21 de fevereiro de 2006

O tempo de ontem

Parecia que eles podiam viver de ilusão naquela noite. Por um intenso momento, a imaginação era a única necessidade vital para os dois. Sem caminhar, sem respirar e cantando muito pouco podíam sobreviver. Não sei se da vontade de se completar, mas o fato é que não importava o que acontecesse naquela noite, nem o céu iluminado de areia vermelha, nem as pessoas ao redor, nem a velocidade dos automóveis que teimavam passar, nada afastaria a beleza daquele instante. Estavam completos e, mais do que isso, estavam juntos.

" Haverá pára-raio
Para o nosso desmaio
No momento preciso?
Uns vão de pára-quedas
Outros juntam moedas antes do prejuízo
Num momento propício
Haverá paradeiro para isso?
Haverá paradeiro
Para o nosso desejo
Dentro ou fora de nós? "*


A autonomia do tempo e do espaço, não desagradava. Não! Muito pelo contrário. Naquele momento não tinha muito sentido. Quase não há toques, só das almas que ficam o tempo todo trocando carícias e sensações agradáveis de prazer. Provavelmente, naquele período, alguém compunha a canção que interpreta a vontade que a natureza tem de provocar encontros. Não se tinha perspectiva e nem se pensava no momento em que tudo aquilo não iria estar mais acontecendo mais. Já que tudo acontecia no mais ardiloso e sensível dinamismo, um abraço apertado e um beijo suave no pescoço molhado encheu-os de felicidade. Nada de juras de amor, sem romantismos.

"Os meus olhos vibram ao te ver, são dois fãs, um par
Pus nos olhos vidros pra poder melhor te enxergar
Luz dos olhos, para anoitecer é só você se afastar
Pinta os lábios para escrever a tua boca em mim...
Que a nossa música eu fiz agora
Lá fora a Lua irradia a glória
E eu te chamo
Eu te peço vem
Diga que você me quer porque eu te quero também"**

Dores infinitas foram confessadas e o "deitar no colo" e o "carinho singelo" foram, assim, inevitáveis. O beijo também, mas esse ainda era muito mais provocador. "Havia uma beleza alí? Ou era criatividade minha?"*** O que parecia, de verdade, era que tinham descoberto a vontade de se completar. Um abraço forte, um beijo no pescoço e tudo tava muito bem dito. Estava claro que sentiriam muita saudade. Não existiu virilidade e nem sepercebia a hostilidade do mundo. Cansados, voltam para os seus quartos, sonham um com o outro, acordam pensando em continuar a vida, porém, antes dele sair para ser esquartejado por mais confissões, recebe uma mensagem de agradecimento, desejo de felicidade e um pedido:

" Case-se comigo
Antes que amanheça
Antes que não pareça tåo bom pedido
Antes que eu padeça
Case comigo
Quero dizer pra sempre
Que eu te mereço
Que eu me pareço
Com o seu estilo
E existe um forte pressentimento dizendo
Que eu sem você é como você sem mim
Antes que amanheça, que seja sem fim
Antes que eu acorde, seja um pouco mais assim
Meu príncipe, meu hóspede, meu homem, meu marido
Meu príncipe, meu hóspede, meu marido"****

* Trecho de Paradeiro - Arnaldo Antunes e Marisa monte
** Trecho de Luz dos Olhos - Nando Reis
*** Trecho de - Liminha e Vanessa da Mata
**** Case-se Comigo - Liminha e Vanessada Mata

19 de fevereiro de 2006

"Tanta Saudade"*



Por aqui tudo continua da mesma forma...

O jeito dominador de ser garante que se veja quadras ao redor e espaço pra continuar sendo o que é. Não sente vontade de mudança não, é incrível, mas parece que quer continuar da mesma forma, não adianta mais... não dá passo sem nó, aliás não dá passo.

Os rabiscos de papel falam disso sem dúvidas, sem nenhum tipo de convicção, nem credo, fala de que agora nem existe mais disposições para mutações. Mesmo se ver o moço passar pela rua, desajeitado, desajustado, mesmo se ouvir Chico Buaruqe, mesmo se assistir aquele mesmo filme novamente, mesmo se acreditar em lágrimas como presságio de esperança. Não muda mais, não quer mudar.


"De onde vem a calma daquele cara? Ele não sabe ser melhor viu?
Como não entende de ser valente, ele não sabe ser mais viril. Ele não sabe não viu?
E as vezes dá como um fio. É o mundo que anda hostil, o mundo todo é hostil.
De onde vem o jeito, tão sem defeito, que esse rapaz consegue fingir?
Olha esse sorriso, tão indeciso, tá se exibindo pra solidão..."**

Até agora tudo parece tão simples... a vontade de modificar o ritmo dos passos garantia uma angústia de quem nem queria se movimentar. Nem pôr-do-sol, nem filminho a dois, nem tocar violão, nem poesia, nada tinha a capacidade de mover o corpo. Era agora simplesmente a necessidade de subverter a ordem, a lei, a regra do universo de que tudo nesse mundo muda. A perspectiva era de estatizar os sentimentos, promover a interação do corpo (como energia luminosa e afluente corrente) e espírito (o inconfessável lugar onde se guarda as sombriedades, as exigências). parecia que tudo estava resolvido. Ia enfrentar com coragem a opção de ser o mesmo até quando quisesse.

