25 de dezembro de 2007

sobre o destino. continuará...


Amansei no colo um destino que estava acanhado e fugidio. De leve, passeava a minha mão por sua nuca, arrepiando sua pele na perspectiva de fazê-lo entender que deverias ter como meta compania. Afinal ainda não entendi para que serve destino se ele é sozinho e não consegue se pensar assim. Fui falando a ele devagar que era preciso que ele seguisse um caminho bastante seguro, ilícito de desilusões, arremendado de colcha de retalho colorido, renda macia e constante.

Mas lá destino consegue escutar seu dono? Por que sim, destino tem que saber que ele é feito para alguém... independência, livre arbítrio só para quem tem qeu passar pela angústia de fazer opções, e destino não tem isso... ele já vem escrito, definido por papel passado, nada de botar as asinhas de fora... destino não é doido de sair de mim assim, sem avisar.

Depois de alimentado, tinha que falar com ele pra seguir um fluxo normal que a vida ia lhe propor (ou que já estava previsto para ser...), mas tão acanhado parecia o destino que dei uma chance dele parar e promover uma reflexão sobre ele mesmo e como ele conseguia me ver. Destino danado, me disse tanta coisa importante, sem ao menos projetar qualquer imagem, sem proferir nenhuma palavra.

Entendi de uma vez por todas que o destino sou eu, mas, arredio que estou, queria mesmo era saber porque você não quer colar o seu destino em mim.

Ilustração: Vânia Medeiros

18 de dezembro de 2007

Uma outra de Rodoviária*


Estava parado à porta do banheiro quando ouviu uma conversa de dois homens, magros, um com a pele mais escura que o outro. Os dois não pareciam preocupados, mas atentos. A sensação era de que alguma estratégia estava sendo bolada. Então, decidiu permanecer alí parado. Ainda tentara chegar um pouco mais perto para entender tudo com mais clareza. Dava para enxergar tudo muito bem. O homem mais próximo parecia ter seus 26 anos de idade e era o que mais estava escutando.

Foi aí que os ânimos se exaltaram. Parecia que as outras pessoas tinham percebido o tal clímax, pois o barulho aumentava de forma constante. Tudo era quase uníssono. "Seria uma coreografia sonora?" pensou! Apesar dessa pequena distração, não se limitou àquela situação e queria entender qual a principal razão para toda aquela discussão. Porém os zunidos estavam cada vez mais se confundindo e se tornando um só.

Se dissolvesse todas as partes, ouviria um estrondoso barulho da rádio do bar, o choro do bebê que queria o doce ao qual a mãe ão podia comprar, um casal que discutia sobre qual o destino da noite, trânsito enfurecido do lado de fora e o próprio vazio dele. Sim, tudo estava misturado e não o deixava se concentrar no mais importante: o que conversavam alí no banheiro aqueles dois homens bonitos e misteriosos.

Quando conseguiu se aproximar ainda mais, pôde entender que se tratava de uma importante decisão que poderia mudar seus caminhos.

A situação era cada vez mais tensa. O tempo estaria a se esvair? De fato deveriam entrar em um consenso, comum acordo, o mais rápido possível. Precisava de algum argumento para entender que decisão era que os homens precisavam tomar, apenas por curiosidade (pensara se a curiosidade por si só era mesmo motivo, mas queria era satisfazer um desejo e já estava bastante envolvido para desistir assim).

Foi quando um dos homens aumentou o tom de voz e pediu o veredicto: "o que vamos fazer?". Nessa hora o telefone toca um som engraçao. Sua mãe o ligou justamente quando estava prestes a desvendar todo o enigma. Atendeu, ouviu algumas recomendações e tarefas, porém não conseguia manter a atenção na conversa. Falou à mãe alguma coisa sem sentido, ouviu com cuidado, pelo menos, a finalização da conversa com a madre e, quando desligou o telefone: silêncio!

O banheiro já estava vazio. Não saberia mais o mistério e nem o que devia fazer por sua mãe. Pelo menos, agora tinha uma coreografia de silêncios.

Ilustração: Vânia Medeiros

* Segue a linha de contos de rodoviária que começa com Vânia Medeiros - "uma de rodoviária"

8 de dezembro de 2007

Pra declarar minha saudade!



Parte VII - "Além da vida ainda de manhã de um outro dia"*

Tinha o desafio de ter a sensação de estar só. Já que sabia que ninguém mais ia chegar, fez zapping, leu textos interessantes na rede, tirou a camiseta, ouviu toda a lista de reprodução do computador e até cochilou um pouco. O que fazer da solidão do não. Não é um sim de tanto sim, como diria Caetano. É um jeito hipotético de não estar...

Mesmo que os vicios do entendimento ainda retomem o ar da desesperança limiar cotidiana, nada mais além do tato o fará completo. Conservar desejos semânticos, apuar a liberdade de sentir. O que falta para o prosseguir plástico e nada hermético? Há serenidade no querer?

O colapso de tais idéias premitem conclusões das mais improváveis, mas quem trataria com soberba a imagética das escolhas. O que te faz crescer, então é o caminho a que se dedica e, então, o choro redime! Anda pelo vazio simbólico, ninguém para abraçar no domingo ao final da tarde.

Antes disso, o telefone toca. Veste uma camisa qualquer, uma calça qualquer, anda pela rua quelquer, vai pra qualquer lugar se divertir. A compania não é qualquer. Não se desafia mais a ter convidados. Gosta sensivelmente.

Bonito. Ele tava bonito ontem a noite!

Fotos: João Meirelles

* Trecho da Música Se tudo pode acontecer de Arnaldo Antunes

1 de dezembro de 2007

E.la - (B).ace-lar















Um estar interessante. Como uma flor que, na sua delicadeza imersa no deslumbre do jardim, sente desejos maiores de florestas, ao mesmo tempo úmida, verde e exalando o aroma de mais pura sensibilidade. É que quando ela aparece tem cheiro de aventura e romance no ar. Como a liberdade que ruboriza ao se alimentar de simplicidade e sinceros momentos de estar junto e só.


Sim. Ela é uma palavra com três letrinhas pouco banais. Ela é sim por que de sua subjetividade fica sempre a vontade de positivos, o sinal verde dos sonhos. Sim do sim e tudo além disso. Afinal, as portas se deixam sem fechaduras e as janelas sem trancas por que ela passa.

Some então os maniqueísmos baratos pelo caminho. Nada de dualidades. Para que se existem as possibilidades inteiras e diversas? Ela é o pricipal desafio do colorido: a vontade de que juntos não se tornem um só, mas vários no mesmo sentido.

Então, ela é carinho e outros afagos ademais;
ela é ilustração de boas medidas e sortes;
ela encanta e entoa cantos diversos para estar feliz; ela faz os outros felizes!
Assim, ela é beleza e ponto de continuação...

Em homenagem a Quel

Ilustração: Vânia Medeiros