27 de novembro de 2007

Pra declarar minha saudade!


Parte VI - Pelo desejo

Ai! A imaginação furtiva desses caminhos. Sussura pra si como se o entendimento das sensações fossem tal gotas de água libertas em drops no oceano. Nem que quisesse mais, os limites o acompanharia. E não vai desistir... de continuar. Passa o tempo sem demora a reparar os traços que ele vai deixando no caminho, passa a noite com carinho, passa o vento com leveza, passa a destreza do querer bem, passa o frio de coberta, passa a chuva com tempo bom!

Djavan tocava Se... na vitrola pra ele.

Malemolente, vestiu-se com a segurança que o ambiente lhe preparara anteriormente, afinal era o dono da sala de estar. Já tinha descascado o abacaxi e preparado as folhas de hortelã quando uma mensagem o chega por qualquer sinal. Com uma frase que dizia: "a indecisão, as palavras subjetivas, seriam também forma de dizer que sim, ou não?"

Conseguia tocar em seu corpo viril. Lia os afluentes tranquilos de Rosa, se preparava pra mudar de vida e cantarolou baixo imaginando sussuro no ouvido do outro que chegaria (?):

"Se eu me entregar total
Meu medo é!
Você pensar que eu
Sou superficial...
(...)
Se você quiser
Ser meu namoradinho
E me der o seu carinho
Sem ter fim
Prá você eu digo:
Sim!..."*

"
Aí ele disse: vai querer?"
" Aí ele disse: por amor, ou por besteira?"**

Foto: Franklin Marques

*Trechos da música Pra você eu digo sim versão de Rita Lee / música de Jonh Lennon e Paul McCartney

**Trechos da música Amor de Muito de Chico Science.

21 de novembro de 2007

Pra declarar minha saudade!


Parte V - por que há continuidade...

Arriscou sentar no chão gelado pra sentir na pele a existência de um frio exterior. Não ajudaria muito degustar o brigadeiro, agora não mais quente. Pensava: se bastaria com seus pensamentos e molecagens? Então, guardou na adega (que agora criara) o vinho que tinha comprado para quando o outro chegasse.

Foi passar o tempo com refrigerante de limão e no apoderamento das palavras para criar outros simbolos.

A liberdade era acariciada pelo aproveitamento dos olhares alheios fora de si. A tudo se aconselhava toques de timbau e efeitos percussivos aliados a cordas afinadas. Roubou mensagens de amor de outrem [ficava pra si os desejos de amor que o tal personagem da história que via no cubo mágico dedicava ao outro personagem que não eram os atores em si, mas eles se fingindo de outros - como esse relatado?]

mastigou tomate (fruta preferida) e continuou...

Ilustração: Vânia Medeiros

20 de novembro de 2007

Conversas*


E lá vai o barco do nosso destino fluindo. enquanto de braços abertos, o vento (aquele do movimento) nos ergue e nos guia no tempo certo da nossa velocidade. Então sentimos o andar com todo o corpo! O desejo e o medo são amigos intímos. Penso que um se alimenta do outro. E vivem a nos alimentar...

No entanto, seria razoável colocar os desejos em dúvida e, por outro lado, desejar o duvidoso? Aliás, é possível desejar algo que não seja duvidoso, desconhecido e, portanto, desejável? Ou o desejo, sem dúvida, também pode co-existir com o medo do novo? Fico pensando... é mais fácil seguir em frente com as vontades e dúvidas. essa combinação nos forma e transforma a cada instante. é só permitimos. é só abrirmos os braços

Logo, o que seríamos sem as dúvidas? o que trazem os ventos? se a vontade nos move, a inquietude tem nos feito aprender. nos leva esse vento nos passos da dúvida. o além é a vontade de não ter certezas! e a vontade é o que move. movimento novamente. Logo sentimos o vento a nos levar mais e mais. e além.

Daí, tudo é mais colorido. a vontade de luz, a ilusão do cinza, a busca. virtuar-se pelo caminho dos desejos! sentir falta dela [a luz], vontade! é. e o melhor não é o encontro com ela [a luz]. é a sua busca. nessa busca podemos ser ela. ah! se o cinza for capaz de nos mostrar as cores que o forma... talvez a gente fosse capaz de descontrui-lo sempre sem pestanejar. De certo, não precisamos sempre de todas as cores, no fundo queremos é encontrar a luz... e descortiná-lo cabe a mim. eu vou esperar o dia que chega com o sorriso que eu quero que ele me abra. e assim fica fácil de achar o ritmo do movimento e o tom da cor certa. o segredo é aproveitar bem o cinza pra valorizar ainda mais a vida das cores que pintamos.

Em tempos de falta de cores, a gente acaba esquecendo que o cinza também é uma cor. Na vontade de que o tempo passe, se deslumbrar pela vontade de arco-íris é natural. E, como se fosse de repente, goticulas de agua penetram raios de sol. Outro dia vem chegando... às vezes a gente não consegue colorir. não consegue movimento. Uma pausa para reencontrar o encantamento do simples. O simples encantamento. Nem sempre as cores vem.

Pois é aí que o dia toma o sentido que ela merece. O sentido são as cores em movimento, que nos remete ao frio, que nos ensina a brincar. a flor e a lua. tudo é luz, e então cores do dia que são!
e então brincamos de verdade. A verdade pode ser o perfume da flor desejada ou a luz da Lua admirada. O cotidiano fica iluminado e perfumado, mesmo que a nossa volta tudo esteja cinza. A verdade [brincada] dá cor ao dia.

