28 de dezembro de 2008

Um homem de sonho - parte IV


E o homem, na altura dos seus 26 anos, esqueceu-se que ao ter como objetivo o andar deveria tomar cuidado com as pedras, pedregulhos, paralelepípedos ou qualquer sólido em boa quantidade a atravancar o seu caminho (na paródia do Quintana, a pedra pode sim ser eufemismo de homem). É excelente o pensamento recorrente de que os tropeços acontecerão e que mesmo assim o movimento de caminhar deva continuar. Como tem passos e passos, ele sabe que tem tombos e tombos, algunas mais difíceis de se recompor. Tem alguns que mesmo com seu corpo fincado no solo, te deixam sem chão. Nada pode ser tão óbvio quanto pedras no caminho e os tropeços são incessantes. Equação do caminho que se abriria em fórmula tal qual química orgânica. Pior quando são as mesmas pedras sempre... Seria melhor cair com as pedras ou tê-las na cabeça, quetionou-se distraído. Não há um chão tão límpido de alguém a ponto de convergir para um levitar no andar, o atrito é muito importante e para isso o concreto deverá sempre prencher a sola da sua sandália. Inteligente seria o moço quando ao passo de sua idade conseguisse relacionar atrito à sola dos pés com caminhada pelo espaço sutil e machucados menores com os tropeços. O moço ainda chora quando cai (em si!)

26 de dezembro de 2008

Um homem de sonho - parte III


Eram braços e pernas em sincronia, como coreografia marcada. Nem queria prestar atenção nesses passos, mas nos movimentos da respiração ou dos desvio de ganho de tempo. Tempo é uma coisa já que já tinha pensado, mas se aprofundar nisso era orgulhar-se de um estar diferenciado que ainda não o podia fazer. Deixara então para aprofundar suas leituras sobre momento, horário, velocidade, mais tarde. Como era de praxe pela cidade em que anda, tinha sol no céu sobre sua cabeça. E quando está assim paira no ar um desejo de fazer, mais do que do ser e do fazer juntos. Seu corpo tinha uma determinada malemolência e é disso que queria prestar atenção, o fazer com gingado preciso. Se prestasse bem atenção nunca corria para atravessar a pista, se possível ainda tocava nos capus do carro há pouco em movimento. Quem diria que pela adrenalidade estava enganado, mas pelo estado de eloquência que acaba tendo com as relações cotidianas. Motoristas e pedrestes nessa cidade são parceiros de conduta, as vezes se desentendendo politicamente, mas nada tão grave. Este homem descia a ladeira que poderia muito bem dar no mar com bastante destreza. Para isso tinha seu próprio rebolado, balançava os quadris sem distinção dentro da sua masculinidade [ou do que isso poderia significar]. A ladeira é um traço bastante específico pelo caminho, ela suntuosa carrega desafios constantes e modela o corpo. Braços e pernas agora estão mais diferentes, pensa ele, sem parar de caminhar, já que enquanto há sol há muito o que se cumprir de atividade. A ladeira bem que poderia dar em um museu com suntuosa pompa. E esse homem já apreciava com contemplação o próprio ambiente, disso tinha começado a ter consciência. E praça e cinema e casa e ruas. Ah! as ladeiras dessa cidade o consumia de desejo. Se o objetivo agora não fosse apenas o andar, talvez ainda o fizesse mais...

12 de dezembro de 2008

possível parágrafo


Eu nem queria estar aqui, mas é conveniente. solidão em prosa é como verso sem medida, como livro sem dedicatória, como mar sem bicicleta ao redor. como se não existisse temporal, eu não queria estar aqui, mas o que fazer se há a vontade e o desafio em contrapartida? Se há tudo de vontade e de desesperança, diria que não é mais possível pensar em outro lugar, mas eu não queria estar aqui. ontem eu até pensei nisso como a segurança dos passos e até fiquei mais feliz por ver escolhas pro destino do outro. seria então eu egoísta? se sim, eu não queria estar aqui. E mais... faltam-me outros passos a dar. querer ficar, beijar o menino mais doce que me propuser um beijo e ligar sem destinatário para usar o móvel falante bonito. Que me propõe quem me lê? sim, querer pode ser não desejar, às vezes. tem mais passos a ouvir no chão.

8 de dezembro de 2008

G(D)ramático











ponto de exclamação


ainda não se sabia se era susto ou era algum outro movimento diferente em seu ser. poderia se contentar com pouco, com um dito sentimento qualquer, mas prometia averiguar profundamente o que lhe ocorria nesse instante.

ponto de interrogação

Aqui há de se demorar mais um pouco. Por que, você sabe, quando se há dúvida a vã interpretação do ser traz a necessidade de interpretar. Nesse caso a dúvida pairava sobre a composição do que há por vir na produção humana. Mas isso é uma questão muito longa, duvidou de sua capacidade e de sua querência no resolver esse enigma e então ficou na simples tentativa de saber se teria a possibilidade do ato criativo estar ligado à uma função simples de decodificação do universo, como tarefa técnica. Fazer uma peça de teatro como se constrói a cadeira da sala é possível? Pensou sem relutar! Não quis dar resposta, é óbvio, afinal tinha que ocupar sua tarde com algo que fizesse sentido e o pensar... Ah! o pensar.

dois pontos

Isso por que o pensar não é ocupar um lugar no tempo. É o próprio tempo da humanidade. Orgulhou-se de ter ponto em comum com o ambiente, a vontade de pensar, de se decobrir na descoberta que talvez pudesse fazer com aquela reflexão toda. Também não abria mão de questionar os passos simples que dava. Tal como a música que escolhia no mp3 ou se a cor da capa de seu livro favorito combina com seu conteúdo e vice-versa. Mas ia parando por aqui já que a explicação não deve ser maior que a dúvida.

e ponto de continuação