter como meta compania. Afinal ainda não entendi para que serve destino se ele é sozinho e não consegue se pensar assim. Fui falando a ele devagar que era preciso que ele seguisse um caminho bastante seguro, ilícito de desilusões, arremendado de colcha de retalho colorido, renda macia e constante.

Mas lá destino consegue escutar seu dono? Por que sim, destino tem que saber que ele é feito para alguém... independência, livre arbítrio só para quem tem qeu passar pela angústia de fazer opções, e destino não tem isso... ele já vem escrito, definido por papel passado, nada de botar as asinhas de fora... destino não é doido de sair de mim assim, sem avisar.

Depois de alimentado, tinha que falar com ele pra seguir um fluxo normal que a vida ia lhe propor (ou que já estava previsto para ser...), mas tão acanhado parecia o destino que dei uma chance dele parar e promover uma reflexão sobre ele mesmo e como ele conseguia me ver. Destino danado, me disse tanta coisa importante, sem ao menos projetar qualquer imagem, sem proferir nenhuma palavra.

Entendi de uma vez por todas que o destino sou eu, mas, arredio que estou, queria mesmo era saber porque você não quer colar o seu destino em mim.

Ilustração: Vânia Medeiros

18 de dezembro de 2007

Uma outra de Rodoviária*


Estava parado à porta do banheiro quando ouviu uma conversa de dois homens, magros, um com a pele mais escura que o outro. Os dois não pareciam preocupados, mas atentos. A sensação era de que alguma estratégia estava sendo bolada. Então, decidiu permanecer alí parado. Ainda tentara chegar um pouco mais perto para entender tudo com mais clareza. Dava para enxergar tudo muito bem. O homem mais próximo parecia ter seus 26 anos de idade e era o que mais estava escutando.

Foi aí que os ânimos se exaltaram. Parecia que as outras pessoas tinham percebido o tal clímax, pois o barulho aumentava de forma constante. Tudo era quase uníssono. "Seria uma coreografia sonora?" pensou! Apesar dessa pequena distração, não se limitou àquela situação e queria entender qual a principal razão para toda aquela discussão. Porém os zunidos estavam cada vez mais se confundindo e se tornando um só.

Se dissolvesse todas as partes, ouviria um estrondoso barulho da rádio do bar, o choro do bebê que queria o doce ao qual a mãe ão podia comprar, um casal que discutia sobre qual o destino da noite, trânsito enfurecido do lado de fora e o próprio vazio dele. Sim, tudo estava misturado e não o deixava se concentrar no mais importante: o que conversavam alí no banheiro aqueles dois homens bonitos e misteriosos.

Quando conseguiu se aproximar ainda mais, pôde entender que se tratava de uma importante decisão que poderia mudar seus caminhos.

A situação era cada vez mais tensa. O tempo estaria a se esvair? De fato deveriam entrar em um consenso, comum acordo, o mais rápido possível. Precisava de algum argumento para entender que decisão era que os homens precisavam tomar, apenas por curiosidade (pensara se a curiosidade por si só era mesmo motivo, mas queria era satisfazer um desejo e já estava bastante envolvido para desistir assim).

Foi quando um dos homens aumentou o tom de voz e pediu o veredicto: "o que vamos fazer?". Nessa hora o telefone toca um som engraçao. Sua mãe o ligou justamente quando estava prestes a desvendar todo o enigma. Atendeu, ouviu algumas recomendações e tarefas, porém não conseguia manter a atenção na conversa. Falou à mãe alguma coisa sem sentido, ouviu com cuidado, pelo menos, a finalização da conversa com a madre e, quando desligou o telefone: silêncio!

O banheiro já estava vazio. Não saberia mais o mistério e nem o que devia fazer por sua mãe. Pelo menos, agora tinha uma coreografia de silêncios.

Ilustração: Vânia Medeiros

* Segue a linha de contos de rodoviária que começa com Vânia Medeiros - "uma de rodoviária"

8 de dezembro de 2007

Pra declarar minha saudade!



Parte VII - "Além da vida ainda de manhã de um outro dia"*

Tinha o desafio de ter a sensação de estar só. Já que sabia que ninguém mais ia chegar, fez zapping, leu textos interessantes na rede, tirou a camiseta, ouviu toda a lista de reprodução do computador e até cochilou um pouco. O que fazer da solidão do não. Não é um sim de tanto sim, como diria Caetano. É um jeito hipotético de não estar...

Mesmo que os vicios do entendimento ainda retomem o ar da desesperança limiar cotidiana, nada mais além do tato o fará completo. Conservar desejos semânticos, apuar a liberdade de sentir. O que falta para o prosseguir plástico e nada hermético? Há serenidade no querer?

O colapso de tais idéias premitem conclusões das mais improváveis, mas quem trataria com soberba a imagética das escolhas. O que te faz crescer, então é o caminho a que se dedica e, então, o choro redime! Anda pelo vazio simbólico, ninguém para abraçar no domingo ao final da tarde.

Antes disso, o telefone toca. Veste uma camisa qualquer, uma calça qualquer, anda pela rua quelquer, vai pra qualquer lugar se divertir. A compania não é qualquer. Não se desafia mais a ter convidados. Gosta sensivelmente.

Bonito. Ele tava bonito ontem a noite!

Fotos: João Meirelles

* Trecho da Música Se tudo pode acontecer de Arnaldo Antunes

1 de dezembro de 2007

E.la - (B).ace-lar















Um estar interessante. Como uma flor que, na sua delicadeza imersa no deslumbre do jardim, sente desejos maiores de florestas, ao mesmo tempo úmida, verde e exalando o aroma de mais pura sensibilidade. É que quando ela aparece tem cheiro de aventura e romance no ar. Como a liberdade que ruboriza ao se alimentar de simplicidade e sinceros momentos de estar junto e só.


Sim. Ela é uma palavra com três letrinhas pouco banais. Ela é sim por que de sua subjetividade fica sempre a vontade de positivos, o sinal verde dos sonhos. Sim do sim e tudo além disso. Afinal, as portas se deixam sem fechaduras e as janelas sem trancas por que ela passa.

Some então os maniqueísmos baratos pelo caminho. Nada de dualidades. Para que se existem as possibilidades inteiras e diversas? Ela é o pricipal desafio do colorido: a vontade de que juntos não se tornem um só, mas vários no mesmo sentido.

Então, ela é carinho e outros afagos ademais;
ela é ilustração de boas medidas e sortes;
ela encanta e entoa cantos diversos para estar feliz; ela faz os outros felizes!
Assim, ela é beleza e ponto de continuação...

Em homenagem a Quel

Ilustração: Vânia Medeiros

27 de novembro de 2007

Pra declarar minha saudade!


Parte VI - Pelo desejo

Ai! A imaginação furtiva desses caminhos. Sussura pra si como se o entendimento das sensações fossem tal gotas de água libertas em drops no oceano. Nem que quisesse mais, os limites o acompanharia. E não vai desistir... de continuar. Passa o tempo sem demora a reparar os traços que ele vai deixando no caminho, passa a noite com carinho, passa o vento com leveza, passa a destreza do querer bem, passa o frio de coberta, passa a chuva com tempo bom!

Djavan tocava Se... na vitrola pra ele.

Malemolente, vestiu-se com a segurança que o ambiente lhe preparara anteriormente, afinal era o dono da sala de estar. Já tinha descascado o abacaxi e preparado as folhas de hortelã quando uma mensagem o chega por qualquer sinal. Com uma frase que dizia: "a indecisão, as palavras subjetivas, seriam também forma de dizer que sim, ou não?"

