28 de abril de 2006

Há política no amor?


As tarifas dessas suas relações são devaneios qualquer. Nem pode-se sobreviver a esse exarcerbado clímax o tempo inteiro. O preço é muito alto. Tem que construir uma escada muito longa sem ao menos reconhecer a existências concretas dos degraus. A questão nem está sob o prisma do valer ou não a pena, mas as desventuras do destino sempre vai obrigar em intensidade uma insensata proteção simbólica. Você não tem o direito de exigir sensatez no que se escreve nem solidez nesses argumentos tolos. Nem sei se vale a pena aposta nessas angústias incomuns. A fala vira uma literatura impensada com erros gramaticais que nem sequer admitem uma cognição simbólica. Mas é de costume a invalidez e não se entende mais nada novamente. Nem é nehuma cobrança. Apenas uma infinitude simplista de um eu que não é em si por que é sem você. A loucura, o delírio, a indivisão de consensos, a falta de compartilhamento, a inacessibilidade dos pensamentos. Não há mais nada certeiro, as linguas não parecem mais serem visíveis. Não estão mais a querer se entrelaçar para dizer-se de si.

"tive um sonho com você, amor
numa noite sem igual
e me transformei num beija-flor
dentro de um roseiral
(...)
ao beijar a sua corola assim
deu-se a transformação
acordei do sonho, voltei a mim
e beijei sua mão"*

Existia, por sinal, uma procura inóspita e incessante. Você sempre leve estava ao movimento da ventania. Um silência sem respostas, nem questionamentos. Um não fazer ruído que parecia não ter nada de simbólico, mas era você alí sem dizer. O pior. Os olhos estavam a silenciar e assim não ia poder existir diálogo. Parecia dizer que não há algum indício de político no estar junto. Há um limite na disponibilidade. É que há uma notória necessidade da dedicação, do doar. Naga era tão pragmático para você e nem deve fazer parte do que se chama de realidade. Mas não deve contar a sua existência? Mesmo assim há que se desempenhar um papel importante - o estar com o outro. Nada de simplicidade, porém. Complexidades. Então a aproximação com o concreto. Parafraseando o poeta: O amor é feito de quatro mãos e da elevação dos pés.

"Há uma canção de amor deles que diz também monotonamente o lamento que faço meu: por que te amo se não respondes? envio mensageiros em vão; quando te cumprimento tu ocultas a face; por que te amo se nem ao menos me notas? (...) Já posso me preparar para o 'ele' ou 'ela'. O adaggio chegou ao fim. Então começo. Não minto. Minha verdade faísca como um pingente de lustre de cristal."**

Embora parecesse uma lamentação à sua frente nada mais era que um simples ato de subordinar minhas falseadas limitações. Nada de amrguras para se deleitar. A maior característica da ilusão é a incompreensão passiva do ritmo imposto. Nada de amorfismos nos sentimentos. Era pura necessidade de estar covarde e se sentir bem mesmo assim, antes de deixar-se levar. Mas estava tudo em ampliação. Tudo era alvo de solícitos espaços nevrálgicos. QUem estava lá era um você discretamente passível de outros desejos. Ainda assim nada de sair de um silêncio combinado com a ausência estável. Então nada de diálogos. Não era possível política, nem amor. Nenhum ato ríspido fez você sair do lugar, no entanto, você doou o conceito. E a leveza fez-se luz bem leve. Era luz que estava querendo dizer.

"É, meu bem,vamos passear.
Chega nega morena, vem
vamos passear
vamos passear, sim, vamos dar um passeio juntos
me dê a mão, vamos passear neste antigo documento:
um passeiozinho que é pertinho,
tá catá pé daqui, pé de lá, oh,
que cheiro bom de jardim!"***

O que não foi perceptível naquele instante era que você usava um nariz vermelho e isso já dizia muita coisa. Mas por que não entendia mesmo? Acho que o amor é feito mais do que entendimentos bobos. É a elevação dos pés.

Ilustração :: Vânia Medeiros

* Trecho da música O Beija-Flor de Gilberto Gil
** Trechos do livro Água Viva de Clarice Lispector
*** Trecho da música No Jardim da Política de Tom Zé

24 de abril de 2006

Santa Chuva*


Da perspectiva que tenho aqui, muita coisa se pode observar. Parado em frente ao portão do grande caminho, muitas coisas a se notar. Principalmente por que os sentimentos são mutantes. Pode-se ver diferente sempre. É que você estava diferente. Mais disposta a vivenciar todas as experiências de sensações a quais os momentos irão proporcionar. O clima ajuda. Um momento perfeitamente intimista, um calor que só saia dos poros em comum. E você ali, agora parado em frente a porta a cantar a poesia detalhista do cotidiano paradisíaco. Você estava alí no seio do ambiente sendo mais o território do que ele em si. Estava tudo preenchido nesse espaço. Era o que faltava naquela sala de estar, perto daqueles móveis de madeira, do violão encostado no sofá, até do reflexo no vidro de cor de gente. Eu apenas tive a oportunidade de te contemplar. E era evidente que você não era um só! ficou mais que claro que, de fato, tinha mais que dois olhos, mais que os dois braços. De certo encontrei vários naquele momento!

