8 de julho de 2007

O tempo de ontem II [Ou à meu gosto!]


E quando da perspectiva de outro caminho, as possibilidades eram a principal meta de um destino que se traça no diálogo. O que motiva o girar do tempo? O andar? Mais tarde suspiros, carinho despercebidos. Vontades inconfessadas, abstração de vontades e contação de histórias. Mais feliz do que o "era uma vez" ou até mesmo de algo comum de páginas velhas.

O clima não apaziguava o momento. Histeria é combinação de emoção e expectativas. Quase que em uma equação perfeita, ou tal solene! Sobretudo no ato de encaixar sensações e apaziguar pensamentos.

Ainda tinha barulho. Toques repetidos que não se esvaia, que não se imperava... que não! E até a negação é um ponto de vontade confessa, parte daquilo que talvez o impulsione: desejo. D-es-ejo! Marcado pelos passos anacrônicos, já que não tinha luz. Da voz soturna, já que alí o som é estrondante. Parte de mim, ao sentar é solidão. Mas, como Deus, desejo.

"
Dois passos se cruzam
e se põem a ter
o ritmo ainda embala
a outros apenas, a eles não mais
tocam outra trilha
deixam se levar
para onde ir (?)
que saber, não importa
outros desejos se saciam
é o fim da trilha,
recortes abertos, lembranças, vontades
cominho percorrido,
incerto(?) talvez..."*

Quebra-se mais um pacto. E tudo é tão sinceramente falso... abstrato na sua incoerência e hipotético na possibilidade da concretude. No matar Deus kantiano, no cruzar os braços do menino (des)iludido por não ter prazer por mais tempo. E não se creia mais no outro, creia-se na visão que se tem de si mesmo quando ao fechar os olhos perdendo "iluminidades".

Manter sons, manter. E mais que isso, não lamentar nada. Sem tantas perspectivas, ou melhor, EXPECTATIVAS. Inconformações! De repente, soluções baseadas nos principios de outros modos de sentir. Relacionar as estrelas, tais constelações, a sua personalidade simbólica. Assim, simbólica.

Lembra de tais momentos? Sentimentos. Alheios e pecados!

"
Quando a gente tá contente
Gente é gente
(Gato é gato)
Barata pode ser um barato total
Tudo que você disser
Deve fazer bem
Nada que você comer
Deve fazer mal
Quando a gente tá contente
Nem pensar que está contente
Nem pensar que está contente
A gente quer
Nem pensar a gente quer
A gente quer, a gente quer
A gente quer é viver"**

Com os olhos pequenos, todos, clareavam os passos. Deitavam no colo. Contavam-lhes segredos inocentes. Com a voz doce, calma, outros signos lhe completavam e ainda estariam juntos. Pecadores sem rumo. A coragem deles!

E diria mais, mas não se encaixa nessas linhas tortas. Que venha a chuva!


Ilustração :: João Milet Meirelles

à Digo - pela inspiração

*
Trecho do texto Sabor da noite (ou Ode ao pecado) de Digo Araponga
** Trecho da música Barato Total De Gilberto Gil

2 de julho de 2007

Ao delinear a energia [ou ele está vermelho!]

Estava ao presságio garantido da reflexão. Estava em movimento mais interno do que o próprio corpo poderia sentir. E estava. Sem saídas proeminentes e sem nenhum outro convite disponível. Algemando processos desenfreados, arrumando o pensamento desafiador que se fazia refletido com se tal propagação da eletricidade do sentir, aliado a convicções imateriais, mensurasse as possibilidades de movimento. Calma! Nem era tão nebuloso o próximo caminho, tanto quanto não era significativo a paisagem mental de ruínas na posição em romance.

Tudo em off. Tinha muito som por alí. E, além do barulho, expectativa para um convite. Seja ele toque superficial para ampliar sensações de prazer ou um convite para dançar! Sem garantia nenhuma de que a tal esperança por objetos de desejo fosse cumprir cerimônias compensadoras de aliar vontade de outro com vontade de si mesmo!

Nem mesmo as cores moviam, nem mesmo as cores e suas perspectivas diferentes. Nem mesmo as cores, nem elas tão vibrantes premiavam a arquitetura dos símbolos necessários para o convívio com o espaço. Sim, nem mesmo as cores que são tão gentis ao olhar, tão irremediáveis. Nem mesmo as cores foram suficientes. Mas elas dão os tons até mesmo na imaginação. O enigma estava com ele, então.

"Ver que tudo pode retroceder
Que aquele velho pode ser eu
No fundo da alma há solidão
E um frio que suplica um aconchego"*

De certo, naquele espaço apregoado de emoções, desistiu da energia do movimento estável no caminho puro da sentimentalidade. Máxima proteção possível, destino de areia e rochas. Canalizaria a energia das emoções para sentimentos alheios à criação estética.

O fato é que, ao invés de toques e carícias corpóreas limitaria-se a impungentes construções frasais para construção de novos e coerentes símbolos que diria na bem verdade de si para o outro espaço externo, em movimento! O encostar lábios, abraços apertados, se substituiria pela facilidade em arquitetar novas idéias, criatividades pungentes, variações na imaginação, acertos na mistura dos sentidos para proposição de outros. Belezas em palavras e suas conexões.

Andar pelo centro da cidade de mãos dadas ou caminhar sereno pelas areias da praia quando pôr-do-sol não importaria mais. Agora teria a imortalidade do espírito na pluralidade de letras, na sinuosidade das idéias, na madrigal liberdade de aprofundar identidades, de marcar novos ambientes e sinergias. Re-ligare e plugar destinos. Feliz assim (?!)

"Quero escrever noções sem o uso abusivo da palavra.
Só me resta ficar nua: nada tenho mais a perder"**

Fica claro que não é inexistente a ilusão homérica de que não se chove mais pelas ruas do coração. E de que ainda terão mais alguns dias de tormento sentido pela falta. Porém, todavia, não espera mais do amor como antes.

Termina de escrever sonhando com beijo.

Ilustração: Vânia Medeiros

* Trecho da música Vermelho de Vanessa da Mata
* Trecho do texto Quero escrever o borrão vermelho de sangue de Clarice Lispector