Conseguia tocar em seu corpo viril. Lia os afluentes tranquilos de Rosa, se preparava pra mudar de vida e cantarolou baixo imaginando sussuro no ouvido do outro que chegaria (?):

"Se eu me entregar total
Meu medo é!
Você pensar que eu
Sou superficial...
(...)
Se você quiser
Ser meu namoradinho
E me der o seu carinho
Sem ter fim
Prá você eu digo:
Sim!..."*

"
Aí ele disse: vai querer?"
" Aí ele disse: por amor, ou por besteira?"**

Foto: Franklin Marques

*Trechos da música Pra você eu digo sim versão de Rita Lee / música de Jonh Lennon e Paul McCartney

**Trechos da música Amor de Muito de Chico Science.

21 de novembro de 2007

Pra declarar minha saudade!


Parte V - por que há continuidade...

Arriscou sentar no chão gelado pra sentir na pele a existência de um frio exterior. Não ajudaria muito degustar o brigadeiro, agora não mais quente. Pensava: se bastaria com seus pensamentos e molecagens? Então, guardou na adega (que agora criara) o vinho que tinha comprado para quando o outro chegasse.

Foi passar o tempo com refrigerante de limão e no apoderamento das palavras para criar outros simbolos.

A liberdade era acariciada pelo aproveitamento dos olhares alheios fora de si. A tudo se aconselhava toques de timbau e efeitos percussivos aliados a cordas afinadas. Roubou mensagens de amor de outrem [ficava pra si os desejos de amor que o tal personagem da história que via no cubo mágico dedicava ao outro personagem que não eram os atores em si, mas eles se fingindo de outros - como esse relatado?]

mastigou tomate (fruta preferida) e continuou...

Ilustração: Vânia Medeiros

20 de novembro de 2007

Conversas*


E lá vai o barco do nosso destino fluindo. enquanto de braços abertos, o vento (aquele do movimento) nos ergue e nos guia no tempo certo da nossa velocidade. Então sentimos o andar com todo o corpo! O desejo e o medo são amigos intímos. Penso que um se alimenta do outro. E vivem a nos alimentar...

No entanto, seria razoável colocar os desejos em dúvida e, por outro lado, desejar o duvidoso? Aliás, é possível desejar algo que não seja duvidoso, desconhecido e, portanto, desejável? Ou o desejo, sem dúvida, também pode co-existir com o medo do novo? Fico pensando... é mais fácil seguir em frente com as vontades e dúvidas. essa combinação nos forma e transforma a cada instante. é só permitimos. é só abrirmos os braços

Logo, o que seríamos sem as dúvidas? o que trazem os ventos? se a vontade nos move, a inquietude tem nos feito aprender. nos leva esse vento nos passos da dúvida. o além é a vontade de não ter certezas! e a vontade é o que move. movimento novamente. Logo sentimos o vento a nos levar mais e mais. e além.

Daí, tudo é mais colorido. a vontade de luz, a ilusão do cinza, a busca. virtuar-se pelo caminho dos desejos! sentir falta dela [a luz], vontade! é. e o melhor não é o encontro com ela [a luz]. é a sua busca. nessa busca podemos ser ela. ah! se o cinza for capaz de nos mostrar as cores que o forma... talvez a gente fosse capaz de descontrui-lo sempre sem pestanejar. De certo, não precisamos sempre de todas as cores, no fundo queremos é encontrar a luz... e descortiná-lo cabe a mim. eu vou esperar o dia que chega com o sorriso que eu quero que ele me abra. e assim fica fácil de achar o ritmo do movimento e o tom da cor certa. o segredo é aproveitar bem o cinza pra valorizar ainda mais a vida das cores que pintamos.

Em tempos de falta de cores, a gente acaba esquecendo que o cinza também é uma cor. Na vontade de que o tempo passe, se deslumbrar pela vontade de arco-íris é natural. E, como se fosse de repente, goticulas de agua penetram raios de sol. Outro dia vem chegando... às vezes a gente não consegue colorir. não consegue movimento. Uma pausa para reencontrar o encantamento do simples. O simples encantamento. Nem sempre as cores vem.

Pois é aí que o dia toma o sentido que ela merece. O sentido são as cores em movimento, que nos remete ao frio, que nos ensina a brincar. a flor e a lua. tudo é luz, e então cores do dia que são!
e então brincamos de verdade. A verdade pode ser o perfume da flor desejada ou a luz da Lua admirada. O cotidiano fica iluminado e perfumado, mesmo que a nossa volta tudo esteja cinza. A verdade [brincada] dá cor ao dia.

E então... corre pelos ventos uma sensação de aroma de flor de verdade, daquelas que se abrem para a inventividade mais próxima, que desvia as vicisssitudes do corriqueiro. Como se a verdade fosse a brincadeira mais gostosa.

Movimentar a verdade é a principal demanda. Nós demandamos até de verdade-inventada, desde que seja bem lúdica [linda].

O desejo, então, é a demanda do dia-a-dia! Movimenta verdade, alimenta saudades!


Ilustração: Bianca Pyl

*Este texto é resultado da troca de recados com a doce e delicada flor Bianca Pyl e participação de um carioca super querido Gustavo Barreto. Pra mim se formou como um texto só nossos diálogos. Lindos :D

18 de novembro de 2007

Pra declarar minha saudade!


Parte IV - era criatividade?

Então respirou o ar da cidade, procurando acalanto para seu sentimento de vontade. Pisava macio, tocava na rua como se fosse parte dele mesmo. Crescia então a esperança. Estaria com aquela sensação de que agora podia compartilhar os mais puros sentimentos de enlace, carinho se satisfação com as coisas simples? Dividir as cores e os ventos nos cabelos?

Comentou o amor com seu José da padaria. Trocou carícias com a menina que ainda brincava na praça. Alimentou os olhos com a velocidade dos carros a passar, do verde e amarelo escuro das árvores, das amêndoas no chão.

Foi pra casa qual ligeiro. Estaria ancioso.

E então, lembrou que era apenas vontade, desejo. Que como sempre, o outro não viria, por que o outro mesmo não sabia de seus desejos e mais: o outro tem outros desejos imaginários, outras questões mais importantes, outros amores.

Comprou o vinho à toa. Foi procurar suco na geladeira. Chorou pro amigo mais próximo. Falou com o outro no telefone. Ficou sozinho.

Ilustração: Vânia Medeiros

Pra declarar minha saudade!


Parte III - arrumando a casa

A verdade é que os limites do desejo não eram impassiveis de medos sutis ou de sensação de prazer no mistério. Qualquer coisa que pudesse ser sinal, vento passando diferente, música tocando na vitrola, indicação do horóscopo por email, tudo o chamava atenção pela expectativa. Parecia que ainda faltava-lhe arrumação, mas arrumação dos sentimentos, da forma de agir e ser. Ia tentando organizar concomitantemente como o fazia com os objetos da casa. Pensava sempre na criação como parte de um ritual simbólico do encontro. "falta pouco", pensava. E se entusiasmava com o cheiro bom que exalava.

alimentava os passaros da imaginação, bichos de estimação da fantasia. Bailando pela casa por que assim o sabia fazer para neutralizar os ânimos. Cantar no microfone imaginário, rabiscar pedaços ligeiros de papel, ensaiar a recepção.

Depois de recitar sonetos de amor de Neruda para si mesmo, acolheu em seu colo as caricias sonhadas. Pegou carteira, chaves, mp3 e celular e foi andar...

Foto: Ingrid Klinkby

16 de novembro de 2007

Pra declarar minha saudade!


Parte II - Em expectativa

Os momentos são propostos de criações íngrimes de ambiências. Cria dispositivo de ampliação do que se projeta para um acontecimento adiante. Mistura as sensações da latente liberdade privada do agora para o prazer da indefinição do depois. Então, tudo continua sendo (uma constante) criação subjetiva.

Plasticamente, o tempo é o espaço.

Aumentou um pouco mais o volume para degustar aquela canção em especial. Só pensou na situação (espaço/tempo) quando percebeu que para um clima mais aconchegante era necessário trocar o refrigerante de limão por uma bebida mais encorpada (o caro leitor pensaria em vinho, o personagem não fugiria à regra).

Foto: Rodrigo Fuzar

15 de novembro de 2007

Pra declarar minha saudade!*


Parte I - À espera...