"Amar: Fechei os olhos para não te ver e a minha boca para não dizer... E dos meus olhos fechados desceram lágrimas que não enxuguei, e da minha boca fechada nasceram sussurros e palavras mudas que te dediquei.... O amor é quando a gente mora um no outro."**

Daí, você que são vocês, passaram de repente por aquela simples avenida de madeira. Era uma ponte para ser sincero. Eu os via tão vivos, quase uma ordem de sair da cadeira e admirar beleza. Naquele lugar de sentimentos, eram aqueles corpos, mentes e coração. Aquela ponte sempre dialética não os deixava transitar sem questionar os limites impostos. De quem é o momento de atravessar? quem está pronto? Mas não demora muito para que o desfile se desse de forma única. Agora vocês era simplesmente você que não exitava em passar. Objetivamente! E eu queria apenas estar alí. Aprendendo a estar e a passar quando da vontade acontecer. Depois de segundos de contemplação não demora para que se torne (tornem) qualquer sentimento de nos deixar parecidos, nos deixar sem palavras, nos deixar mais próximos. A subjetividade é leal a proposta do ritmo que se desencadeava. Era estar mais próximo do amor de dentro!

"
Pra se viver do amor
Há que esquecer o amor
Há que se amar
Sem amar
Sem prazer
E com despertador
- como um funcionário

Há que penar no amor
Pra se ganhar no amor
Há que apanhar
E sangrar
E suar
Como um trabalhador"***

Porque quando acontece de estar bem próximo a cova de seu rosto me indagam sobre o que cabe no seu sorriso. De gosto de limonada no verão litorano. A insustentável sensação da necessidade crucial de que um carinho podia saciar toda sede, toda fome, todo o desejo, toda dor. É que quando você passa, meu bem, a alegria toma conta da eneriga a se canalisar. Várias arquiteturas se formam. Por que são novos espaços e novos objetos dos sentidos. É que na sua humildade de rosa e cravo, o poder mesquinho é futilidade e todas as mazelas são dignas de não terem justificativas. O exemplo mais simples qu se pode dar é do acender a luz quando são seus passos pela calçada. De concentração da leveza e, assim, da naturalização do sentimento purificado.

" Quando o amor
Quando o amor tem mais perigo
Não é quando ele se arrisca
Nem é quando ele se ausenta
Nem quando eu me desespero
Quando o amor tem mais perigo
é quando ele é sincero"****

E, posso ser sincero, ainda bem que chove lá fora para que você não vá embora e fique mais tempo de alma colada em mim.

* Música de Marcelo Camelo
** Poesia de Mário Quintana
*** Trecho da música Viver do Amor de Chico Buarque de Hollanda
**** Trecho da música Amor Amor cantada por Maria Bethania

18 de abril de 2006

compromisso de conformações


Mastigou toda a sua coleção semântica. Não queria mais falar, imagine simbolizar suas pequenas e míseras tentativas de aventurar sentidos comuns. Não mais tinha o compromisso de lavar o céu, nem canalisar as sensações. Retraído, até se propôs a se revelar, mas continua muito difícil. Enconstou no frio alumínio como um travesseiro, deixou-se levar pelo simples balancear. Estava a chorar nesse momento. Não aguentou, como sempre o fez, estar só para derramar as estrelas no chão. Não podia opinar mais. Seria muito ridículo! Mas estava disposto a doar-se. Se precisas por lá estará com o mais sincero sentimento de doação. Esquece sempre que há limites. De certo as intencionalidades eram ambivalentes e, muitas vezes, acometida a violência da nostalgia. Nunca é interessante. Não o é, nem nunca pode ser. Deixai que se torne o céu nesse momento de ilusão e que caia meteoritos em forma de luz como matéria que se transforma em água e derrete-se ao chão perene. Estava convencido de que correspondências e viver de amor não é para todo mundo.

