25 de março de 2007

carta sobre o olhar em movimento!


Ele esteve a pensar sobre a coisa de se conviver com as paisagens todas que lhe circundam sempre. Ás vezes, essa própria relação entre o eu e o objeto que se põe em forma na visão parece tão inatingível quanto o enigmático entendimento do conceito de "real". Enquanto transitava pelo espaço urbano, todas as trivialidades despercebidas pelo olhar banal característico, o fizeram refletir acerca do condicionamento estético, uma tal padrão, que, em loucura do instinto coletivo, poderia ser o fado do indivíduo. "Desver" a complexidade das cores, da simbologia do conjunto de sentidos na junção das palavras em tais letreiros luminosos, dos códigos indecifráveis que se pretendem orientadores no rito da ambiência.

Notou que tudo ao olhar tem sua própria versão e até o seu próprio não-dizer e, naturalmente, consolida sub-versões tal limitadoras que parece não ter fim em seu próprio ciclo de conceitos. Ou de tal forma ilustrada que provocam a competência do universo da imaginação e, de certo, propõe sentidos inusitados ao longo do caminho. Assim, a era do maniqueísmo deveria estar difusa em alguma parte de um passado remoto.

Com o objetivo de ser mais objetivo, pensa que tais cruciais e reveladores objetos custavam admitir sua reconstituição. Não admitia a prisão no dinamismo, mesmo que parecesse incrédulo e desencorajado. O espaço transparente comum tal rei não se exime de transformações constantes, não se vê no estar do parecer ser e no tal sim do mesmo sim que encanta Caetano. modurado - circulo!

Assim, de leve, há uma verdadeira confusão entre o reflexo inseguro do espaço que se diz em movimento e se reflete no mais irritadiço repouso. SONO DAS PEDRAS. Parece que nem o calor pode fragmentar, ou apenas, dilatar seus mais sinceros sentimentos de mudança. Em partes desiguais... ele é outro a seguir....

  • Tinha a nítida possibilidade de entrar. Duas vias de acesso ao tal saguão principal. Dentro da possibilidade, a sugestão, ou seja, dúvida!
Ilustração: Vânia Medeiros

18 de março de 2007

Ao caminho... passos!


Primeiro, penso que não estou andando por aceitar as correntes de meus próprios passos. Me demiti da simbologia abstrata há algum tempo atrás, mesmo sem me perguntar muito o por quê disso tudo me fazer muito mal. Também não tenho medo das conseqüências de não saber de certo o que é real para muitos. Tenho adquirido saberes importantes no olhar e a coisa mais sincera que posso afirmar aqui agora é que a lição real do não-saber foge do estigma da humildade e passa ao sentimento pura da ignorância. Amistosamente, tenho reparado na ambição de minhas caminhadas por lugares estreitos. Faço silêncio quando necessário, não para escutar alguma voz que seja subliminar para as escolhas bem feitas. Não há mais ingenuidade na provisão infantil de qualquer sentimento de culpa que se possa ter a partir de agora. Mas fico quieto por que não tenho nada a dizer que vá servir para que eles andem com mais facilidade. Alimentando os egos (e subgêneros desse presente perfeito), a escrita não é por lição a outrem, mas para me dizer caminhando.

"A coisa é tão delicada que eu me espanto de que ela chegue a ser visível. E há coisas ainda tão mais delicadas que estas não são visíveis. Mas todas elas têm uma delicadeza equivalente ao que significa para o nosso corpo ter um rosto: a sensibilização do corpo que é um rosto humano. A coisa tem uma sensibilização dela própria como um rosto"*

Ao deixar-me submeter a todos os aspectos de tal egocentrismo.

Então... a gente caminhava indiferentemente aos acontecimentos que circundava os corpos. Uma situação tal inóspita, sem causa fundada, sem nenhum desespero. Estávamos tranqüilos nessa decisão. Particularmente não estava preso a vulnerabilidades e não que ao meu lado até o pensamento vivenciava ares de liberdades gigantescas.

Produzíamos até sensações esdrúxulas com a boca, sem precisar apelar para qualquer diálogo suprareal sobre a filosofia da intensidade de viver em tais insignificantes novos tempos. Seria de tal forma ridículo se não encarássemos a complexidade do fato no olhar do outro como ridicularidades substanciais. Seria até lírico imaginar que os desejos da língua, marca de um ousado limite (ou a ausência de), viriam de um vermelho latente característico do gosto comum pela película almodovariana. Então não é insensato a existência de similares sensações.

