22 de maio de 2010

Arcabouços


Surrupiou, anulou o samba das moças, segregou a ilusão do rock'in'rool. Quanto mais de sua meia verde. Punk pink de cheiro de sabão em pedras, aromatizado artificialmente com sugestão de rosas. Fazia sentido acordar - bom dia - lençol desarrumado, cuspir espuma de mentol com eucalypto, café escuro com mergulhos de biscoito maria, cabelo no espelho, chaves no cadeado de portão aberto, caminho.

- Te vi hoje, indo para o não sei aonde
- Olha... nem eu estava conseguindo me enxergar nesse dia normal
- Pois, pra mim não era assim "normal" pra você
- Meio exquizofrênico né?
- Lisonjeiro, diria. Captando a assiduidade do cotidiano, acho bonito.
- E por que não me indagou? talvez fizesse sentido pra mim acordar àquela manhã.
- Sorte minha se pudesse, ficou incompatível o espaço, era ambiente de movimento, construção de muitas imagens pela janela, cinema permanente até que...
- Até que...?
- Eu fui lá fora fazer parte do dia-a-dia.
- Não é que eu não goste do rotineiro, por favor não me leve a mal.
- Absolutamente, por isso achei especial a contemplação do óbvio
- Nem tampouco sou filófoso, bondade sua. Talvez estivesse a observar o que me era comum.
- Mesmo esse me chama atenção.
- Bonito esse seu olhar.

Compartilhou. Aludiu as alegrias estampadas nas rodas e saias girantes. Optou pela distorção holulante da corda da guitarra. Romântico pitanga do cheiro de folha de mangabeira de estradeira e lençol de chita da casa de minha vó. Era dúvida ao dormir - por que trocar de roupa? Não me vejo na tv? Lençol no chão, arrumado? Quem quer pensar no dia que ainda há de vir, se vier?

- Feliz?
- Juntos, diria eu!
- Então feliz, certo?
- Sim! No meu coletivo de cirandeiros.
-Obrigado e bons sonhos!