18 de dezembro de 2007

Uma outra de Rodoviária*


Estava parado à porta do banheiro quando ouviu uma conversa de dois homens, magros, um com a pele mais escura que o outro. Os dois não pareciam preocupados, mas atentos. A sensação era de que alguma estratégia estava sendo bolada. Então, decidiu permanecer alí parado. Ainda tentara chegar um pouco mais perto para entender tudo com mais clareza. Dava para enxergar tudo muito bem. O homem mais próximo parecia ter seus 26 anos de idade e era o que mais estava escutando.

Foi aí que os ânimos se exaltaram. Parecia que as outras pessoas tinham percebido o tal clímax, pois o barulho aumentava de forma constante. Tudo era quase uníssono. "Seria uma coreografia sonora?" pensou! Apesar dessa pequena distração, não se limitou àquela situação e queria entender qual a principal razão para toda aquela discussão. Porém os zunidos estavam cada vez mais se confundindo e se tornando um só.

Se dissolvesse todas as partes, ouviria um estrondoso barulho da rádio do bar, o choro do bebê que queria o doce ao qual a mãe ão podia comprar, um casal que discutia sobre qual o destino da noite, trânsito enfurecido do lado de fora e o próprio vazio dele. Sim, tudo estava misturado e não o deixava se concentrar no mais importante: o que conversavam alí no banheiro aqueles dois homens bonitos e misteriosos.

Quando conseguiu se aproximar ainda mais, pôde entender que se tratava de uma importante decisão que poderia mudar seus caminhos.

A situação era cada vez mais tensa. O tempo estaria a se esvair? De fato deveriam entrar em um consenso, comum acordo, o mais rápido possível. Precisava de algum argumento para entender que decisão era que os homens precisavam tomar, apenas por curiosidade (pensara se a curiosidade por si só era mesmo motivo, mas queria era satisfazer um desejo e já estava bastante envolvido para desistir assim).

Foi quando um dos homens aumentou o tom de voz e pediu o veredicto: "o que vamos fazer?". Nessa hora o telefone toca um som engraçao. Sua mãe o ligou justamente quando estava prestes a desvendar todo o enigma. Atendeu, ouviu algumas recomendações e tarefas, porém não conseguia manter a atenção na conversa. Falou à mãe alguma coisa sem sentido, ouviu com cuidado, pelo menos, a finalização da conversa com a madre e, quando desligou o telefone: silêncio!

O banheiro já estava vazio. Não saberia mais o mistério e nem o que devia fazer por sua mãe. Pelo menos, agora tinha uma coreografia de silêncios.

Ilustração: Vânia Medeiros

* Segue a linha de contos de rodoviária que começa com Vânia Medeiros - "uma de rodoviária"

3 comentários:

Anônimo disse...

Mães...sempre na hora certa!
O bom é a criatividade desse desfeicho.

;)
beijo

DieGo Albuquerque disse...

Estariam tramando uma pegação no banheiro da rodoviária? Sexo causual? Que absurdo! Esse tipo de coisa nem acontece! (hahah)

Franklin Marques disse...

demais o texto, a imagem compõe tão bem!
roubei a idéia sua de colocar imagem no título.