Aquele grito foi porque acabara de machucar o dedo cozinhando brigadeiro na tarde envolvente de domingo. A casa estava vazia, mas o refrigerante no congelador e os filmes na mesa de centro da sala denunciavam a espera da visita. Tinha música nova na lista de reprodução do computador. Tão envolvente, queria impressionar o convidado quanto à sua atualidade sonora. Devia confessar que as habilidades culinarísticas eram apenas hobby em ascensão. Acho que agora faltava pouco tempo, então, aumenta o volume da caixa de som e, radiante, se faz imergir em águas frias e refrescantes.

Enquanto banhava-se, entoava canto exasperado, mas inofensivo (porém, isso não vem ao caso). Emnava um encantamento imaginário, digno de produção de imagens. Gritos de Picasso? Sonhos de Van Gogh? Borrões de Monet? Era um traço forte, mácula de um abstrato preponderante milindrando desejos exaustos, como aquele "cheiro de manga madura"**. Preparava seu corpo e suas sensações também. Prosaico e audacioso.

Toalha de banho - deitado na cama
sonoridades e sonho!

Ilustração: Igor Souza

* "Pra declara minha saudade" é uma série de textículos que pretende ser uma historieta simples sobre amores, carinhos e desejos. Esse também é o nome de uma música interpretada por Maria Rita no seu álbum Samba Meu.
** Metáfora inventada por Helena Parente Cunha em seu livro "Mulher no espelho".

16 de outubro de 2007

Manifesto: Fale quem quiser falar II

Por que a Fale! é um movimento!

E digo mais:

Há uma linha certeira entre a motivação da loucura e a distinção entre o agir e o sentir. Dentro disso, muitas coisas como brilho nos olhos, choro de cego, samba de morro alto, leitura de poesia em roda...

O que mais se pode inventar. Quem sejemos bregas sim! Que alimentemos a orgia da criação e a sensualidade de versos mal acabados. Ousamos ser criadores de uma outraambiência nas diferenças dos nossos passos, nas vontades que se completam. NÃO! Vão experimentar dançar arrocha, aqueles que não mais acreditam que se pode (re)inventar formas e cores.

No fundo, tenho a certeza de que nem tudo foi feito ainda e que o recriar sobre é sempre uma tentativa divertida de criar outros.

1922, 1970... Bandeira e Caetano. Comemos todos eles, até o talo. Tarsila e Bethânia, comemos elas até engasgar. E sambamos de saia na Pierre Verger, fazemos farra na casa dos amigos. Até zoar da tal feijoada vegetariana (eu quero é minha orelha de porco e folha de louro no feijão preto).

Simbioses com doses de Hermanos, Thom York (sim), mais Björk, novas imagens, novos tons antigos. Experimetamos o pagode mais suculento, uma orquetra imperial. E dizemos sim, mesmo na contra-mão do não!

No fundo, não queremos é fazer nada, só ser. E no final da noite de Salvador (ou em qualquer lugar do mundo) Falemos quem quiser falar!

Foto - Niltim Lopes

12 de outubro de 2007

carta de amor em forma de descrição


Lá fora o mundo tem dados tantas voltas. E eu, aqui de fora, nem tenho percebido todos os movimentos desse globo. Também nem posso né? Já foi-se o tempo em que viver até o limite pressupunha agarram o planeta e tudo a sua volta com as pontinhas do dedo mindinho. De vez em quando dou umas cochiladas e me pego fazendo de tudo para deter o tempo, então, sento no banco da praça, na esquina dos meus desejos, e gargalho. Isso siginifica claramente que ainda sou jovem, tão jovem. Fiquei tentado a me perceber como quadrados pintados de tinta guache, mas tenho descoberto minha querida, que sou de água, então nem posso me dar o luxo de mexer com tita. Fico borrado, sem forma.

Tenho aprendido a respeitar mais meus pés. Tenho uma relação de respeito maior com eles. Sabonete e cremes especiais estão em uso agora aqui, sabia? Mas, aprendi mesmo foi a minha necessidade umbilical deles que me garantem base. Piso no chão com maior vontade, presto atenção a minha volta, até pra eles não se machucarem. Tenho preferido terrenos menos íngrimes. Sei que eles gostam da água (afinal fazem parte de mim, né?), mas também gostam de se movimentar e isso é muito bom.

Esses dias, ando pensando no sentido que dou a liberdade. Sei que nesse lugar, nesse nível de complexidade no país, liberdade é palavra difícil. Mas memso assim tenho me proposto a pensar nela. Principalmente depois de escrever as irrisórias linhas da apresentação de uma monografia que tem sido escrita com o esforço do tempo, da coragem, do encantamento (sincero, um pouco desgastado). Mesmo assim achei bonito o pensar que a liberdade também está na amplitude de um pensamento que me liberte do espaço/tempo, ou seja, filosofar é me sentir liberto! E isso tem sido muito mais especial do que imaginava. Ah! escrevi na minha monografia da possibilidade de se contar história a mãos diferentes. E que a beleza dela (a história) é tê-la como uma colcha de retalhos, com uma grande diversidade de olhares, cores, formas que vai se completando em um grande tecido: nós!

Por aqui tenho visto muitos sons. Olhar mesmo. Chega numa fase que me embrenho pelas motivações de acordes no violão que temo enxergar até as notas se encorparem. O piano (em Madeleine Peyroux) nem se fala. Mas confesso que ando meio nostálgico. Cirandas, Côco de embolada (sem as bases eletrônicas de Krhystal), samba chula tem me raptado. E aí, vai-se cumadre florzinha. Vem-se Nação Zumbi. Falando em samba, ela ainda sou eu. Apesar de ignorante, não consigo sair dessa ambiência por que me sinto fixado, fincado como árvore, na gostosura de me sentir uma roda de samba. Torço por encontrar alguém que me chame para ir na sexta (numa sexta qualquer) tomar uma cerveja gelada e ouvir o bom pandeiro naquele lugar sagrado, você sabe qual é.

Penso que sou feito mesmo de água. Estar embaixo desse ambiente não só me acalma como gera demandas no desejo muito especiais. É fome, é um olhar diferente pro corpo (sem vergonha), uma dor substancial, pernas e branços alongados, atividades de respiração. Óculos diferentes, falta de cabelo. Um forte, robusto, loiro e carinhoso professor me indica, me observa. Então, o mergulho... Não observo e quano percebo meu corpo se transforma em água, é tudo líquido em mim. Meus pelos se movimentam como se fizesse parte daquela porção azul. Termina o tempo, sento na beira e agradeço por ter estado alí.


Ainda falaria do gostar de imagens (produzir), do manter contato - encontrar outras pessoas no mundo. Do meu desejo de sair daqui. Da minha astúcia em me propor outros projetos. Da ambição por novos olhares. Mas acho qeu já gastei um tanto demais de palavras e você deve estar cansada de ler-me. Então pararei por aqui.

Ilustração: Vânia Medeiros

* Trechos de uma carta pra ela

21 de setembro de 2007

Eu sou uma roda de samba!

Confesso. Sou uma roda de samba. Não apenas pela vitalidade dos quadris ou pela dinâmica com que os passos vão se alinhando com as batidas das palmas da mão. Mas, principalmente, pela alegria dos que circundam o ambiente. Sim, além de fábula, me vejo ambiente também. Saias brancas que voam, pés descalços no terreiro, umbigadas. Me parece também característica a continuidade do som, uma cachacinha como combustível. As letras são praticamente uma trajetória, uma métrica em história. Minha própria cultura. As vezes até pensamentos soltos.

Alguém pode perguntar acerca da melancolia que não existe na roda e que em mim parece uma constante, mas nisso não me apego mais. Apesar da também semel
hança com os olhos cansados da senhora da lata, do "rir para não chorar", das vontades inconfessadas no pandeiro.