"Ô maravia ô maraviá
O amor dos outros chega e o meu não quer chegar
Quando ele aparecer meu coração vai parar
Ai ai ai ai .... vai parar
Ai ai ai ai .....vai parar
Eu inda vejo todo dia no riacho
Quando chega a boquinha da noite
Eu deito debaixo do umbuzeiro
Eu fecho os óio ele entonce me aparece
O meu corpo se estremece
Fica queimando que nem um braseiro..."*

Mas há grnades dúvidas se terá de fato um coração a parar. Parece que é mais interessante divagar sobre a possibilidade da felicidade sem vivenciar desejos expressos, carícias, o estar junto no meio da noite, o telefonema a esperar, o agradecer por existir, a dor do desejo, o realizar-se, o viajar ao dormir no colo. Talvez também o gosto de fruta madura, de manga amarela, de sorvete de côco ou mousse de maracujá. Mas não podia continuar leviano consigo e teria que transformar a virtude de ser passivo, o prazer da auto-tortura, e admitir que é possível a convivência com a falta de beleza. Não o é amor e, travaremos um pacto de sinceridade, não há possibilidade de conquistas. Mas, viver um grande amor é realmente necessário? Alguém é a favor de ditaduras de caminhos?

"Triste é viver na solidão
Na dor cruel de uma paixão
Triste é saber que ninguém pode viver de ilusão
Que nunca vai ser, nunca vai dar
O sonhador tem que acordar"

Antes que o sol estrague comprou pastilhas refrecantes para tentar adoçar os sentimentos tão melancólicos. Na santa e honesta sinceridade, diz-se absoluto o silêncio de importância de qulaquer dia. Até por uqe o silêncio não diz. Nesse caso é vazio. Só há possibilidades de questionar quem pode completar as lacunas do coração. É um ser normal? talvez a diferença sobre os outros é que todos eles são perfeitos e ele? De repente quer que a vida passe e pense. Acorda e acende luzes que o sol não consegue alcançar. E nada de anjos, pois todos são apenas vulnerabilidades hoje. Agora chove lá fora, agora chove nele, agora ele é chuva escorrendo!

" Não, solidão, hoje não, quero me retocar
Nesse salão de tristeza onde as outras penteiam mágoas
Deixo que as águas invadam meu rosto
Gosto de me ver chorar
Finjo que estão me vendo
Eu preciso me mostrar" ***

Ilustração :: Vânia Medeiros

* Música Maravia composta por Dilú Melo e Jairo José
** Trecho da música Triste de A. C. Jobim
*** Trecho da música A Mais Bonita de Chico Buarque

No instante das cores em fuga


E os momentos da realização não estão em simetria. Não se pensa em luxurias. Tão somente em qualquer outro pecado. A sorte é que lançou mão da desordem para continuar em dúvida. Nem se ria dos anti-movimentos que tentava realizar, estava em dúvida agora e, pensativo, não conseguia se concentrar na contingência de aocntecimentos que não hesitavam e atravncar o seu caminho. Nem se percebia que não precisava sair do lugar pra ser transportado. Nem se abriu os olhos sequer. Eram pés separados, assim como os desejos. Só se poderia relacionar-se com vidros, não com o que se passava dentro dele. O sinal mais coerente de que não era muito sentido o conceito próprio. Sobrou para o velho vício de sonhar, era só o que se podia fazer. Agora nesse caminho fugidio, nada mais poderia ser feito. E, mesmo se pudesse, sobrou somente o velho vício de sonhar.

" Mais vale o meu pranto que esse canto em solidão.
Nessa espera o mundo gira em linhas tortas.
Abre essa janela
A primavera quer entrar
Pra fazer da nossa voz uma só nota.

Canto que é de canto que eu vou chegar.
Canto e toco um tanto que é pra te encantar.
Canto para mim qualquer coisa assim sobre você.
Que explique a minha paz. Tristeza nunca mais."*

Durante o caminho, agora a andar, a noite não deixa sombras. Pensou seriamente no momento do emancipar o limite. A grande questão estava no que de fato estará a se desenvolver com o objeto onde se aloja o sentimento. Por que é tão difícil o entendimento? Talvez por que se caracterize pela falta, pelo ócio. A chave caiu de sua mão. Nervoso, cata do chão escuro e abre a porta sem deslizes, sem outras recomendações. Estava a adentrar o visível. Estava a ponto de se descobrir ainda mais. Deixou de aliar-se a qualqer tipo de patrimônio. A vontade era, apesar de que o caminho o levara em outra direção, chegar ao amor. E o amor? Só se confere no estar junto.

" Poeminha de frio

Eu escrevo
Você passa a rua e não olha
Boceja na gravura
Me dá uma esmola
E diz para eu não sofrer
Mas eu não sei a altura desse amor
Amar é arriscado demais
Prefiro te ver"**

Mapas não existem para se chegar a um caminho redondo de verdades sempre provisórias. Nem mapa, nem muito menos bússolas. Pois as localizações agora são meros conselhos insensatos. A coisa mais importante de se ouvir nesse momento está na possilidade de convencer da simplicidade do encontro e de que mesmo na solidão estarão juntos. Ao andar tinha no chão pedrinhas de cheiro, daquelas que exalam esperança de possibilidade. A felicidade foi apenas se conectar para estar um pouco mais linkados, descrevendo-se em menores cartas, quase bilhetes de conversa. Tinha cedido tudo o que podia, tinha estado o tempo todo a tentar entender uma tela. Não dava mais para continuar. Foi ao descanso, para encontrar no outro dia mais pedrinhas de cores no chão, daquelas que brilham aos olhos cansados para derreter todas as certezas e fazer desaparecer por algum tempo as cicatrizes.