" um homem com uma dor é muito mais elegante caminha assim de lado como se chegasse atrasado andasse mais adiante carrega o peso da dor como se portasse medalhas uma coroa um milhão de dólares ou coisa que os valha ópios édens analgésicos não me toquem nessa dor ela é tudo que me sobra sofrer, vai ser minha última obra"***

Ainda que quisesse ser melhor, ainda que sentisse a necessidade de conquistar outros caminhos ainda não desbravados, ainda que assim, estático, continue solitário, sombrio, prefere não mudar, prefere continuar o caminho... mas, agora tem espelhos pela sala e mesmo que deviasse o olhar...

MUDOU... TRANSFORMOU... é outro agora, mas prefere continuar da mesma forma, como sempre!

* Chico Buarque / Djavan
** Marcelo Camelo
*** Paulo Leminsky

8 de fevereiro de 2006

Quando o inverno chegar...

eu deixarei de ser cultura e me tornarei
labirinto
quase uma escuridão pública
até ouvir a luz até esse momento e só! até esse momento agora!
quando se publica alimento é realmente escuridão em si. É o ontem, mas
já não sou tão eu em texto.

Crônicas de seres solitários

Sozinho no quarto, volta à tona as lembranças de momentos tenros de ardência voluptuosa e de carícias prolongadas pela noite afora. Sim, foram momentos eternos que deixaram o gosto seco no paladar aguçado por uma continuação. Mas está sozinho agora e o que resta são só as lembranças daqueles momentos. De repente, há uma vontade no ar de se completar em si mesmo, pois o corpo pede encarecidamente por realização de desejos. Começa a pensar naquele dia e se excita. As mãos começam a passear pelo corpo enquanto em sua volta o clima se torna diferente. Há aroma de prazer que se espalha enquanto seu corpo é tocado com presteza devagar causando uma sensação agradável de satisfação e emoção. Na memória o entrelaçar dos corpos se confundem com a descoberta de novos toques e com isso novas sensações. A respiração começa a modificar, o coração bate cada vez mais acelerado, os poros se abrem os olhos enchem de lágrima, o movimento das mãos segue o ritmo da pulsação do corpo. Um cheiro de flores penetra no ar, tudo fica mais bonito. Um grande sorriso se abre para ninguém que o contempla. Está sozinho sim, mas agora está preenchido com a sensação do mais puro orgasmo do mundo. Perde-se o sentido do corpo, os pés parecem coberto de formigas a passar. Agora um outro mundo é possível. Sim, esse corpo é dele! Mas agora, mais do que nunca, esse corpo é do universo que o completa de razão e sentimento. O telefone toca, ele não ouve. Do outro lado da linha ele ignora o amigo e pensa em si. Da cozinha onde um pouco d’água o molha sensualmente ele parece sentir uma vontade de que o espírito transcenda de alguma maneira que o faça voltar aquele momento tão especial. Sozinho no quarto (...) os poros se abrem (...) um cheiro de flores parece empestar a atmosfera que ela respira (...) e depois daquele momento tão sutil e interessante ele rabisca em uma folha de papel: - “Esse corpo é meu”.

"... Se decidir fazer surpresa deixe as chaves debaixo do xaxim"*

quase que a inocência toma parte dos corpos tão insólitos quanto voluptuosos. É como se acordasse agora depois de um longo sono tirado da ressaca do cigarro. Que cigarro?

Aquele fumado por circunstâncias do progreso liberal dos corpos tão insólitos quanto voluptuosos.

que corpos? eses aí! olhe!

"... Um espelho pra sua vaidade. Dossel, pena de ganso é quase um romance. Desligue os nossos celulares..."* *Vanessa da Mata

arquetipos

Quando da necessidade de escutar,
as sombras se removem na fragilidade do processo!
reconhecimento - paixão!
a verdade, que não existe, merece respeito
eu não sou a verdade!

Clementina: "achava que se a boneca se transformasse
eu iria me transformar! - você não pode ser feia bonequinha"*

tudo o que mais importa nem mais é a solidão
é o silêncio
É o braço esquerdo que não se sustenta
marasmo de dias sem sentidos que juram passar

"agora eu sei o que quero enxergar
esse colorido não devia mais me enganar
porque a cor deforma
quando a luz vem a brilhar
e assim seu olho começo a decifrar"**

poderia continuar num discurso introspectivo e generalista
poderia sentir a obscuridade como pensas
poderia linkar os desejos com o medo
poderia mandar uma paisagem
mas agora ta atrasado
banhar-se e trabalhar

quando um som palpita
uma luz incita felicidade
uma cor que fala de paz

* Brilho Eterno de uma mente sem lembranças
** Mombojó - Duas cores

6 de fevereiro de 2006

gritar para dentro!