"O meu samba é de vida e não de morte
Meu samba vem pra cá e traz a sorte
E celebra tudo o que é bonito
Meu samba não despreza o esquisito
Meu Samba vai tocar no infinito
Meu Samba é de bossa e não de grito"*

Sou também o sorriso da menina que entra na roda, a sandália arrastando o barro do chão, o toque do garfo no prato de porcelana, as notas delicadas do cavaquinho. Ah! eu sou sim uma roda de samba. Daquelas que as moças bem vestidas de chita gargalham satisfeitas. Das que os rapazes cantam abraçados o refrão. Do beijo e do respeito por toda a ancestralidade. Cada vez mais flexível, me embrenho pelas mesas de bar madrugada a fora. No couro do terreiro, nas latas tocadas por "minha tia", dos dedos miúdos na pele do pandeiro, do velho sapato branco, do chapéu costumeiro, da cerveja gelada no copo e da preta a se requebrar. Aí, sou ponto de encontro de bons amigos, escuta para dores de amor...



E então, o samba é meu corpo inteiro. Um pagode arrastado, um chorinho de viola, uma cadência com esmero, bandolim e surdo ligeiros. Senhoras do recôncavo, eu sou também... Os poemas de amor versados para o meu bem com harmonia e contratempos ritmados. Então, pego meu pandeiro discreto e, com minha marra sorrateira, me transformo lentamente num bamba. Na mais gostosa roda de samba.


"o couro comeu na casa de noca, nêgo
não teve jeito
na casa de noca, quando o couro come,
é sinal que a dona quer respeito"**

Foto: Carol Garcia e coletada na Internet

* Trecho da música Samba Meu de Rodrigo Bittencourt (cantada por Maria Rita)
** Trecho da música Casa de Noca de Serginho Meriti, Nei Jota Carlos e Elson do pagode (cantada por Maria Rita)

12 de setembro de 2007

Ela dança jazz suave!
















E tudo começava a parecer óbvio demais... caminhos parecidos, decisões inoperantes, alegrias pequenas. E mais, particularmente ela não arraigava solidão! Plantou três sementes na varanda perto da janela. Disseram que o verde rejuvenesce o sonho. Manejava os pensamentos para tornar saudável o tal subconsciente, como se Freud não fizesse nenhum sentido para seu pensamento irrisório. A minúcia do sentir não a paralizava, ao contrário, agitava suas expectativas em relação ao próximo passo. Em dias de roda de samba, vestia a saia branca rodada para impressionar os transeuntes. Nos outros horários, calça jeans e aparelho de mp3 para acompanhar a solidão. Ela sabia do prazer do chocolate tal como da sensação de liberdade vertiginosa que parece sentir, com todas as malícias, todos os búzios, as criatividades!


"Quando pára o samba

Eu lhe tiro pra dançar

Você me diz: Não

Eu agora tenho par
E sai dançando com ele

Alegre e feliz

Quando para o samba

Bate palma e pede bis"*

Se esgueirava pelas brechas do caminho, a tal menina. Olhos castanhos, desenhados com tal esmero pela luz que refletia um verde tão claro castanho. Molestava o ócio, distribuindo para o universo uma energia exaspiradora. Crucial mesmo para ela é andar descalça pela areia da praia e quebrar conchas para ouvir o barulho do "craft". Tomava coca-cola a noite, depois de desligar todas as luzes, até a televisão. música para comer, para escrever alguma coisa, para conversar. Maquinava alguma forma de ter que passar pelo caminho de praia, para ficar olhando para o mar e pensar coisas diferentes, tal como economizar dinheiro para comprar plhas novas ou qual será o filme que irá assitir, provavelmente sozinha naquele cinema bonito.

"Eu sou a casa do raio e do vento

Por onde eu passo é zunido é clarão

Porque Inhansã desde o meu nascimento

Tornou-se a dona do meu coração"**

Pouco tinha pintado os lábios de vermelho. A tentação era tentar se mostrar de um outro ângulo para angariar sorrisos bonitos, cheiros no cangote, beijos ardentes. Até acordar na poltrona desconfortável do onibus. Arruma os cabelos bagunçados pelo vento da janela. Pede o ponto e salta meio atordoada sem saber direito por que tinha tomado tal caminho que aceitara. Andava pelo centro da cidade, olhando atentamente as coisas que via todos os dias. Entrou naquela porta de vidro, largou a bolsa na sacada e aceitou o vinho para entrada...

"I go out walkin'

After midnight

Out in the moonlight
Just hopin' you may
Somewhere a-walkin'
After midnight

Searching for me"***

Foto: Vânia Medeiros

* Trecho da música Sem Compromisso de
Geraldo Pereira; Nelson Trigueiro (cantado pela Orquestra Imperial)
** Trecho da música A dona do raio e do vento de Maria Bethânia
*** Trecho da música Walkin' after midnight de Madeleine Peyroux

21 de agosto de 2007

Trem das cores (ou à vontade de colorido)


"A franja na encosta, cor de laranja, capim rosa chá..."* enquanto as testemunhas da sutil mudança de temperatura se embalam ao novo frescor do ambiente. Série de gravuras do pensamento se tornam mais tácitas que visuais. Espelho da saudade.

"O mel desses olhos luz, mel de cor ímpar..."*, surtam em ondas de giz de cera com traços alterados pelo vento. Conexão de paisagens, novos desafios. A falta que a menina me faz. Parecem noites escuras, com verdes musgos, azuis marinhos, rios vermelhos.

A princípio fico marcado pela sensação indescritível da paisagem do salmão ao ocre. E nos sentidos apurados da textura da pele quase morena. Sinuosidades em fotografias adquirindo ares de impressionismo fantástico. Pinceladas infantis que carregam imagens deslocadas. Saudades dibujadas.

"Azul que é pura memória de algum lugar. Teu cabelo preto, explícito objeto, castanhos lábios, ou pra ser exato, lábios cor de açaí..."* e então a imaginação é tela com sombras de lápis de cor. E você, tinas guaches diversas, vai se diluindo em águas mornas, sem se dissolver.

Passeia por outros sabores, imagina hipermelodias, sons malemolentes. E, quando acostumada a nova rotina sem grafites nas paredes, sem pedras em reinos, cria tempo de arco-íris indecifráveis.

"Eu ando pelo mundo prestando atenção
Em cores que eu não sei o nome Cores de Almodóvar Cores de Frida Kahlo, cores Passeio pelo escuro Eu presto muita atenção no que meu irmão ouve E como uma segunda pele, um calo, uma casca, Uma cápsula protetora"**

Daí partem todas as reflexões sobre o amor. Na coerência indóssil dos hormônios, em desejos de entrega, no colo. Portanto, na ausência também. Imitando laranja de folhas secas caídas das árvores, amarelo opaco da manga no chão, o quase-vermelho de lama no asfalto.

"E aqui trem das cores, sábios projetos: tocar na Central..."" De fato contemplar sonhos perecíveis e imagéticos canaliza formas cada vez mais intensas na possibilidade de preenchimentos. Por que o "eu" é mais do que penso que ainda não sou, por que indecisão não é mais limite, por que tudo era há alguns segundos.

E, antes que a promessa de estar se alie às incoerências dos passos dos segundos, da invasão do limite na delicadeza, que a agonia transborde a incoerência do ser/estar, o lilás ainda esteja na sandália, o cinza para estas letras di-gi e tais "e o céu de um azul celeste celestial"*

para Vânia Medeiros

* Trechos da música Trem das Cores de Caetano Veloso
** Trecho da música Esquadros de Adriana Calcanhotto

17 de agosto de 2007

próximo passo...

Aquelas espumas brancas, quase silhuetas no abstrato, revigoram o olhar. Na desatenção percebida, no acúmulo do tato, na onipresença da solidão, no caminhar estático. Como se antemãodos números ambiciosos das pacas dos carros retornassem importantes fotografias do absurdo [naquele instante]. [No agora]. Preferindo, de certo, a incerteza do tempo contínuo. Para a liquidez das certezas. Para a natureza do que se chama "coisas". E, assim como tarde fosse o amanhã, embora o espaço tenha mais sentido na narrativa, cresce a ausência da concretude. Como se a rigidez e a inoperância estivesse esmigalhada e não pudesse mais fazer parte do espírito / cotidiano.

