24 de setembro de 2008

Um homem de sonho - parte II


Nem sequer pensaria no simples ao chegar lá. Lembraria que batentes não são obstáculos em si, mas a própria decisão de alcançá-lo. sorriu ao sugerir um fugir da realidade, mesmo já estando do outro lado, mesmo escolhendo sem ao menos ter qualquer certeza de que naquele outro espaço oposto saberia, leria, viveria mais outras experiências inovadoras. Bem verdade que facilitaria caminhar por este lado, levantou essa ressalva, mas o que poderia encontrar nesse novo caminho? apenas uma estrada? Outros tantos de beleza? Aguçado desejos de ter? Distraiu-se com a própria calçada, com o sincornismo dos pés que passava (também olhando onde pisava). Podia voltar, mas não mais interessava o antes, apenas como um soluço de vontade de saber o por quê de estar caminhando. Movia-se pelo caminho acelerando mais cada passo, sem ter tanta pressa. Corre-se pelo tempo nas vias da cidade e o tempo não parece sequer se preocupar com esses presságios de vontade voláteis e correntes. Para saber, o tempo lançaa enigmas maiores do que a própria matemática e a filosofia juntas, já que nele tem os espaços e os outros contidos em um conjunto metafórico. Liberou os braços pra fazer movimentos maiores sem atropelar o andar alheio. Assim poderia olhar mais suas próprias mãos, suas próprias delicadezas no seguir, suas sensibilidades. Andar, pra ele por dentro da cidade, tornou-se rio em si. Como um desaguar límpido e taciturno ao saltar as pedras e desviar-se do que vem adiante. Pelo movimento, ainda pensaria um pouco mais antes do chegar contínuo.

Ilustração: Igor Souza

22 de setembro de 2008

Um homem de sonho - parte I*


Ele estava do outro lado da rua. Tinha seus 26 anos. Nem parecia querer atravessar a pista. Queria mesmo era contar o tempo que o sinal de trânsito estaria se movimentando. Isso porque ele não precisa de mais nada do que o pensamento circundante. Não lhe falta movimentação. E, enquanto pensava nisso, ele deu passos a cruzar aquela estrada. Muito menos sinuosa e mais destemida do que em qualquer outro momento que já tinha vivido. caminhou por um tempo com aquela sensação de liberdade nos peitos. Nada de especial parecia soar daquele desafio de sair de um lado pro outro. Apenas ele era especial e ninguem, realmente, tem alguma certeza sobre ser assim, sozinho e exclusivo. Atravessar a rua é olhar para tantos lados for necessário. É como viver. Por que viver, não é apenas tempo para escolher caminho, mas coragem dos passos e cuidado com o que há por vir. De certo não há um viver somente, assim como não há um apenas fechar o sinal. Entre a pista, carros e as pessoas, tem o pensamento. E como tinha dito, ele não precisava mais de outra coisa enquanto não andava, a não ser o pensamento. Agora que tomava propulsão chegaria ao outro lado depois de pensar e depois de gente, de sol, de vento de outras vontades e ainda mais pensar. E se tivesse alguma dúvida no meio do caminho? Sorriu ao aguçar essa possibilidade da dúvida... Até por que os caminhos não tem asfalto de verdade, um pé não empurra os ideais pra poder seguir com o outro. É quase involuntário aprender e seguir. Como equação onde a divisão do refletir e a estrada é sempre a dúvida, só se falta multiplicar pela coragem e pronto... certo de que não há ciência exata, chega ao outro lado da rua ainda com as mesmas questões que se fizera no meio do caminho. E o outro lado começa a existir.

* conto dividido em frações de vontades
Ilustração:
Vânia Medeiros