28 de agosto de 2006

Pré-fácil


Dois passos dados, dos dois idealismos baratos. Viva a sesação de fragilidade. O indeferido estar não mais se propõe a cristalizar-se, tampouco permanecer arbitrário. Nem se pretende anunciar a discórdia ideal entre a ciência de se sentir corpo e a liberdade de ser todas as partes do universo. Crescimento é simbologia de acrescentar substância à necessidade de subverter qualquer [noção de] lógica. Deu três passos acionando qualquer argumento saliente que se mostre condizente com as incertezas próximas. No entanto, bombons de chocolate são mais tentadores que a capacidade de continuar racionalizando os sentidos. Isso como se houvesse explicação óbvia para o anonimato de todas as causas dos atos. Ato, leia-se, agir, de fato!


Ilustração: Vânia Medeiros

24 de agosto de 2006

Fotografias da monotonia no amor!


Com nenhuma certeza e algumas decepções, andava na convicção de que o amor e as coisas do coração não são para todo mundo. Não tinha infelicidade, mas incompletude. Típica sensação de frustração que, entre tantos outros sentimentos, faz desmanchar líquidos por onde se consegue ver. Se diferia de poema, pois já não possuia caminho vindouro, também não encontrou pedras por aí. A beleza não tardava a se refeltir. Composição de quadros naturais, passeio por exposições em chão de madeira, fotografias do século passado, as pinturas dela no universo virtual, música de crianças negras, milhares de frames por horas de fábulas. Já tinha apreendido o catar as folhas secas deslumbrado com tantas outras que ainda hão de cair. ânimo novamente e paciência para construir o cotidiano - vontade de palhaço, porto verde. Sentava na cadeira de madeira no passeio nas águas vermelhas a observar os desenhos surreais pintados e autorizados nos muros que os cercam.

"(...) When I saw the break of the day I wished that I could fly away Instead of kneeling in the sand Catching teardrops in my hand My heart is drenched in wine But you'll be on my mind Forever (...) Something has to make you run I don't know why I didn't come I feel as empty as a drum I don't know why I didn't come"*

Depois de horas de rodar na cidade chega ao fim do dia subindo escadas rumo ao colorido lugar da imaginação empírica. Foi lá que voltou a estar insatisfeito com a monotonia romântica. Por que apareceu na janela um delineado rosto, um objeto para melhorar o olhar, encaracolados e grandes cabelos. Já partia para um outro espaço. Não se permitia, desencorajado - de fato - encabulado, manter o olhar para aquela face.

Submergia a um lugar pouco atingindo pelo ambiente. Ninguém ao redor consegue imaginar a amturação interna de suas angústias em relação ao que se via. Tudo se mistura: esperança, desejo e vontade de sair do lugar. O toque involuntário é inoportuno e insatisfatório. O que se prima de sensato até então é a propriedade imagética e intocável do sentimento.

Das necessidades todas, das recordações, um aroma aprofunda a magneticidade dos corpos e as palavras se quer merecem suas próprias limitações aqui. Essencial foi permanecer na imaturidade do intelecto e ir percebendo a taticidade que a ilusão pode criar. Como se uma grande estrela pudesse pousar como borboleta nas costas da inspiração.

Como tudo não passa de desejo em suas mais pura complexidade, a simplicidade deu lugar ao pensamento delicado. Um lugar arisco, onde o querer é não ter o poder que necessita. Então, volta-se para a arbitrariedadeda carência e se questiona acerca das condições para afetividades "atemporais". Tudo deve começar novamente, calejado de indefinições, arquitetura do pensamento questionador.

Ilustração :: Vânia Medeiros

*Trecho da música Don't Know Why de Jesse Harris (na voz de Norah Jones)


14 de agosto de 2006

Felicidade - imaginação delicada


Dos limites que se observa no território do símbolo, do que se vê é beleza. É, de fato, ponto pacífico a linha do horizonte no mar. Trasnpor!

O cuidado com a singeleza das pétalas permite transcender o duro e usar o sólido com a flexibilidade delicada. Dar passos em relação a sobriedade tangível. Enxergar reflexos irrisórios da mente como diálogo consigo mesmo. A vontade de se confessar é natural. Dos limites que já não são mais visíveis, porém paupáveis, tácitos. Um vislumbre do que se pode ser quando se nada em direção à linha que pode não existir.

A felicidade é conversar na varanda da casa de quem não conheço com alguém de sandália na mão e sorriso bonito. Dele que me olha fixamente, uma pré-ocupação: As verdes bolinhas de gude e o vermelho-barro do campo de futebol. E, claro, o grito de gol.

Os passos não são dados. Parece que de alguma forma o paralisar não tem proferido o devido incômodo. Liquefação do desejo de movimento. Este não se mistura mais nas mais tênues vesículas. Continuar na estaticidade?

A ingenuidade faz novamente construir sem nenhum nexo a presença da culpa. É insensatez diferente da amargura. O signo do tempo é a esperança. Joga-se as bolas de gude verde no campo de futebol vermelho-barro e, com a chuva que cai, se completam a constência dos ritmos comunicáveis. Tudo fica colorido e, agora, com cheiro de terra molhada.

Mas, o que dizem os ventos?