E então... corre pelos ventos uma sensação de aroma de flor de verdade, daquelas que se abrem para a inventividade mais próxima, que desvia as vicisssitudes do corriqueiro. Como se a verdade fosse a brincadeira mais gostosa.

Movimentar a verdade é a principal demanda. Nós demandamos até de verdade-inventada, desde que seja bem lúdica [linda].

O desejo, então, é a demanda do dia-a-dia! Movimenta verdade, alimenta saudades!


Ilustração: Bianca Pyl

*Este texto é resultado da troca de recados com a doce e delicada flor Bianca Pyl e participação de um carioca super querido Gustavo Barreto. Pra mim se formou como um texto só nossos diálogos. Lindos :D

18 de novembro de 2007

Pra declarar minha saudade!


Parte IV - era criatividade?

Então respirou o ar da cidade, procurando acalanto para seu sentimento de vontade. Pisava macio, tocava na rua como se fosse parte dele mesmo. Crescia então a esperança. Estaria com aquela sensação de que agora podia compartilhar os mais puros sentimentos de enlace, carinho se satisfação com as coisas simples? Dividir as cores e os ventos nos cabelos?

Comentou o amor com seu José da padaria. Trocou carícias com a menina que ainda brincava na praça. Alimentou os olhos com a velocidade dos carros a passar, do verde e amarelo escuro das árvores, das amêndoas no chão.

Foi pra casa qual ligeiro. Estaria ancioso.

E então, lembrou que era apenas vontade, desejo. Que como sempre, o outro não viria, por que o outro mesmo não sabia de seus desejos e mais: o outro tem outros desejos imaginários, outras questões mais importantes, outros amores.

Comprou o vinho à toa. Foi procurar suco na geladeira. Chorou pro amigo mais próximo. Falou com o outro no telefone. Ficou sozinho.

Ilustração: Vânia Medeiros

Pra declarar minha saudade!


Parte III - arrumando a casa

A verdade é que os limites do desejo não eram impassiveis de medos sutis ou de sensação de prazer no mistério. Qualquer coisa que pudesse ser sinal, vento passando diferente, música tocando na vitrola, indicação do horóscopo por email, tudo o chamava atenção pela expectativa. Parecia que ainda faltava-lhe arrumação, mas arrumação dos sentimentos, da forma de agir e ser. Ia tentando organizar concomitantemente como o fazia com os objetos da casa. Pensava sempre na criação como parte de um ritual simbólico do encontro. "falta pouco", pensava. E se entusiasmava com o cheiro bom que exalava.

alimentava os passaros da imaginação, bichos de estimação da fantasia. Bailando pela casa por que assim o sabia fazer para neutralizar os ânimos. Cantar no microfone imaginário, rabiscar pedaços ligeiros de papel, ensaiar a recepção.

Depois de recitar sonetos de amor de Neruda para si mesmo, acolheu em seu colo as caricias sonhadas. Pegou carteira, chaves, mp3 e celular e foi andar...

Foto: Ingrid Klinkby

16 de novembro de 2007

Pra declarar minha saudade!


Parte II - Em expectativa

Os momentos são propostos de criações íngrimes de ambiências. Cria dispositivo de ampliação do que se projeta para um acontecimento adiante. Mistura as sensações da latente liberdade privada do agora para o prazer da indefinição do depois. Então, tudo continua sendo (uma constante) criação subjetiva.

Plasticamente, o tempo é o espaço.

Aumentou um pouco mais o volume para degustar aquela canção em especial. Só pensou na situação (espaço/tempo) quando percebeu que para um clima mais aconchegante era necessário trocar o refrigerante de limão por uma bebida mais encorpada (o caro leitor pensaria em vinho, o personagem não fugiria à regra).

Foto: Rodrigo Fuzar

15 de novembro de 2007

Pra declarar minha saudade!*


Parte I - À espera...

Aquele grito foi porque acabara de machucar o dedo cozinhando brigadeiro na tarde envolvente de domingo. A casa estava vazia, mas o refrigerante no congelador e os filmes na mesa de centro da sala denunciavam a espera da visita. Tinha música nova na lista de reprodução do computador. Tão envolvente, queria impressionar o convidado quanto à sua atualidade sonora. Devia confessar que as habilidades culinarísticas eram apenas hobby em ascensão. Acho que agora faltava pouco tempo, então, aumenta o volume da caixa de som e, radiante, se faz imergir em águas frias e refrescantes.

Enquanto banhava-se, entoava canto exasperado, mas inofensivo (porém, isso não vem ao caso). Emnava um encantamento imaginário, digno de produção de imagens. Gritos de Picasso? Sonhos de Van Gogh? Borrões de Monet? Era um traço forte, mácula de um abstrato preponderante milindrando desejos exaustos, como aquele "cheiro de manga madura"**. Preparava seu corpo e suas sensações também. Prosaico e audacioso.

Toalha de banho - deitado na cama
sonoridades e sonho!

Ilustração: Igor Souza

* "Pra declara minha saudade" é uma série de textículos que pretende ser uma historieta simples sobre amores, carinhos e desejos. Esse também é o nome de uma música interpretada por Maria Rita no seu álbum Samba Meu.
** Metáfora inventada por Helena Parente Cunha em seu livro "Mulher no espelho".