Faz-me rir
para poder compartilhar as idéias
quando eu assumo que é uma crise
tudo fica mais fácil
se perguntasse a alguem
perguntaria se sabia se estava claro que é uma crise
se é ridículo mesmo!

"Parecia-lhe de repente que sentia tudo muitas vezes mais... imagens e sons e sabores e cheiros rasgando-lhe cada um dos sentidos. Tudo lhe era insuportavelmente delicioso. Cada nova visão (aquela que vem logo após um piscar dos olhos) trazia as formas e as cores de um novo deleite. Passara a noite num silêncio contemplativo, certamente causando estranheza aos mais desavisados. Observava tudo. À sua frente, três graças de cabelos negros e cacheados cantavam e riam, os olhos brilhando em meio às loucas cantorias".*

eu pertenço a dubiedade das imagens
porque não há transparência verdadeira
e quando triste a tarde vai passando ainda não é outro dia
é na verdade um próximo momento
isso sabendo que naquela hora não é mais aceitável o silêncio
explode... grita, mesmo que pra dentro de si mesmo!
algo mexe com os sentidos...
os ouvidos internos ja não suportam mais
o som é muito alto insuportavelmente sincero!

" Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.

Permite que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silencio,
e a dor é de origem divina.

Permite que eu volte o meu rosto
para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho
como as estrelas no seu rumo"**.

as estrelas, as outras sem luz
arrastam motivos de piedade,
mas não de dó é meio confuso acreditar que elas existem
principalemnte agora que não se vê estrelas sem luz
dentro das garrafas que os meninos levam pelas ruas
é por que agora eles só carregam debaixo das mãos
latas de solidão
e elas fazem som sim!
parecem ter um ritmo mas não carregam mais as estrelas sem luz
por isso mesmo tá diferente
é diferente sempre todos os espaços onde os meninos estão

"E os dias estão passando. E você está ao meu lado. E os dias estão passando. E estou aprendendo a reconhecer as pegadas de estranhos. E os dias estão passando. Sinto-me mais mulher. Mais pedaço. Mais incompletude. Sinto-me. E os dias estão passando e está, simplesmente, sendo bom, muito bom"***.

silencio-me
calo a boca
estou errado
vou dormir!

* Liana Lisboa
** Serenata - Cecília Meireles
*** Bruna Hercog

5 de fevereiro de 2006


Toda a ambiguidade parece estar presente
Todo parceiro concreto!
Na real, como a gíria tenta dizer, termina o sentido aqui
não tem que dar satisfação a ninguém
e o amor é meu.
Até a saudade é minha.
Mas a paciência não!


"Uma mesma pessoa pode aparentar grandeza ou miudeza
dentro de um relacionamento,
pode crescer ou decrescer num espaço de poucas semanas:
será ela que mudouou será que o amor é traiçoeiro nas suas medições?"*

O corpo cansado limita a confusão da cabeça
é muito cabelo entrelaçado
verdade, sinto isso sim
quase um peso
marcar o território no (ciber) espaço.
Falta de amor
há aqui uma verdadeira demonstração
de falta de inteligência
sem poder mais comentar.

"Tudo parece fazer sentido na medida em que deixa o sentido se fazer.
O casual aberto ao intencional aberto ao casual, como círculos concêntricos se expandindo a partir da pedra, atirada com mira sobre a água sem alvo.
Água cristalina não porque reflete, mas porque corre.
Onde a limpidez do sentido vem de sua adequação ao ritmo, à linha melódica;
clareza vindo da fluência. Cadência".**

Aqui pára-se o lamento intragávelvai conseguindo ultrapassar as barreiras do ideal
não deixa de ser diferente
até por que tem-se a vontade de dizer que:

"Quando agente conversa
Contando casos besteiras
Tanta coisa em comum
Deixando escapar segredos
E eu nem sei que hora dizer
Me da um medo ( que medo )
É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
É eu preciso dizer que eu te amo
Tanto
E ate o tempo passa arrastado
Só pra eu ficar do teu lado
Voce me chora dores de outro amor
Se abre e acaba comigo e nessa novela eu não quero ser teu amigo
É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
Eu preciso dizer que eu te amo
Tanto
Eu ja nao sei se eu to me estorando
Ah, eu perco o sono
Lembrando em cada riso seu qualquer bandeira
Fechando e abrindo a geladeira a noite inteira
É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
E eu preciso dizer que eu te amo"****

Trecho da Poesia "A Fita Métrica do amor" de Martha Medeiros*
Trecho do texto "O Receptivo" de Arnaldo Antunes**
Preciso dizer que te amo Vários<@>0442<@>Cazuza/Bebel_Gilberto<@>POLYGRAM<@>Verve')" a >Preciso_Dizer_Que_Te_Amo<> - Música composta por Cazuza, Bebel Gilberto e Dé***