29 de maio de 2011

Continuismos...


Lagrou-se indispensável, como se a vontade de querer ser fosse maior do que perder a indentidade pela vontade de liberdade tardia ou compensatória, tanto faz. Só tentaria não tropeçar no que não fazia sentido para não adoecer. Difícil... Coloca um sorriso no rosto e anda pra frente, pois ainda há o amanhã (amanhã como lugar, espaço legítimo de aforismos).

Mandou flores para sua insegurança. Alimentando sonhos originais de aumentar auto-estima, concorrer em um concurso de miss, azeitar a imagem refletida no espelho.

Se propôs maior, lutando contra gigantes que ele mesmo criara minutos atrás (esse não há como fugir da temporalidade). Estava inquieto mas assim o era por natureza, então não o entendera diferente.

Olhou pro relógio que continuava da mesma forma, rodando, e ficou tranquilo.

Foto: Ceci Larea

2 de abril de 2011

Carnivália VI


A avenida não nos dispensa, compensa em franqueza. Amarra-nos em grande euforia, nos toques emancipados de um tambor insolente, crentes de que há um religare alí na perniciosa festa da carne. Rigojiza-se de ser deslumbrante, fascinante de luzes e cores agressivas e delicadas ao mesmo tempo. Como se a alegria fosse a memória daquela pele de máscaras dominadas pelas lantejoulas, pelos paetês. Mantendo sua faca cortante de coletivo dos indivíduos. E então corpo no corpo está alí o nosso carnaval.

Andamos pelos asfaltos grudentos e sujos com cheiro de tesão/tensão. Há um caminhão vibrante em nossa direção, convoca o espírito de libertação. Enquanto olho isso nos olhos alheios, um arrepio que me dá me insinua pelos campos abertos de sensualidade e frenesi.

Carnivália de desencontros também. Riscas e faíscas dos descompassos da natureza irrequieta do homem sem o olhar delicado para o outro, como o outro eu também. Há também as cordas e as misogenias de indelicadezas todas de quem está fora e quem os deixa de fora, além da impossibilidade cruel de se abrir. Mas o conjunto ainda está aí e nem só de más escolhas se tece nossa cultura e seu sistema.

Pois então corre a lambretinha da emoção. Passam as árvores pelos corações pulsantes de nós. Ela me dá um sorriso, ele me deu um beijo na boca. Eu retribui os dois e vice-versa. Naquelas silhuetas de paralelepídos e nas plumagens de quem pede pra não ficar parado pois é energia de carnivália.

É brisa boa que vem do mar, é vontade de estar envolvido pelos sons da diferença.

E então, na quarta-feira, se arrasta o amor pelo rio de água doce pra abrir espaço para outros dias que virão. Findou verão e começou a temporada de saudade da devassidão marota, da vontade de vontade, do olhar de desejo. De nós aqui tomando a rua como uma revolução esquecida. Como uma batucada de bamba. Como uma batida eletrônica de carinho. Como o carnaval de Salvador.

E ainda tem mais nos anos que v(e)(i)rão.

Foto: Carol Garcia

Para o meu carnaval bonito na cidade de São Salvador da Bahia. Para as pinturas da timbalada que me comovem. Para a beleza do estar junto de minha amiga Lari. Pela energia pulsante de Zediz e Digo. Pelas vontades de Mila, Celis, Rafa, Mile. Pelo bom encontro de Moniquete, Pri, Kerols, Caio, Franklin, Aline, Sorriso, Eugênio, Roberto, Key, Jau, Kimis. Pela Nação que Zumbi, pelo bailinho. Pelas coreografias, pela boniteza dos filhos de Gandhy. Pelas tantas bonitas pessoas que conheço e bem desconheço também. Pelo chame gente desenfreado. Pelo giro mundo. Por acelerar e agradecer bonito da minha pequena EVA. E então já é carnaval.

19 de fevereiro de 2011

Sobre o sexo - Parte II


São dois. Não estão exatamente sozinho. Mas um mundo de liberdades os ronda. A assiduidade dos corpos em se encontrarem é mais do que inevitável, é reconfortante. Soltos a tensão de não estarem os rasgam mais do que a solidão de quando estão juntos. E então continua.

A mão cavouca como se ela própria quisesse chegar ao fundo, ao limite da junção de dois. Ora, lateja em propensão a sensualidade proferida pelos poros corporais. Sentem, um do outro, o arrepio que dá o tesão e a experimentação do gosto e do saboroso gosto do sexo. Ampliou a sinestesia, prazer doloroso, como se fosse o afágo da materialidade.

E mais, a lígua percorre o tronco... peitos, peles e umbigos. Úmidos. E então o gosto na boca é de carne, refluxo de sangue e ardência. Suspiros e ais. Um quase orgasmo declarado solenemente. Mas segue o fluxo e mais...

Ilustração: Vânia Medeiros

7 de fevereiro de 2011

Sobre o sexo - parte I


Um corpo e mais um desejo. Roupas. Distância e olho no olho. Despe-se o outro com um olhar. Enconsta e respiração, expiração na face, baforada quente de volúpia. Enconsta. Lábios na bochecha, pescoço virado. Lábios no pescoço. Ardência, arrepios no pelo, lábios sobem de pescoço para orelha. Beijos constantes e mordida no lobo. Lábios lambuzam a bochecha novamente procurando os outros. Encontro, faíscas, uma abertura assimétrica, entradas e saídas.

Mãos - são apertos na nuca, procura a posição nas costas, encaixe na coluna. Carícias pelo cabelo, toques nos ombros largos que se mobilizam pela suavidade do tato. Deslizes, desce a mão e acha os bolsos de trás da calça, aperto.

Respiração, toque, cheiro!

continua...


Foto: Pedro Vasconcelos

26 de janeiro de 2011

Bel prazer [ou pronto para ser amado]


Pan-ilimitado saído do lugar mais amplo da diversidade
queria inclusive desviar dos limites
como se pudera destituir-se das fronteiras.
Ridículo e não se importava ao mesmo tempo em que lhe dirimia os sentimentos de infinitude.

Mas é um tolo mesmo distraído da literatura,
informalizou a inquietação mas ardiam os desejos limiares.
Quase que se projetando na casa da saudade
vontade de ciúme barato pela sua pessoa
instingante coragem de querer bem.

Interessante foi que a moça lhe disse que para se saber pessoa faz-se necessário detalhes de escova de dente na pia e toalha molhada encima da cama
estava entendido o amor em palavras, estava liberto.

Pois que se faça chegar o rei
aquele quem cuidará de seus versos prolixos
além de suas confabulações solitárias
o que tocará em pontos sensíveis de seu prazer
e amansará sua vergonha de simplesmente não ser.

Ilustração: Vânia Medeiros