"Como é que a sua solidão se comporta? Ou, talvez, dando um giro na pergunta: Como você se comporta com a sua solidão? O que é que você está fazendo com a sua solidão? Quando você a lamenta, você está dizendo que gostaria de se livrar dela, que ela é um sofrimento, uma doença, uma inimiga... Aprenda isso: as coisas são os nomes que lhe damos. Se chamo minha solidão de inimiga, ela será minha inimiga. Mas será possível chamá-la de amiga? Drummond acha que sim:

'Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.!' "***

Há um ritmo compassado. De longe ouve-se o tra, o tra e o tra cada vez mais suave e, ao mesmo tempo, mais veloz. E o tra, e o tra, e o tra se transformava em um ritmo quase vital para o moço que caminha a escutar o som hermeticamente harmonioso. Ele já excitado balançava lentamente o corpo e o tra, e o tra, e o tra era particular e tinha várias formas. O moço estava a indagar-se sobre a ditadura que se implantara naquele momento sobre o seu corpo, já que ele não o comanda mais e quem o faz era o simples tra, e o tra e o tra. Só esmaeceu de tristeza por que o som deixou as cores fugirem. Ainda a espera voltar.

Foto :: Vânia Medeiros

* Trecho da música Casa pré fabricada de Marcelo Camelo
** Poema Poeminha de frio de Ismael teixeira (senhor borboleta)
*** Trecho do texto A Solidão amiga de Rubem Alves

16 de abril de 2006

"Além da vida ainda de manhã de um outro dia"*


Prisma diferente. A literatura dos poros alimentados pelo tempo chuvoso se arrasta multidões a fora a procura de sensibilidades que se escondem na mais completa obsessão dos sentimentos alheios. Ficou claro que são símbolos e que nada mais admite perspectiva falseada ou disforme. Não há mais parâmetros para se verificar resultados. Não há incrementos, nem remédios mais. O que há são linhas a se desenhar do traçado das mãos e dos olhos cansados que se despedem no andar ligeiro e rumo a um ponto conhecido. Aquele território, de certo, sombrio e vazio. Aquele lugar sem forma, sem acompanhamento. Enquanto eram os olhos que andavam, surgia luminosidades por trás das plantas que cercavam o movimento. Era muito mais que lamento, se você espera saber. Era vontade de chegar a esse tal lugar já conhecido pelo corpo e menos conhecido pelas carícias. Esperava modificar o ambiente. Encontrar alguém a espera no portão para que não fosse traumático pensar que nada seria diferente. Mas os passos continuavam firmes, os passos, não mais o olhar. Esse já tinha se dispersado pela luna guia da noite. Conotava sentimentos de liberdade, mas o que queria era uma prisão de carícias afetivas.

"E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e de acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me."**

É mais clarevidente a forma que se tem mediante as originalidades que são atraídas pelo homem fino de andar calado e que não presta muita atenção ao rebuscamento das luzes amarelas de mercúrio. Mas na noite só é isso que se tem pelo caminho. Mesmo assim não se é de prestar atenção nessas coisas fúteis. Ela não. Ela fica parada analisando a mensagem descritiva que pulsa nos canteiros de obra fictícios a essa hora da noite. Ela não finge mais estar em movimentos inalterados. Ela finge outras coisas agora. Aliás, elas. Por que são duas. Uma de carinho excessivo e a outra de rodopiar pelas frestas de desejo no chão de terra batida e no piso de madeira que lhe comove. Não há interconectividade entre eles. Afinal ela são duas e ele apenas um só a encurtar o caminho sem muito afago. Ela, moviemento e rodopio, joga o relógio no rio para que a água sirva de contagem do tempo. Ele não esquece o telefone que poderia ser transporte para o lugar secreto que ela está se guardando. O caminho é o limiar da presença. Limitante da forma de enxergar pelas beradas e adicionante no ritmo acelerado dos carros a transitar pela rua ainda sem cor. Canal fechado de discórdia. Há muita cumplicidade entre o homem e a mulher, que agora está dividida. Amálgama da dubiedade, mas esse nunca foi motivo para causar o discrédito. Foi motivo para ensaiar outros rumos. O descrédito vem com o romantismo, tão barroco no seu exacerbar. É um menino doce que fala de clichês e ele sempre está certo. Não há mais dúvidas de que, nesse caso, o amor nunca pode ser verdura. É salada de frutas.

