22 de julho de 2008

.de quando senti minhas rasteiras nos meus pés.


.eu me violei novamente. passei a perna nos meus compromissos com meu destino. dei mais uma vez bola pra desejos e cai feito um patinho na seara da solidão. não que estar sozinho seja um fardo, mas isso já faz aniversário por aqui. eu me deparei com uma não vontade. um traço de insensibilidade com meus limites, uma infelicidade arregida pelos traços desconfortantes do espelho. entendo o motivo do não desejo, não aceito mais a ilusão como misericórdia. e me vi sem luz naquele lugar de ficção.

.criei anatomias diferenciadas pelo caminho. eram rastros de sensações como jumps, vazios, olvidar... um estranhamento inóspito. não quis mais o que eu era, mas como não tenho o que mudar, não quero mais esconder os limites. pronto, acabou o papo! e como as palavras também me traem, sei do meu boicote a mim e como sempre vou dormir sozinho, esperando que a noite não acabe ou que o dia não me venha com novos desejos, por favor.

.eu queria mesmo era colo, pra não precisar chorar sobre teclados, lençóis, nem rasgos profundos dentro de mim.

para Pablo Neruda com cópia à Carlos Castilho
do fotolog niltim: em palavras-cores

21 de julho de 2008

.e então eu te vi



.a pequena parte sua que eu consegui ver não é sorte, mas principio de liberdade. há um sentido mais leve o da vontade de estar, a proximidade da sensualidade e o limite do querer. nem um toque sutil, nem uma lembrança mais concreta, mas um desafio de ser/estar como viver/mover-se. e então eu te vi, enquanto tudo se movia. esquálido os espaços em volta, mas você e você não era sequer uma visão.

.daqui não tenho como te ver por inteiro e te procuro. me falou alguma coisa sobre criar vidas, pequenos enganos de identidade. eu esperava pelo esboçar contente de um amável toque qualquer e assim o tive. e então eu te vi, na sua serenidade peculiar, nos seus movimentos aspirantes, nesse rio vermelho e outros.


.estava ansioso. pensei em um cigarro, em tiradas cômicas, em lugares outros, em partidas de futebol, em artes cênicas. isso por que eu conseguia enxergar seu corpo a dançar continuadamente. e então eu te vi, mais nada. só o conseguia fazer, noite/dia, música/outra, paz/revolução, verde/vermelho, matos/fróes, sozinho/outro. eu queria me lembrar da canção agora e então te dedicaria trechos como este:

"...pois quando eu te vejo, eu desejo teu desejo.

Menino do rio,
calor que provoca arrepio, tome esta canção como um beijo."*

.eu prometi te encontrar de novo. sintuoso testemunho de seu corpo. robusto de desejo, anseio de menino. e estes tão doces lábios, quão desenho, quão sutil. ah! menino seus passos... uma memória de delicada atração, envolvente lugar de desejo. e então eu te vi sem limites. por que das tuas ligeiras velocidades acompanhei teus pés e então ainda quero mais te ver.


para ele.


Ilustração: Vânia Medeiros

*trecho da música
menino do rio de Caetano Veloso.

16 de julho de 2008

Eu sou feminista!


Sim, eu sou feminista. Sou mesmo. Desavergonhadamente feminista. E não tenho que me envergonhar disso: por que eu, mulher, classe baixa, negra, periférica, nordestina deveria defender um modelo de comportamento, direito e pensamento que em nada me privilegia? Ao contrário, rebaixa, diminui, incapacita.

Sim, e estou feroz. Embora já tenha feito elegias aos homens, embora seja uma mulher que escreve poemas para seus amados, faz desenhos para aqueles que deseja, compra presentinhos, faz almoço e se precisar passa roupa, eu ando impaciente com os homens. Impaciente com os enquadramentos que são dados pelos homens, com a falta de descuido e a eterna prepotência.

E quando em algum momento esbravejo, um deles responde com desdém "hum, ela é feminista". Como se isso fosse uma ofensa! Ora, sou mesmo. Não posso concordar que uma mulher seja puta porque gosta de gozar. Não posso concordar que uma mulher seja otária só porque ela não está disposta a "dar" para determinado cara. Não posso aceitar ser tratada com indelicadeza porque não sou branca e gostosa para o padrão dele. Não posso admitir que o fato de eu andar na rua habilite o sujeito a me passar a mão no seio. Não posso deixar de torcer para que a mulher traída dê um belo corno no marido, que garanhão varre meio mundo. Não posso admitir que um sujeito me torça o braço porque quer que eu dance com ele. Não posso deixar de sentir nojo quando vejo uma mulher defender um patriarcado que não é seu. Não posso deixar de me entristecer quando vejo uma mulher se erguer diminuindo as outras, para ganhar o desejo dos homens a volta. Não posso deixar de aplaudir uma mulher que se impõe. Não posso deixar de esbravejar quando vejo uma mulher negra ser tratada como mula. Não posso admitir que uma reclamação minha seja considerada irrelevante porque sou feminista, e como qualquer feminista, sou azeda, mal-comida e coisas do gênero. Gozo todos os dias, graças ao bom deus. E me deito com aqueles que me interessam, quando me interessam.