"Será que já não vi
De modo impessoal E em tempo diferente Um dia estranhamente igual Dias iguais - Avareza de Deus Passando indiferentes Por estranhos olhos meus"*

Na sensatez atroz, desconhece imagens no espelho, chuva que molha a meia dentro do sapato, encontrar dinheiro esquecido no bolso da bermuda que não se usa mais. Quem sabe o vazio se aprofunde, quem sabe a liberdade seja o in. "Angustia de quem vive... Fim de quem ama"**. Obstante o aparecimento da lua no céu, migra-se paciência outrora confessado para um reino fantástico pintado em seus muros de vermelho-barro. Com a mesma assiduidade de piscar os olhos e para expandir-se em imagens (cons)cientes. Qualquer forma de exibição. Qualquer amor.

"Blackbird singing in the dead of the night
Take these sunken eyes and learn to see
All your life
You were only waiting for this moment to be free"***.

Dar passos, então, se propõe agora a significar continuidade, menos inquisitória que qualquer carinho. Colorido feito as estrelas distantes. Enfretando retas no chão, colhendo folhas secas. Perpetuando normalidades de tal modo que não se enxergasse o outro lado da janela transparente. E chove lá fora!

Ilustração - Igor Souza

* Trecho da música Outra Noite de Chico Buarque
** Trecho de Soneto da Fidelidade de Vinícius de Moraes
*** Trecho da música Blackbird dos Beatles

8 de julho de 2007

O tempo de ontem II [Ou à meu gosto!]


E quando da perspectiva de outro caminho, as possibilidades eram a principal meta de um destino que se traça no diálogo. O que motiva o girar do tempo? O andar? Mais tarde suspiros, carinho despercebidos. Vontades inconfessadas, abstração de vontades e contação de histórias. Mais feliz do que o "era uma vez" ou até mesmo de algo comum de páginas velhas.

O clima não apaziguava o momento. Histeria é combinação de emoção e expectativas. Quase que em uma equação perfeita, ou tal solene! Sobretudo no ato de encaixar sensações e apaziguar pensamentos.

Ainda tinha barulho. Toques repetidos que não se esvaia, que não se imperava... que não! E até a negação é um ponto de vontade confessa, parte daquilo que talvez o impulsione: desejo. D-es-ejo! Marcado pelos passos anacrônicos, já que não tinha luz. Da voz soturna, já que alí o som é estrondante. Parte de mim, ao sentar é solidão. Mas, como Deus, desejo.

"
Dois passos se cruzam
e se põem a ter
o ritmo ainda embala
a outros apenas, a eles não mais
tocam outra trilha
deixam se levar
para onde ir (?)
que saber, não importa
outros desejos se saciam
é o fim da trilha,
recortes abertos, lembranças, vontades
cominho percorrido,
incerto(?) talvez..."*

Quebra-se mais um pacto. E tudo é tão sinceramente falso... abstrato na sua incoerência e hipotético na possibilidade da concretude. No matar Deus kantiano, no cruzar os braços do menino (des)iludido por não ter prazer por mais tempo. E não se creia mais no outro, creia-se na visão que se tem de si mesmo quando ao fechar os olhos perdendo "iluminidades".

Manter sons, manter. E mais que isso, não lamentar nada. Sem tantas perspectivas, ou melhor, EXPECTATIVAS. Inconformações! De repente, soluções baseadas nos principios de outros modos de sentir. Relacionar as estrelas, tais constelações, a sua personalidade simbólica. Assim, simbólica.

Lembra de tais momentos? Sentimentos. Alheios e pecados!

"
Quando a gente tá contente
Gente é gente
(Gato é gato)
Barata pode ser um barato total
Tudo que você disser
Deve fazer bem
Nada que você comer
Deve fazer mal
Quando a gente tá contente
Nem pensar que está contente
Nem pensar que está contente
A gente quer
Nem pensar a gente quer
A gente quer, a gente quer
A gente quer é viver"**

Com os olhos pequenos, todos, clareavam os passos. Deitavam no colo. Contavam-lhes segredos inocentes. Com a voz doce, calma, outros signos lhe completavam e ainda estariam juntos. Pecadores sem rumo. A coragem deles!

E diria mais, mas não se encaixa nessas linhas tortas. Que venha a chuva!


Ilustração :: João Milet Meirelles

à Digo - pela inspiração

*
Trecho do texto Sabor da noite (ou Ode ao pecado) de Digo Araponga
** Trecho da música Barato Total De Gilberto Gil

2 de julho de 2007

Ao delinear a energia [ou ele está vermelho!]

Estava ao presságio garantido da reflexão. Estava em movimento mais interno do que o próprio corpo poderia sentir. E estava. Sem saídas proeminentes e sem nenhum outro convite disponível. Algemando processos desenfreados, arrumando o pensamento desafiador que se fazia refletido com se tal propagação da eletricidade do sentir, aliado a convicções imateriais, mensurasse as possibilidades de movimento. Calma! Nem era tão nebuloso o próximo caminho, tanto quanto não era significativo a paisagem mental de ruínas na posição em romance.

Tudo em off. Tinha muito som por alí. E, além do barulho, expectativa para um convite. Seja ele toque superficial para ampliar sensações de prazer ou um convite para dançar! Sem garantia nenhuma de que a tal esperança por objetos de desejo fosse cumprir cerimônias compensadoras de aliar vontade de outro com vontade de si mesmo!

Nem mesmo as cores moviam, nem mesmo as cores e suas perspectivas diferentes. Nem mesmo as cores, nem elas tão vibrantes premiavam a arquitetura dos símbolos necessários para o convívio com o espaço. Sim, nem mesmo as cores que são tão gentis ao olhar, tão irremediáveis. Nem mesmo as cores foram suficientes. Mas elas dão os tons até mesmo na imaginação. O enigma estava com ele, então.

"Ver que tudo pode retroceder
Que aquele velho pode ser eu
No fundo da alma há solidão
E um frio que suplica um aconchego"*

De certo, naquele espaço apregoado de emoções, desistiu da energia do movimento estável no caminho puro da sentimentalidade. Máxima proteção possível, destino de areia e rochas. Canalizaria a energia das emoções para sentimentos alheios à criação estética.

O fato é que, ao invés de toques e carícias corpóreas limitaria-se a impungentes construções frasais para construção de novos e coerentes símbolos que diria na bem verdade de si para o outro espaço externo, em movimento! O encostar lábios, abraços apertados, se substituiria pela facilidade em arquitetar novas idéias, criatividades pungentes, variações na imaginação, acertos na mistura dos sentidos para proposição de outros. Belezas em palavras e suas conexões.

Andar pelo centro da cidade de mãos dadas ou caminhar sereno pelas areias da praia quando pôr-do-sol não importaria mais. Agora teria a imortalidade do espírito na pluralidade de letras, na sinuosidade das idéias, na madrigal liberdade de aprofundar identidades, de marcar novos ambientes e sinergias. Re-ligare e plugar destinos. Feliz assim (?!)

"Quero escrever noções sem o uso abusivo da palavra.
Só me resta ficar nua: nada tenho mais a perder"**

Fica claro que não é inexistente a ilusão homérica de que não se chove mais pelas ruas do coração. E de que ainda terão mais alguns dias de tormento sentido pela falta. Porém, todavia, não espera mais do amor como antes.

Termina de escrever sonhando com beijo.

Ilustração: Vânia Medeiros

* Trecho da música Vermelho de Vanessa da Mata
* Trecho do texto Quero escrever o borrão vermelho de sangue de Clarice Lispector

19 de junho de 2007

sinceridade


Passo primeiro - Não há limitações indisponíveis para o acrescimo de liberdade. Há sinuosidades por esse caminho. Que seja! Da parte do ineditismo, fica a ansiedade de que o novo não é mais original. O próximo passo é ficar na elucubração de outros movimentos que façam rodar o tempo. Desequilibrar a ordem do que se chama espaço para atrair a atenção do olhar. Sem definições. Puramente a morosidade assistida. Ela não sabe dele que não consegue ouvir o outro. Desistir total da tal quadrilha*. Amanhecer com fones (ou fomes - com ela me inspira) nos ouvidos, escutando o relógio.