"
(...) Teu sorriso quieto no meu canto

Ainda canto o ido o tido o dito
O dado o consumido
O consumado
Ato
Do amor morto motor da saudade

Diluído na grandicidade
Idade de pedra ainda
Canto quieto o que conheço
Quero o que não mereço
O começo
Quero canto de vinda
Divindade do duro totem futuro total
Tal qual quero canto
Por enquanto apenas mino o campo ver-te (...)"***

A plasticidade deles é palvra que insiste em projetar imagens disconexas. Eles são meio tortinhos sim, mas é que eles são belezas. Acessiveis imaginários estéticos. São mais que gruarda-chuva em tempo de inutilidade e frio. São Pararaios que atraem energia abundante em determinado espectro, em determinada frequência. Por que nada de matéria e partícula. Eles são é correntes. Por isso, deixaram há tempos de neutralidades vazias. O homem e a mulher, menina, que são duas, são tão macios quanto um sonho alimentado pelas artes. De infinitudes, há sim um prisma diferente. Ainda assim, são literaturas, não por caberem em palavras, mas por serem símbolos endógenos. Dessa forma, escreve-se imaginações.


Ilustração :: Arnaldo Antunes

* Trecho da música Se tudo pode acontecer de Arnaldo Antunes
** Poema O desejo de Hilda Hilst
*** Trecho da música Acrilírico de Caetano Veloso e Rogério Duprat

15 de abril de 2006

ilusionismo...


Eram 6h25 quando ele acordou. E tanta foi a sua surpresa que deu de cara com o samba que ela tinha escrito perto do sofá. Ela estava lá tocando no seu pandeiro improvisado. Ela estava com ele mesmo! De súbito ela levantou com sua saia rodada e simplesmente dançou tocando seu pandeiro feito de madeira e pregos ainda em acabamento. É que ela comôs um samba parecido com Noel e cantando com Nara Leão. Sua voz aguda estava perto dele, muito feliz por a ter alí por perto. É que significa muito ter alguém por perto nesse momento. E ela muito feliz por tocar e cantar o samba que ela mesmo compôs. Então era só felicidade. Ele tambpem levantou, aprendeu a letra, cantou e dançou, rodando até cair de tonto no sofá. Estranho, mas ele acordou novamente. Não tinha samba. Não tinha ela.

"Solidão é lava que cobre tudo
Amargura em minha boca
Sorri seus dentes de chumbo
Solidão palavra cavada no coração
Resignado e mudo
No compasso da desilusão
Desilusão, desilusão
Danço eu dança você
Na dança da solidão"*

Eram 6h25 quando ele acordou. E para sua surpresa ele tava alí, só fitando seu rosto o esperando acordar. Quando abriu os olhos um lindo sorriso se abriu com um sonoro e feliz desejo de bom dia. Ele sorriu de volta sem pestanejar, afinal o outro estava alí parado com um grande sorriso no rosto. Além do bom dia um abraço sentido com direito a carinho feito com as mãos nas costas. Antes de levantar os dois deitaram juntos e ele recebeu um lindo cafuné. Mais. Palavras de carinho, de compromisso em estar sempre por perto. Um súbito levantar e o outro foi fazer café. Ele foi no banheiro, lavou o rosto e ouviu o outro cantarolar Caetano na cozinha. Um cheiro de café foi aromatizando o ambiente. Pães quentinhos, menteiga derretida. Eles foram para a sala, sentaram perto do sofá, olhou um para o outro e sorriu, como se estivesse no mais sublime momento de satisfação de desejos mútuo. Estranho, mas ele acordou novamente. Não tinha café, não tinha beijo carinhoso, não tinha ele.

"Meu coração não se cansa
De ter esperança
De um dia ser tudo o que quer
Mão coração de criança
Não é só a lembrança
De um vulto feliz de mulher
Que passou por meus sonhos
Sem dizer adeus
E fez dos olhos meus
Um chorar mais sem fim
Meu coração vagabuno
Quer guardar o mundo
Em mim"**

Já são 8h45 e ele não sai da ilusão de não estar só. Como se a felicidade se compusesse de não ter a casa vazia, de ouvir sua voz, de ter abraços infinitos no qual se deslocaria para um outro espaço-tempo significativo. Ele preferiu ficara sozinho, lembra? Foi sua própria idéia. Daqui há instantes tudo muda, pois há rádio e microfones. Sua voz tem outra dimensão. Não preenche, mas faz do tempo um excesso de velocidade. Ele vai fazer samba e tomar um café sozinho.

