27 de julho de 2009

E se foi falar de amor


Roda uma roda por dia essa ilusão de não estar. Aquilo nada mais é do que a brincadeira divertida de se apropriar da inversão lógica das coisas. Eu que não quero ser aprendi a gostar de me deslocar no "não estou". E para os que tem dificuldade de enxergar, aposto que ainda falta simplicidade no olhar para o movimento. Passou e é simples. Fácil mesmo é se namorar de sensações intelectuais, mais fácil ainda é apostar no que se costumou chamar de intuição e eu não estou mais uma vez.

E enquanto corria a roda do desafio, um mínimo de pessoas que não se conhecem parecem estar na velocidade instável. Passam por ruas e avenidas, entram caladas nos pequenos elevadores, ensaiam pedidos de felicidade aos outros. Como se nos outros se completassem e não tivesse a certeza que ainda faltava alí algo mais do que se espera.

Na coletividade há liberdade. Uma delicadeza irrequieta que não saboreia desamores, uma parcial seleção de interesses comuns.

Como se bastasse a ilusão, os sinais vermelhos não costumam ser pontos de encontro e a beleza, essa que almeja outros ares sempre que começa a fazer sentido, maqueia a construção de pontes poéticas entre o um e outro. Como a solidão não requer resposta alguma, ficamos imaginando quais as dúvidas que nos guiará sozinhos*. E então nos damos conta de que o desejo é uma construção do que pra nós a ilusão faz sentido.

Ilustração: Ceci Larea (Casimira Parabólica)


*Parafraseando Fabrício Carpinejar quando o escritor diz: "Nem o amor platônico tem direito de ser preguiçoso. Não requer resposta, mas é necessário formular a pergunta".