Disse que não lembrava mais do sonho, estava enrolado em lençóis. Estampados. Mais de um. E não tinha que fazer sentido mesmo. Era pra fazer sensibilidades.



"
Pense que eu sou um caboclo tolo boboca
Um tipo de mico cabeça-oca
Raquítico típico jeca-tatu
Um mero número zero um zé à esquerda
Pateta patético lesma lerda
Autômato pato panaca jacu

Penso dispenso a mula da sua ótica
Ora vá me lamber tradução inter-semiótica"**

HELP moço Camelo!

Disseram por aí que se faz necessário nesse mundo uma tal de pró-atividade! Ignorantes ainda acreditam na beleza das relações... do lugar priviliegiado que se deve ter o sonho. Pode-se dizer novamente, ignorante, sem tal pensamento estratégico para metas de projetos de vida.
Algo como psicologês para dar justificativas. As criatividades estão lançadas para absorver outras proporções imagéticas. Misticar habilidades de encher e povoar os lugares de pétalas, ou talvez aromas... e o"eu" aqui ignorante tenho até sorriso no rosto

"Now were Falling into the night
Um bom encontro é de dois"***

Então, o amor faz parte da saída! liberdade(?!)
e continua...

Ilustração :: Vânia Medeiros

* Título do poema de Carlos Drummond de Andrade
** Trecho da música Esteticar de Tom Zé
*** Trecho da Música Boa Sorte/Good Luck de Vanessa da Mata

23 de maio de 2007

Homens em um fabuloso destino


Em olhares, são certeiros... movimentam-se como se por andar em ambientes de delicadeza firme ou sensibilidade certeira. Alimentam destinos não-traçados e não se eximem do desejo de liberdade. Há um acesso de carinho, há um ninho de verdade que é ainda mais bonito quando vem acompanhado dos seus mais belos sorrisos. Amor... eles acreditam nisso! e eu acredito neles!

"Olha mais pra mim
Dentro de meu sentimento e tudo de mim Seja meu lar, uma canção, um carinho Uma frase de paz Te acorda! É a dança, o momento, a roda que vai"*

  • De repente, assim num toque. Um olhar delicado, um toque delicado. Um bom perfume. Ele é do branco, tipo do ar de compatibilidade e clareza de caminhos. Ele ama e de forma tão profunda quanto é o próprio desafio de ser. Ensina a olhar de verdade, duvida do se questionar e se impõe. Ele é beleza no caminhar... Quando de suas fraquezas, não se limita, nem se inibe. Maior do que qualquer sensação de invisibilidade. É próximo. E, talvez, seja o próprio desafio de ser o que o faz amor!
  • Passa diante de um caminho tranqüilo e no fundo tem uma imensa vontade de estar no turbilhão. Emoção... se o que te move é a liberdade, então te jogas na fissura de um furacão de desejos. É uma criança de aprender, é um carinho e é de verdade! Laranja, pressupõe energia e simpatia no seu estar e faz os outros serem felizes sempre. Com o outro... caminha por caminhos de vontade e dúvidas. Ama fazendo-nos rir. Bingo! Encontrou a fórmula mágica do convívio e oscila entre as forças da fragilidade e da fraternidade.
  • Carregou-me no colo de poesias. Uma vez que não se limita, vai se expandindo na dimensão que o próprio universo é o maior paradigma. Tanto que parece estar escrito nas estrelas que um dia o pensamento dele se torna sonho e utopia – horizonte que costuma ser motivo de caminhadas. De sua confusão traz surpresas tais quais rosas e poesias. Ou uma música de Cazuza, ou um poema de Vinícius. Imprime carinho de forma doce. Vermelho! Ele é o observatório de detalhes e nariz de palhaço numa noite de sonhos. E, para deixar-me feliz, me deu poesias de colo.
  • Ele é particular. Suas máscaras são sinceras. Marca o espaço por onde anda como talvez as borboletas nunca consiga em seus vôos. Energia e liberdade são tão fundamentais como o ouvir e o falar. O diálogo. Atenção. Firmeza. Vontade. Inteireza. Azul. Uma conversa de olhos é clara, apertos fraternos de mão. Aumenta a vontade de outros cenários nessa cidade, desejo de diversão. Volume de som, mais cores, mesa de bar... amizade!

"A primeira noite que te viu entoar uma emoção Tanto calor em teu rosto Como em toda visão É o mundo, é a senha pra que eu te sentisse ali Força de um leão Venha de lá"*

  • Ele sempre me espera pra abraço
    com carinho sensível de irmão
    parece que o destino é um laço
    para ele que é flor e gratidão
    guerreiro na vontade de andar
    escolhas com leveza e esperar
    grande homem, com belo coração


    marrom da cor do velho
    viaja por suas próprias emoções
    peleja com esmero
    poesias com rimas de paixões
    caminha com fantasia
    por sua BELA compania
    aliando flores com razão


  • Corre. Se movimenta paciente e decidido pelas ruas, avenidas e largos da cidade. Direito, social e político. No fundo prefere a praça e a boemia das músicas de pandeiros e violão. Brilho do olhar é gracioso. Movimenta o corpo paciente e decidido, porém agora baila em espaços de sonhos, imaginações de artista. Toca pra ela cantar, coleciona idéias. Vivacidade se parece com seu caminho. É cinza o menino robusto, bonito de olhar de paz confortante. Mais adiante, de passos de simplicidade... amor, ele é amor!

  • Ele é sensibilidade. Afetividade em pessoa. Com personalidade e coragem parece ter a concreta sensação de que a vida não pode ser apenas costura de fatos. Acredita no amor e vê imagens claramente imóveis e ao mesmo tempo dinâmicas no seu cotidiano. Os sons completam sua amorosidade e não é mais nada a não ser a vontade de que a vida seja paz e costura de bons sentimentos juntos. Uma cena que pode ser paradigma ou seu espelho é o abraço. Amarelo! É a energia vibrante do companheirismo... e continua...

  • Na mais concreta das possibilidades ele surpreende a percepção do ser. Monumento que acolhe a paciência e a sensível atitude aparente. Timidez pode até ser arma, mas é o olhar o que realmente atribui a sua maior sedução. Conquista colo, carinho, afago. Verde de suas andanças, das suas estampas, dos gestos sinceros. Espera até um pouco mais tarde para o diálogo curto, um pouco de carinho, palavras de afeto e por fim, mil beijos. Sempre!


"Venha de lá
Anjo Suave, sem esperar
Grita que quer viver

Olha bem para mim..."*

  • Ele faz sonos. Assim como quem mergulha prudente por imaginações criativas, simbólicas. Como se a felicidade estive a passos à frente, encorpada em tons e notas musicais. Tudo enfileirado em escolhas organizadas e sensíveis na partitura do caminho que trilha. Ele faz imagens. Como se tivesse colocados sonhos em papéis, em telas de computador. Mágico, enfeitando o mundo com luzes de feições de sonhos! Ele, rosa, assimila o estar e captura em olhos... Ele é imagem e som!

  • Prefere sempre aceitar o que seu coração lhe diz. Dourado. Cor de sol, de praia no pôr-do-sol. Maresia. Mistério. Sorriso de expressão calma, música de Marcelo Camelo. Sou um pouco dele, paciente, criterioso e sensível. Ensina a se aceitar, se entrega com força e volta para dar o abraço que faltou. Sua principal militância é por aceitar a viver em paz e, assim, inteligente que é, adquire mais e mais formas com o tempo. Bonito... sorri e abraça!