"A franja na encosta
Cor de laranja
Capim rosa chá
O mel desses olhos luz
Mel de cor ímpar
O ouro ainda não bem verde da serra
A prata do trem
A lua e a estrela
Anel de turquesa
Os átomos todos dançam
Madruga
Reluz neblina
Crianças cor de romã
Entram no vagão
O oliva da nuvem chumbo
Ficando
Pra trás da manhã
E a seda azul do papel
Que envolve a maçã
As casas tão verde e rosa
Que vão passando ao nos ver passar
Os dois lados da janela
E aquela num tom de azul
Quase inexistente, azul que não há
Azul que é pura memória de algum lugar"*

Lá, de longe, a partilha se conserva. A troca combina livre com a sensação de emancipação. Reconquistar o evoluto. Re-evoluir. Travar com exaspero a batalha da imaginação delicada com o pragmatismo concreto. Dos dois se faz a iluminação da estrada.

A essencial inutilidade é o limiar dessa inteireza. Olhar a cidade com "justeza". Ver o espelho com tranquilidade. Apenas caminhar. Das flores invasivas, dos cheiros desconcertantes.

" Para Adidas o Conga: Nacional
Para o outono a folha: Exclusão
Para embaixo da sombra: Guarda-Sol
Para todas as coisas: Dicionário
Para que fiquem prontas: Paciência
Para dormir a fronha: Madrigal
Para brincar na gangorra: Dois
Para fazer uma toca: Bobs
Para beber uma coca: Drops
Para ferver uma sopa: Graus
Para a luz lá na roça: 220 volts
Para vigias em ronda: Café
Para limpar a lousa: Apagador
Para o beijo da moça: Paladar
Para uma voz muito rouca: Hortelã
Para a cor roxa: Ataúde
Para a galocha: Verlon
Para ser moda: Melancia
Para abrir a rosa: Temporada
Para aumentar a vitrola: Sábado"**

Para extrair simbolicamente o ato de desestatizar, AMOR.

Ilustração: Vânia Medeiros

*Trecho da música Trem das Cores de Caetano Veloso
** Trecho da música Diariamente de Nando Reis {Na voz de Marisa Monte}

1 de agosto de 2006

Libertá

"no baú vai ser achado a sua estrela renascerá
a janela está aberta

a casa é sua, pode morar o que falta é alguém
falta alguém trazer prazer

durmo sempre no meu quarto sozinho
esperando você chegar
a janela esta aberta a casa é sua, pode morar

os dias vão me mostrando o que sei
e não quero acreditar
não tenho sentimentos nem hora
agora nada mais importa se nada me acalmar
nada mais vai importar"*





De um lugar seguro, de onde se pode ver o céu distante. Um azul distante. Os sentimentos se tornam capazes de ambientar espaços inacabados, como um coração traçado para estar vazio. A grande conclusão é de que não há possibilidades de verdades cabíveis no cotidiano e que até as não conquistas fazem parte do chamado "miud
inho do dia-a-dia". A sensibilidade, característica marcante nos insetos coloridos e nos órgãos reprodutores dos vegetais, acabam inspirando novas expectativas de amorosidades. Românticos, tem nessa esperança a fuga e, quase sempre, a interatividade com um tipo de realidade inventada.

Outra realidade, ainda mais ilusória que a posta.
Podem ver por essas palavras que uma crise se instaura na percepção sobre o jogo da necessidade pictórica do prazer e da necessidade de outrem. Uma crítica a tal regra personalizada nas convenções sociais e radicalizadas em artes. Um andar. Um olhar assíduo na desconstrução de prioridades.

Carnavalizar as sensações de acordo com o movimento cada vez mais pragmático. Do insípido colarinho fino rosa, da imagem encarnada na estampa de algodão, no gosto branco dos dentes no sorriso da moça que atravessa a rua nesse momento.
Nas ruas escaldantes de sol se escondem as inimagináveis construções simbólicas do relacionamento social! Amantes são realmente compreendidos e são lindos. Ah! eles são lindos!





"A sorrir
Eu pretendo levar a vida
Pois chorando
Eu vi a mocidade perdida
Finda a tempestade
O sol nascerá
Finda esta saudade"**






Vai ver o instrumento utilizado para descontrair seja inseguro o bastante para obter algum tipo de criatividade. O limite do trivial, do comum. A sensibilidade retratada é mais um estético arbítrio, liberdade de escolha. Para ser mais sincero destino existem e estão determinados. Ou ainda mais, as escolhas é que são destinos!

Falta simplesmente a irradiante possibilidade de conquistas. De certo falta beleza. De certo!




"Ah, se eu aguento ouvir
outro não, quem sabe um talvez
ou um sim
eu mereço enfim

é que eu já sei de cor
qual o quê dos quais
e poréns, dos afins, pense bem
ou não pense assim

eu zanguei numa cisma eu sei
tanta birra é pirraça e só
que essa teima era eu não vi
e hesitei, fiz o pior

do amor amuleto que eu fiz
deixei por aí
descuidei dele quase larguei
quis deixar cair

(...)

Que desfeita, intriga, o ó!
Um capricho essa rixa; e mal
do imbróglio que quiproquó
e disso,bem, fez-se esse nó

e desse engodo eu vi luzir
de longe o teu farol
minha ilha perdida aí
o meu pôr do sol"***


Ilustrações :: Arquivo internet - Iansã Negrão - Vânia Medeiros


* Letra da Música Baú da Banda Mombojó

** Trecho da letra da música O Sol Nascerá de Cartola (No pout pourri Dois na Bossa - Elis Regina e Jair Rodrigues)

*** Trechos da letra da música Paquetá da banda Los Hermanos