Que se lasquem os que impõem os rótulos: gostosa, preta, mula, mal-comida, vagabunda. Que se lasquem esses pequenos medíocres que se vangloriam pela porra de um falo. Que se lasquem em alto e bom som.

Sim, sou pelo direito de uma mulher ser o que ela quer. Inclusive dela se defender e defender as parceiras. Não me interessa sentar numa roda de homens e psicologizar as outras mulheres, destruir para ser a bacana. Não me interessa ser dona do pedaço. Já disse "que se lasquem". Ao longo da história, as mulheres cresceram se debatendo entre si pra ter a porra de um homem, que nem sempre provem. Derrubar a colega, pra subir no conceito do macho. Triste ver isso acontecer. Disso não faço parte. Que se fodam, se torcem o nariz pro feminismo. Feminismo é necessário, enquanto essa porra de machismo correr nas veias de homens e mulheres, mesmo dos ditos conscientes e inteligentes.

Sou filha de uma geração de mães solteiras. Cresci numa casa de mulheres que criaram sozinhas seus filhos. Boa parte das minhas amigas não têm pai. Algumas delas, têm filhos, cujos pais, pouco se lixam. Moro numa cidade, que no carnaval o corpo da mulher é coisa pública. Já fui chamada de puta, por não beijar alguém que nunca vi pela obrigação de saciar um desejo que não é meu. Na rua onde moro, uma senhora de 60 anos quase foi estrupada por um garoto que também tentava roubar sua televisão. Acabei de saber, que a cada 15 minutos uma mulher sofre violência sexual no Brasil. E me justifique agora: por que eu não devo ser feminista? Por que devo defender o direito de quem me oprime?

Texto: Mônica Santana - blog Eu Sou Amelie
Ilustração: Vânia Medeiros

8 de julho de 2008

próximos sentidos... 1, 2 e 3!


Essa paisagem (o tempo) me remete a três sensações: coerência de sentido; desenvolvimento da análise; e veracidade do gostar.

coerência de sentido - momento em que enxergava com gosto de comida crua os passos a serem dados e as pequenas opções ao andar. Sugeri a mim que não ficasse olhando a liberdade como estrada sem gosto, mas como ilha e sua possibilidade de ponte. Daí entendi a liberdade como um outro lado apenas e o que fazia sentido era apenas ter a possibilidade de sair do lugar. Tinha pouca ciência, mas percepção de uma realidade vista pelas condições possíveis de uma íris, de uma experiência estética e de uma solidão racional. Desfalecia com os mistérios que poderiam haver ou as invisibilidades das difíceis consequências de uma escolha. Mas o lugar coerente de ser sincero faz com que o sentido de liberdade tome tento e daí se torna absoluto princípio em criação.

desenvolvimento da análise - o primeiro pulo não surtiu efeito. e pra ser sincero logo de cara, nenhum outro dará. o fato é que continuava a pular pela curiosidade do que tinha atrás do muro, mas muito mais pela necessidade de estar maior do que costumara. Não chegava a ser um vício simplesmente, mas uma arquitetura pungente de novas aquisições de reflexões acerca dos desejos que tivera anteriormente, até aquele momento. O lugar do fazer conexões era inevitável e imprescindível. Assim não se orgulhava de conseguir propor, mas de observar as possibilidades. Criar ambiências de naturalidades sensatas, como em caleidoscópio girador. Sem medo de contemplações, desenvolve o olhar com mais capacidade de parar um instante para ver.

veracidade do gostar -quanto tinha de sua própria imagem no espelho que observara há um tempo atrás? a reposta seria depender da quantidade de passado que decorrera até a pergunta? a leitura das diretrizes que marcam o corpo saciaria a dúvida? e a mensagem que se daria pelo olhar, originaria um outro ele ou uma outra provocação de como se concebe? ser verdadeiro consigo seria questionar-se sobre suas sensibilidades? curiosamente, teria mais possibilidades a vista? apontaria a partir do que olhara naquele espelho seus gostos, mesmo que as verdades parecessem cruéis? e os momentos deixariam que a vivacidade das vontades se tornassem criações sensíveis? no final de contas, daria uma pergunta como resposta.

Trocaria as numerações pela liberdade, pelos momentos e pela criação. mesmo que fosse dúvidas e mesmo que houvessem possibilidades. E outras sensações foram criadas...