  • Caetano estava certo. Existe um leãozinho nesse mundo que molha sua juba no mar displicentemente e pede colo como quem pede por viver m paz. Anda, caminha, distraidamente para o lugar que continua a escolher. Dispõe de vontades e saudades mobilizadoras. Mergulha paciente em águas de simplicidade... no fundo sua imaginação é que lhe move! E, por sorte ou alicerces da vida, ele faz cinema...

Esses moços... são esses meninos... de fabulosos destinos, de amores e amores! e ainda tem outros...

Ilustração: Vânia Medeiros

* Trechos da música Dança dos Meninos de Milton Nascimento

3 de maio de 2007

um amor a dois... em palavras!


Parado envolto a lençóis brancos, nunca tinha se olhado com aquele sorriso no rosto. Abriu o olho devagar, sentiu o odor que pairava no ar e tinha acabado de acreditar que a felicidade ainda estava a flutuar por aquela atmosfera ser arrependimentos, sem crimes, sem perdões. Ainda não conseguia ver o espaço totalmente, já que o sorrir lhe impedia de enxergar perfeitamente tudo. Extasiado, sentia cansaço gostoso no corpo com marcas de momentos anteriores que ainda lhe tomam todos os pensamentos. Cheira devagar as cobertas enroladas naquela cama. Abre os braços como se pudesse ainda apalpar a sensação que estava sentindo então. Quando cai na tentação de duvidar das suas emoções, respira profundamente e olha pra frente. Perto da porta, alguém simplesmente o observa como se o olhar pudesse dizer que nada era imaginação. "Bom dia!" dizia aquele olhar e estava satisfeito.

"Foi numa noite, igual a esta
Que tu me deste o teu coração
(...)
E no terreiro
O teu olhar, que incendiou
Meu coração".*

Seus olhos parecem pedir carinho, atendido com gosto. Parece que dançam de rosto colado, sem nunca deixarem de se tocar. Parece que a lierdade é aquele quarto e todas as possibilidades são abertura de póros e sensação de prazer intenso. A limitação era o azul claro que o céu refletia. Aquele instante era do toque. Do sentir a pele massagear o ego. Alimento para a sensação de inteireza e do olhar a beleza do estar. Como se tudo fosse um camplo florido e calmo.

Nada era tão bonito do que o trivial. Duas xícaras estavam na pia, dois talheres ainda sobre a mesa, dois chinelos perto do sofá, duas escovas de dente no banheiro, dois olhares de desejo, 4 mãos a tocar os corpos. Tinha-se plena certeza de que o prazer esta intrínseco ao caminhar a dois!

"Eu vi quando você me viu
Seus olhos buscaram nos meus
O mesmo pecado febril
Eu vi... pois é, eu reparei
Você me tirou todo o ar
Pra que eu pudesse respirar
Eu sei que ninguém percebeu
Foi só você e eu

Foi só por um segundo
Todo o tempo do mundo
E o mundo todo se perdeu"**

Sucumbia a qualquer pedido expresso. Noites eram imagens reveladas em alta resolução com cores vibrantes. Passaram em revista o sentido de paixão e, embebecidos de incertezas, nem pareciam pensar nas dúvidas que os circundavam. Os únicos pensamentos estavam voltados para qual a cor da casa que iriam comprar, qual o melhor lugar para férias de amor ou por que o tempo não pode paralisar enquanto estão juntos.

Ele relaxou certo do afago. Enquanto ouvia coxixos no ouvido sentia com gosto uma barba que lhe roçava carinhosamente o pescoço. Depois do beijo, lembrou de agradecer mais cuidadosamente por ser público-alvo da identidade visual do outro.

"Não dá pra esconder
Nem quero pensar se é certo querer
O que vou lhe dizer
Um beijo seu
E eu vou só pensar em você"***

No contato com a vicissitude que acomete as palavras pensara sozinho se "havia belezza alí ou era criatividade minha"**** ainda sonha e continua ...

Ilustração: Vânia Medeiros

* Trechos da música Olha pro céu de Luiz Gonzaga e José Fernandes (cantada por Ceumar)
** Trechos da música Cupido de Cláudio Lins (cantada por Maria Rita)
*** Trecho da música Pensar em Você de Chico César (cantada por Daniela Mercury)
**** Trecho da música de Liminha e Vanessa da Mata (cantada por Vanessa da Mata)

21 de abril de 2007

Lupa*


Relógio

Na parede do meu quarto tem um tempo que não para. Uma máquina que vive a girar, estática, num ritmo alucinantemente frenético. Ela nunca para. Na medida em que ela trabalha todas as outras coisas ao redor vão ganhando mais acúmulo de experiências. Por ela tudo envelhece. Essa máquina, presa na parede do meu quarto, quase sempre é imperceptível. Talvez pela minha recusa aos números. Se ao menos a contagem do tempo fosse em palavras... O fato é que quase nunca me dou conta de que seu trabalho revela a mutação constante dentro de mim, as transformações sensíveis que acontece em tudo a minha volta. Lança mão do profundo mistério do que há por vir embalados pelo som sorrateiro, sutil e repetitivo... Tic! Tac! Outros momentos! Tic! Tac! Outros aromas. Tic! Tac! Outra paisagem na janela. Tic! Tac! Outro eu. E, quando olho para o porta-retrato. Tic! Tac! Lembro docemente que o relógio – aquela maquininha do tempo presa em minha parede – simboliza a incessante e natural mobilidade das coisas, a qual ninguém ainda consegue fugir. Talvez pensaria sobre as incessantes incertezas que esse tal movimento da máquina queira me dizer, ou sobre a possibilidade de o tempo correr sem arestas por entre ponteiros dinâmicos. Até mesmo acharia que a máquina amedontra as pobres figuras fixadas em algum lugar da vida, algum momento de felicidade, algum paraíso. Mas, agora, percebi que o tempo está parado, sem puder continuar a passar. Então, me levanto, troco a pilha do relógio, e aí volto a pensar que na parede do meu quarto tem um tempo que não para.

Janela

De dentro para fora. É assim que consigo ver a janela. Se perceber melhor, daquele quadro estático, sai movimento. Tudo se esvai em pedacinhos de tempo. Então, a janela provoca sensações das mais misteriosas às mais libertadoras. Embebidas no prazer e mergulhadas nas possibilidades de imaginação. E tudo, assim, mais se parece espelho que projeta a ambiência e que grafa formas e cores nesse ritmo dinâmico. A minha janela é um cinema ao vivo, contando a narrativa do agora, sem limites para tais sonoridades, concretudes e abstrações. A encruzilhada do in / out com cortinas para o palco do puro cotidiano. A todo momento a cri’atividade congrega e universaliza, tal qual fosse a janela a ligação do eu com um mundo que passa por ela. Então, é cachorro, é carro, é nuvem, é gente, é tudo que cabe nesse espaço quadrado. Parece, às vezes, fonte inesgotável de frames perambulando na frente do olhar e se abrindo, em luz, para um lugar de dentro de si, um espaço sagrado. A conexão entre o sonho e a realidade. O esconderijo e a amplitude. O espasmo e a velocidade. De repente, encontros, saudades, vírgulas, solidão, tudo pode se intercambiar. Troca incessante de energia entre o que se propõe de dentro e o que é de fora por natureza. Mas, a janela continua lá, intacta, percebendo todos os sentidos, todas os momentos. Eu, daqui, fico parado apenas a contemplar. Afinal, transeunte ela não me espera e em frações de segundos modifica minha percepção do outro lado de lá. De fora pra dentro.

Ilustração: Vânia Medeiros

* Lupa é o nome da revista da FACOM/UFBA. Na próxima revista serão publicados esses dois textos na editoria Cubo Mágico. Como estará lá, vocês só poderão ver a partir de agosto, prazo de lançamento da Lupa 3.

4 de abril de 2007

Cara Estranho*


Andava com fones no ouvido. E isso já dizia muito, ainda que não se soubesse o que passava de sonoridades para seu ouvido. O que mais importava imponentemente era a irrelevância de todas as situações a volta. Não era limitação, era procura pelos olhares abstratos mesmo que rígidos. Querias ter uma maior liberdade, sem precisar de tristezas ou qualquer outra justificativa para isolar-se nos fones de ouvido que lhe acompanhava o caminhar.