" Não me deixe só
Que o meu destino é raro
Eu não preciso que seja caro
Quero gosto sincero de amor

Fique mais
Que eu gostei de ter você
Não vou mais querer ninguém
Agora que sei quem me faz bem"***

Não, ele não vai deixar-se só. Bem como o é em pedido!


Ilustração :: Vânia Medeiros

* Trecho da música Dança da Solidão de Paulinho da Viola
** Música Coração Vagabundo de Caetano Veloso
*** Trechos da música Não me deixe só de Vanessa da Mata

13 de abril de 2006

A partir de 20 de Maio de 2003 - 21ª Semana


Completo caos. Cardumes de tubarões incessantemente progredindo no objetivo de seguir homens em fuga. O capitão que deu a ordem se esconde atrás dos mastros que suspendem as velas. É vapor, é gota, é água, é lagoa, é riacho, é ribeirão, é rio, é mar, é oceano e imensidão.

- Não, não! não tem portas!

- Mas as janelas se abrem, meu bem. Se você estira seu braço e o ônibus que passa por meus líquidos pára, você entra e nos leva juntos no mesmo sentido.

Há algum espaço que me distancia, não nos conhecemos. Eu olho para trás e te vejo como se realizasse os meus desejos mais profundos. Claro que os círculos dos espaços se adaptam ao sistema e continuam em um mesmo processo giratório.

Olha para frente agora:

- O que vejo? meu ponto. Solto, nunca mais nos veremos. Fecho o livro e você some.


"Tenho o que dizer, pois vou dizer-me a mim mesmo, como qualquer pessoa diante a memória ou do espelho (...) Eu. Convergência esamagadora. Os espelhos reluzem insuportáveis. Gelados. Olho mais do que olho. Olho no olho. Fundamento (...) Não posso andar, os pés roídos de ratos. De noite eles vêm. Ratos reais. Roendo meus pés. Roendo meu sexo (...) mas Algo se promete do cheiro de fruta madura que o vento traz (...) Na solidez da minha solidão, penso as mãos delgadas e enxutas, deslizando na minha pele macia" *


Não entendo como funciona a dialética dos sentimentos inacessíveis, agora prego facilmente o desespero de demonstrar os alicerces da icógnita que sou eu. Claro que é suposto o absurdo do ser sem nexo. Na auto análise diária percebo que estou perdendo a vontade de dizer. A virtude em conceito é "antiquária". É sensível e morre de angústia. O som na imaginação é terra fértil, é mente sã e propósito de criatividade. Normal é que saibamos andar. Mas e se eu quiser correr?

- É inaceitável garoto, diz a sociedade amargurada por não ter força para sair do lugar.

Por qe eu discutiria o que é ou o que não é ético para essa sociedade? Riscos são variáveis, se a atuação decide assumir moralidades que não suportam o instinto natural, animal e feroz do ser tão humano. Porém sinto-me na obrigação de acordar algumas coisas comigo:

  • Bom parar de se enganar
  • Melhor não demonstrar sentimentos (?)


"A criação é permanente no seio do cérebro humano, o sonho é poieses, poesia no sentido original e profundo do termo, e, como o diz poeticamente Roger Bastide, 'se se continua a sonhar, é que a criação não se acabou' ".**


Qualquer que seja a veracidade da informação, desde já subvertida, é bom prejulgar arquiteturas cartomanciais de destinos desencontrados. Quero que os dias passem tão naturalemnte que sejem impossíveis de serem percebídos. Que a monotonia e a mesmice não retornem à inércia e não desafiem os espaços em branco que continuam assim ( )
Ante ontem
voou o gérmen
mais flexível
ontem ante
os espelhos irreflexíveis
ontem inté ante hoje
sacodem-se a visão dos dias


"Tenho andado distraído, impaciente e indeciso. E ainda estou confuso só que agora é diferente, estou tão tranquilo e tão contente. Quantas chances disperdicei quando o que eu mais queria era provar pra todo mundo que eu não precisava provar nada pra ninguém (...) Já não me preocupo se eu não sei porquê às vezes o que eu vejo quase ninguém vê. Eu sei que você sabe quease sem querer que eu vejo o mesmo que você"***


O importante é divulgar e otimizar o tempo, assim como argumentar o óbvio.



Ilustração :: Vânia Medeiros

* Trecho do livro Mulher no espelho de Helena Parente Cunha
** Trecho de Edgar Morin
*** Trecho da música Quase sem querer composta por Renato Russo

6 de abril de 2006

As mulheres em um fabuloso destino


Em coro são uníssonas. A mais sensata das flores é sem dúvida clarevidente, intacta e delicada. A fragilidade é comum, por isso é muito interessante enxergá-las com os olhos calejados de abstrações. Quando passam, pressionam contra o chão flores coloridas, as mesmas que derramam constante de seus corpos. De idéias porosas à realizações de desejos embrionários, elas são ideológicas desde o ventre. Tedem a inteligências prematuras, mas é um "adultismo" imperfeito, pois são tão meninas as mulheres do fabuloso destino.


