16 de fevereiro de 2008

Carnavália III


E tudo estava tão completamente sereno. A luz serena, os passos de serenidade. Quando me fez luz de sentidos e uma outra ambiência me foi posta. Era aquele lugar de mim, às quais minha memória se confortava. E mais. Era carnaval.

De certo, me propus a vivenciar o gozo simbólico e nada mais eu era que vontade de passos. Conectado me transformei fácil em beleza, por que as cores da ambiência, os andares juntos, as escolhas simbólicas faziam a decoração inevitável dos dias de calor.

E então tinha mais, música daquele lugar, danças daquele lugar e grandes ilustrações em consonância com a estética da diveridade - eu e os arrecifes todos.
De convergência em cada um tinha um coração. Voava por mangues daquele lugar, sentado num paço, quase rente à cultura de livraria do rio versado em João Cabral. O camarão era sopa e as pessoas em volta mais que máscaras, fantasias!

A sensação de preenchimento me desenhava sorrisos e os encontros eram de energias. Ver e interagir de forma simples, a amizade de dias atrás.
Aquele lugar me faz sentir aqui no chão. Como se tudo fizesse muito sentido. Dos choros na Caxangá, do sozinho com meus pensamentos em andanças no espaço antigo, das malas no subterrâneo, de um Brennand simples, de picanha com macaxeira.

E mais de uma noite onde os tambores são silenciosos e me transporto pelos lugares de roda e os espetáculos quase sonhos. Me tranquilizava o saber e os meninos que me circundavam me iluminavam de outros desejos.


Depois que os pés se passam por pontes, por auroras de ruas, tudo é imprevisível, inclusive a emoção.


Os momentos eram mais do que integrais, eram marcados de sorte. Luzes ao lado acompanhando e uma intimidade com aquelas ruas. Um cheiro de produção cultural, bonitos de juventude nas ruas. Quanta ladeiras e outros carnavais!


* Foto: Carol Garcia

(Com carinho à Pat, Zé Diego e Franklin por dividir os momentos, o espaço, o estar junto. A Carol e Denis pela cumplicidade e pela alegria de viver os momentos. À Fernandinho, Wilkiner, Adelle, Rafaela, Lenoca por encontros. à dona Lenira pela acolhida e aos pequenos companheiros de conversas na porta de casa Michael - gordo - e João Carlos - Scott. À multidão e aos cantores, dançarinos, artistas plásticos vibrantes daquele carnaval. Ao seu Paulo do Banco do Brasil por tudo. Ao Carnaval 2008 em Recife e que venham próximos)

13 de fevereiro de 2008

Das árvores estradas...


De certa forma, a homérica ilusão do quereres fica inocentado. O desejo é tão in que despreza o alheio de forma exasperada. Daí a sensação de que a vontade que dá é mais ingênua nuance da dualidade em mim. O mais impactante está no fato de deixar-se entender que é de desejo que se constrói caminhos, metaforizando diretamente os passos em gozo.

O problema não está no fato de ser o querer diretamente proporcional a diletante construção da estrada, mas do caminho em si não ser mais que uma árvore. Assim, sendo a árvore o caminho, trata de lembrar que o desejo ramificado requer escolha de gozo simbólico. Isso partindo do tal pressuposto da vontade como integrante composto do eu dúbio.

Passo dado, então, deve se inferir rupturas tão práticas como prazerosas.

Mais um elemento. Tenho a sensação sutil de que não tenho conseguido andar e visualizar caminho de forma menos fabulosa (exercício de enxergar as possibilidades na sensatez racional possível), se torna repetitivo - para não falar em dor. Daí, a inexistência do gozo, a estaticidade dos dias perenes, o contraste sombreado da eternidade. Podada a árvore que é o caminho, parece então não restar tantas ramificações, sequer pensar em frutos.

Resta a dialética do desejo e a pergunta (ou nó!): existirá construção de caminho por desejos que não seja ilusão? Reconheceria a falta de liberdade na escolha dos passos? Choraria mais uma vez por, reconhecendo os desejos, saber da incapacidade insistente de não os tornar gozo, ou seja passos? Há esperança de caminho?

Fico de fato bastante óbvio que as respostas são tanto quanto visíveis; só falta saber se há possibilidade de responder às questões sobrevivendo a elas. A reflexão do tal medo é em si uma escolha - ou a necessidade dela; os instantes fulgazes se relacionam com a ausência do gozo, parado em frente a tentativa do caminho que, agora, é o próprio desejo. Nesta árvore sem folha, urge a imperatividade da falta do sentimento de impotência na vicissitude do querer. A ilusão já deixa de ser sutil quando da racionalidade do gozo e não o tê-lo se transforma na inoperência do caminho e todas as questões voltam a tona.

Viver agora tem como principal necessidade o quebrar os espelhos.

O instante do não se enxergar - ou ver a beleza no outro, possibilitaria conviver com o caminho a ser construido. Sem gozo, o desejo vira caminho / árvore seca e as ramificações solenes não são tais possibilidades de escolhas. Resta o vazio no desejo do toque, no cuidado e no carinho, do carimbo de eu gosto de você.

Sem afagos, escreve como se as palavras conseguissem construir árvores e sozinho percebe novamente no final das linhas delicadamente insensatas - e não lidas - que a homérica sensação do "quereres" fica inocentado, ingênuo que estou no gozo, sozinho que estou a caminhar.

Foto: Vânia Medeiros