"My tea's gone cold, I'm wondering why I got out of bed at all
the morning rain clouds up my window and I can't see at all
And even if I could it'd all be gray, but your picture on my wall
It reminds me that it's not so bad
It's not so bad"**

Tinha chão. Pedras, areia e muitos contextos por onde teria ainda que passar. E, claro, seu fone de ouvido. Ainda que de tão feliz cantasse chamando atenção dos transeuntes, pontuava sua liberdades acerca de demonstrações públicas de afeto.

Estivera pouco preocupado em continuar, mas existe de fato a interpretação real de o que se vê e o que não se possuia em imaginação. Construções acerca daquilo que se tem em memória é como um laço sensível entre o sonho e a perspectiva de um outro tempo presente. Por isso a música é essencial, para que o movimento seja compassado sem regras particulares, nem definições arquetípicas.

E, sem esperar por mais nada canta em voz alta:

"¿Quién me va a entregar sus emociones?
¿Quién me va a pedir que nunca le abandone?
¿Quién me tapará esta noche si hace frío?
¿Quién me va a curar el corazón partío?
¿Quién llenará de primaveras este enero,
y bajará la luna para que juguemos?
Dime, si tú te vas, dime cariño mío,
¿quién me va a curar el corazón partío?"***

Dançava, há poucos saltitando. Ridículo era não se entregar às faltas e, consequentemente, aos desejos. Dançava estranho e continuava a procurar a chuva pra acalantar o semi-árido constante do seu coração.

Ilustração: Vânia Medeiros

* Música de Marcelo Camelo
** Trecho da música Thank You de Dido Armstrong
*** Trecho da música Corazón Partío de Alejandro Sanz

25 de março de 2007

carta sobre o olhar em movimento!


Ele esteve a pensar sobre a coisa de se conviver com as paisagens todas que lhe circundam sempre. Ás vezes, essa própria relação entre o eu e o objeto que se põe em forma na visão parece tão inatingível quanto o enigmático entendimento do conceito de "real". Enquanto transitava pelo espaço urbano, todas as trivialidades despercebidas pelo olhar banal característico, o fizeram refletir acerca do condicionamento estético, uma tal padrão, que, em loucura do instinto coletivo, poderia ser o fado do indivíduo. "Desver" a complexidade das cores, da simbologia do conjunto de sentidos na junção das palavras em tais letreiros luminosos, dos códigos indecifráveis que se pretendem orientadores no rito da ambiência.

Notou que tudo ao olhar tem sua própria versão e até o seu próprio não-dizer e, naturalmente, consolida sub-versões tal limitadoras que parece não ter fim em seu próprio ciclo de conceitos. Ou de tal forma ilustrada que provocam a competência do universo da imaginação e, de certo, propõe sentidos inusitados ao longo do caminho. Assim, a era do maniqueísmo deveria estar difusa em alguma parte de um passado remoto.

Com o objetivo de ser mais objetivo, pensa que tais cruciais e reveladores objetos custavam admitir sua reconstituição. Não admitia a prisão no dinamismo, mesmo que parecesse incrédulo e desencorajado. O espaço transparente comum tal rei não se exime de transformações constantes, não se vê no estar do parecer ser e no tal sim do mesmo sim que encanta Caetano. modurado - circulo!

Assim, de leve, há uma verdadeira confusão entre o reflexo inseguro do espaço que se diz em movimento e se reflete no mais irritadiço repouso. SONO DAS PEDRAS. Parece que nem o calor pode fragmentar, ou apenas, dilatar seus mais sinceros sentimentos de mudança. Em partes desiguais... ele é outro a seguir....

  • Tinha a nítida possibilidade de entrar. Duas vias de acesso ao tal saguão principal. Dentro da possibilidade, a sugestão, ou seja, dúvida!
Ilustração: Vânia Medeiros

18 de março de 2007

Ao caminho... passos!


Primeiro, penso que não estou andando por aceitar as correntes de meus próprios passos. Me demiti da simbologia abstrata há algum tempo atrás, mesmo sem me perguntar muito o por quê disso tudo me fazer muito mal. Também não tenho medo das conseqüências de não saber de certo o que é real para muitos. Tenho adquirido saberes importantes no olhar e a coisa mais sincera que posso afirmar aqui agora é que a lição real do não-saber foge do estigma da humildade e passa ao sentimento pura da ignorância. Amistosamente, tenho reparado na ambição de minhas caminhadas por lugares estreitos. Faço silêncio quando necessário, não para escutar alguma voz que seja subliminar para as escolhas bem feitas. Não há mais ingenuidade na provisão infantil de qualquer sentimento de culpa que se possa ter a partir de agora. Mas fico quieto por que não tenho nada a dizer que vá servir para que eles andem com mais facilidade. Alimentando os egos (e subgêneros desse presente perfeito), a escrita não é por lição a outrem, mas para me dizer caminhando.

"A coisa é tão delicada que eu me espanto de que ela chegue a ser visível. E há coisas ainda tão mais delicadas que estas não são visíveis. Mas todas elas têm uma delicadeza equivalente ao que significa para o nosso corpo ter um rosto: a sensibilização do corpo que é um rosto humano. A coisa tem uma sensibilização dela própria como um rosto"*

Ao deixar-me submeter a todos os aspectos de tal egocentrismo.

Então... a gente caminhava indiferentemente aos acontecimentos que circundava os corpos. Uma situação tal inóspita, sem causa fundada, sem nenhum desespero. Estávamos tranqüilos nessa decisão. Particularmente não estava preso a vulnerabilidades e não que ao meu lado até o pensamento vivenciava ares de liberdades gigantescas.

Produzíamos até sensações esdrúxulas com a boca, sem precisar apelar para qualquer diálogo suprareal sobre a filosofia da intensidade de viver em tais insignificantes novos tempos. Seria de tal forma ridículo se não encarássemos a complexidade do fato no olhar do outro como ridicularidades substanciais. Seria até lírico imaginar que os desejos da língua, marca de um ousado limite (ou a ausência de), viriam de um vermelho latente característico do gosto comum pela película almodovariana. Então não é insensato a existência de similares sensações.

“A meia altura de uma árvore indeterminada, um pássaro invisível empenhava-se em que fosse breve o dia, explorando com uma nota prolongada a solidão circundante, mas recebia desta uma réplica tão unânime, um contragolpe tão reduplicado de silêncio e imobilidade que dir-se-ia que ele acabava de parar para sempre o instante que procurava fazer passar mais depressa.”**

Tinha-se um profundo enlace na gestão das sensibilidades. A distração era argumento sempre para a primazia da escolha pelo momento de preguiça sem tédio, muito menos culpa. Logo, não se pretende pedir perdão por não querer ser. Enquanto houver a possibilidade do caminho espontâneo haverá, de forma simples, a singela vibração transeunte do conduzir e do manter a necessidade da aliança - elo sensível.

Indiferente da abstração, viria a derrubar literalmente, todas os paradigmas do ser, sem conseguir estar aparentemente satisfeito com o que se estava sendo. Sentei-me em algum lugar (invisível), me deixando inesperadamente ouvir músicas de Chico (Buarque) como se entendesse da criação de realidades significativamente concretas. Tomei cerveja preta trivialmente sem sentir sinais de cansaço.

"Roda, toda gente roda
ao redor nesta praça
e formosa
(...)
no meio da tarde de um imenso jardim"***

Ainda se sonharia entre pinturas de Van Gogh e suas loucuras todas seriam sensações de leveza. A delicada ilusão de estar criando na imaginação. Cheirou uma flor só e ouviu a música ainda a tocar.

Ilustração: Vânia Medeiros

* Trecho do livro A Paixão Segundo G.H. de Clarice Lispector
** Trecho do livro No Caminho de Swann de Marcel Proust
*** Trecho da Música Domingo de Caetano Veloso