"Olha as minhas meninas
As minhas meninas
Pra onde é que elas vão
Se já saem sozinhas
As notas da minha canção (...)"*


  • Frô é passarinho. É minha musa de beleza sensata. É verde. Simplesmente doce e aparentemente saudável. Frô segura a rosa que enfeita seu cabelo vermelho desfarçado de azul. Quando é confusão não deixa de ser beleza. A sensibilidade ela conquista no ar. Ela é passarinho, vôa.

  • Certamente ela se diferencia por ser leve. A maestria do seu movimento organiza determinados sentidos e tem, quase sempre, como consequência o sorriso. Ela é sensibilidade e ativismo. Pintura em movimento, fotografia em mobilidade. Ela é laranja e, sempre energia, não se esquece de correr em mim.

  • Ao canalizar a sensibilidade para um bom gosto, descobre que não é solidão em si. São ambiguidades. As cores do sapato de chita, o carinho espontâneo e a coleção de sorrisos compões seu universo de beleza, de franqueza e de dúvida. Realiza os mais profundos desejos a partir da compreensão dessa dúvida e da atenção pelos homens e pelas mulheres. Se desgruda de sua pele com intensidade e inteligência. Nessa hora ela é azul, mas foi ela quem me pintou colorido.

"(...) Vão as minhas meninas
Levando destinos
Tão iluminados de sim
Passam por mim
E embaraçam as linhas
Da minha mão (...)"*

  • Ela é vermelha por que é Iansã. Por que ela é só sensibilidade. Por que ela é só encontro, só desejo. ela em si é uma ciranda. Quando roda ela é criatividade sempre inteira. Ela é exata. Ela é uma canção. Na verdade é uma dança, um gingado. Ela é olhar e detalhe. Ela que se vale e se completa no menino que fica na praia. Ela é de lá, do mar. Ela roda, ela faz girar. Ela é menina e romântica, ela é vermelha.

  • Quando apareceu foi sorriso espontâneo. Foi uma voz doce, é uma voz doce, é um ser doce. Quando está aqui é um carrossel de brinquedo em movimento. É a todo momento, é um sentimento, é dona do vento. Quando não está em matéria, emociona de lembrança. É sempre bonança, é um mar de infância, é a semelhança. É amarela clara de verdade e discordância. É uma linda dança, olhar e esperança, é coração e lança, saudade de criança.

  • A parte mais interessante do amor é saber que ele é intenso. Ela é intensa. Ela é amor puro. Interessante é perceber que , de suas asas de fada, urgem interessantes vôos coletivos. Por enquanto ela é arte e, como se não bastasse, provoca sentimentos profundos de movimento. Ela é marrom - cor de barro molhado de chuva. Ela é beleza pura. Uma mistura singular de concretude e abstração. ele me diz que ela é fogo de artifício. E é só beleza quando ela explode em mim.

"(...) As meninas são minhas
Só minhas na minha ilusão
Na canção cristalina
Da mina da imaginação
Pode o tempo
Marcar seus caminhos
Nas faces
Com as linhas
Das noites de não
E a solidão
Maltratar as meninas
As minhas não (...)"*

  • Transversal, magistral, flor, suor, poesia, complexidade, música, água, paradeiro, singeleza, sorriso, compreensão, emoção, altitude, romance, nuance, transdisciplinaridade, mato, fortaleza, lealdade, verdade. Ela é violeta. Reciclagem, imagem, ótica, alteridade, fantasia, limite, pós-modernidade, cachinho, óculos, fotografia, luz, ilusão, sim, interpretação, equilíbrio, adição, maquiagem, cinema, paciência, liberdade e paixão. Ela é palavra?

  • Parafraseando Marisa (Monte) ela me deixou satisfeito. Ela me faz feliz. Isso se deve a sua inconfundível tranquilidade, sua absurda morosidade, sua simplicidade complexa. A sua roupa é uma composição mítica, revela tamanha delicadeza. De repente, surpresa: Ela não é mais a mesma. Sinto é pelo encantamento instantâneo. Sua paz em fúria revela um tom de branco. ela é boneca, quicá incompleta. Ela é linda.

  • De certo, tudo começa pela raiz. Pés plantados no chão, barro, memória. Quando se ergue é caule. A espinha ereta não está presa, basta ver sua dança, folhas vistosas bailado ao gosto do vento. Ela é cor de mel. Sim, ela é pura seiva, é samba de Noel, é amor de Chico. De repente uma luz brilahnte no céu. A grande flor desabrocha, tudo é muita energia nesse instante. É seu sorriso, é girassol.

"(...) As meninas são minhas
Só minhas
As minhas meninas
Do meu coração"*

(texto em homenagem a algumas das mulheres do fabuloso destino. Há outras...)

* Música As Minhas Meninas de Chico Buarque

5 de abril de 2006

dois ... são dois!


Eles estavam sentados. Um de frente para o outro. Assim, sentados, olhando para o outro. Um deles, apoiado sobre a mesa, alisava tranqüilamente o cotovelo. Na verdade estava com os nervos à flor da pele. Estava pensando que o rosto perfeito, a boca perfeita, o nariz bem feito, a cor da pele, atraia-o com paciência. Isso que era canção, pensou sem dizer uma palavra. Aliás, seu pensamento eram só palavras. Devagar, conseguiu balbuciar algo que fizesse com que o outro levante “vagarmente” o rosto com olhar cansado, mas sincero. Foi contemplação naquele momento, idealizações! Eram naquele momento protagonistas em um não-conto de fadas. Estavam sensíveis ao toque. Roubou-lhe sorriso, pensamentos equivocados, expressões de compreensão e paciência. Foi-se formado um pacto ao som suave do samba, que controlava o ritmo do pandeiro como se fosse a disritmia do coração. Havia uma grande possibilidade de complementação de si no outro. Quem estava de cabeça baixa na mesa e levantou o rosto de forma singela aproveitou o ensejo para dizer-lhe de forma delicada:

“Sou seu Colombo, seu coração
Sou seu canário, eu sou seu dragão
Sou seu São Jorge, seu mau freguês
Sou seu vampiro, seu amor cortês
Eu sou seu Hitler, seu Peter Pan
Seu João Batista, eu sou seu Tarzan
Sou seu palhaço, seu urubu
Seu cavalheiro, seu Danúbio Azul
Sou seu maestro, seu Frankeinstein
Sou seu boneco, eu sou seu nenem
Seu mascarado, sou seu Romeo
Seu labirinto, eu sou seu Teseu
Sou seu”*


Entregaram-se desde então. Aprenderam a se admirar pelo mínimo que os unia. Eram ricos dessas coisas de se acharem infantis. Passavam maior parte do tempo a brincar. Com as pernas, com o umbigo, de lavar pratos, de escolher o canal da televisão, de chegar a conclusão de qual música de Chico seriam a música deles. Ás vezes eles eram ridículos sim, mas eram crianças. Se entregaram de deitar no colo, de receber telefonemas no meio da tarde apenas de saudade. Para dançar bastava um disco de Ceumar tocando a mais bela das cirandas. Dançavam até a exaustão. Era um baile. Quando a exaustão chegava, os corpos suados estavam debruçados sobre o outro. Um cantarolava, em um microfone improvisado com as mãos, mais canções de paixão. Os olhos cansados adormeciam lentamente. Mas ele lembrou de uma coisa muito importante pra dizer enquanto voltava lentamente a dançar:


Sou sua luz
Sou sua cruz
Sou sua flor
Sou sua jura
Sou sua cura
Pro mal do amor
Sou sua meia
Sou sua sereia
Cheia de sol
Sou sua lua
Sua carne crua
Sobre o lençol
Sou sua Amélia
Sou sua Ofélia
Sou sua foz
Sou sua fonte
Sou sua ponte
pro além de nós
Sou sua chita
Sua criptonita
Sou sua Lois
Sou sua Jóia
Sou sua Nóia
Sua outra voz
Sou sua
Sou sua
Sou sua
Plenamente
Simplesmente”**


Então era margarida que coloria o cheiro que, agora, o ar desprendia. Um aroma excelente, sem preocupações maiores. Continuavam dançando. “Fechando e abrindo a noite inteira”***. Tinha alguma fome conveniente? Não havia resposta até o sol raiar. Maliciosos, carentes, afáveis. Beliscavam petiscos até o sol raiar. Um escutou baixinho no ouvido:

"Menino, amanhã de manhã
Quando acordar
Quero te dizer que a felicidade vai
desabar sobre os homens, vai
desabar sobre os homens, vai
desabar sobre os homens

(...)

Menino a felicidade
é cheia de an
é cheia de en
é cheia de in
é cheia de on

Menino a felicidade
é cheia de a
é cheia de e
é cheia de i
é cheia de o"****


lustração :: Vânia Medeiros

* Música Intimidade de Adriana Calcanhotto
** Música Sou sua de Adriana Calcanhotto
*** Trecho da música Preciso dizer que te amo de Dé, Bebel e Cazuza
**** Trechos adaptados da música
Menina, amanhã de manhã de Tom Zé