“A meia altura de uma árvore indeterminada, um pássaro invisível empenhava-se em que fosse breve o dia, explorando com uma nota prolongada a solidão circundante, mas recebia desta uma réplica tão unânime, um contragolpe tão reduplicado de silêncio e imobilidade que dir-se-ia que ele acabava de parar para sempre o instante que procurava fazer passar mais depressa.”**

Tinha-se um profundo enlace na gestão das sensibilidades. A distração era argumento sempre para a primazia da escolha pelo momento de preguiça sem tédio, muito menos culpa. Logo, não se pretende pedir perdão por não querer ser. Enquanto houver a possibilidade do caminho espontâneo haverá, de forma simples, a singela vibração transeunte do conduzir e do manter a necessidade da aliança - elo sensível.

Indiferente da abstração, viria a derrubar literalmente, todas os paradigmas do ser, sem conseguir estar aparentemente satisfeito com o que se estava sendo. Sentei-me em algum lugar (invisível), me deixando inesperadamente ouvir músicas de Chico (Buarque) como se entendesse da criação de realidades significativamente concretas. Tomei cerveja preta trivialmente sem sentir sinais de cansaço.

"Roda, toda gente roda
ao redor nesta praça
e formosa
(...)
no meio da tarde de um imenso jardim"***

Ainda se sonharia entre pinturas de Van Gogh e suas loucuras todas seriam sensações de leveza. A delicada ilusão de estar criando na imaginação. Cheirou uma flor só e ouviu a música ainda a tocar.

Ilustração: Vânia Medeiros

* Trecho do livro A Paixão Segundo G.H. de Clarice Lispector
** Trecho do livro No Caminho de Swann de Marcel Proust
*** Trecho da Música Domingo de Caetano Veloso

4 de março de 2007

A palavra e o tempo


Ademais
enquanto houver inferência
novas lógicas serão perceptíveis
crises como mudanças
e as transformações
não se limitam mais.
Margem e inerência
capacidade de ser
mais do que o é e estar junto

Quando for sol
e percepção da manhãnzinha
uma mulher é concretude
um homem é sonho
e tudo muda com o tempo

A analogia fundamental
é a alegria instrumental
parte de diálogo natural
e sagaz da imagem

Na certeza insensata,
nunca é absurdo
assim como antes é indiferente
assim como depois ainda não é

Na primazia do soberano
miticidade é ambiência constante
e dentro de sensações mais profundas
viver é imprecisão
nada de sim e não
criatividade de ilusão
imagem e ação
vivacidade

Ainda o hoje é o necessário
como o amar pras flores
como o sentir pro coração.

Ilustração: Vânia Medeiros

(A homenagem que se pode fazer a um mestre é fazer a arte de sua vida. Dessa forma essa poesia é para Zeca e dele, como o quiser. Em outra etapa de sua história agora ele alça outras poesias e o é em saudade! Fique bem poeta, vá em paz... E a gente fica com a poesia... ou seja, a beleza continuará!)

1 de março de 2007

carnavália II


"Eu fui atrás do caminhão, fazer meu carnaval e o carnaval é feito do coração..."*

Quando dos passos ao andar caminhos se abrem, novas formas de ver a luz se inicia. Um santo para proteger a estrada, uma sensação de liberdade se amplia. O objetivo era a diversão contínua e o sentimento apreendido não abstraia outra ilusão que não fosse o estar junto e proferindo sons que motivassem o movimento do corpo.



" Groove de primeira até quarta-feira
Vou atrás do caminhão
Som de samba reggae
Coração que segue
A alegria do povão"**

Imagine que uma grande energia motivava o brilho no olhar. O estar próximo, a conquista da beleza, alinhado a grande conquista do con-viver. Naturalmente a primazia limiar não absorve nenhum desafio maior, mas o que se prendia era o arrepiar a pele, o cantar acompanhado, a dança qualquer.

De repente todos tinham se tornado Adão, mas grandes EVAs na avenida a dentro, pra lá e pra cá. Do lado de uma imensa corda (e outras conversas se desdobram), todos se tornavam pipocas, mais, pipocão! Proferindo camadas no meio da multidão, sou camaleão com Asas de Águia. Todos atrás de uma fubica elétrica onde cabe mais que 1, cabem 2222 expressos... Mais liberdades, sentimentos de negra cores no Ilê, Malê.

Era samba na avenida, era crocodilo. Entre chuva e sol, triatro puxava crocodilos e intertri soava os sons de orixás. Nessa terra, Ghandi circula entre mascarados. E haja amor!

Um grande carro, muita luz e sons... e gente, muita gente atrás do caminhão elétrico!

"De volta pra casa
Cruzando a cidade
Em qualquer lugar eu vou tirando um som
Batuque de raça
Sangue novo na praça
Sintonizo o radio nesse barulhinho bom"

Parado, chiclete é com banana (nana)
Barulho contagiava a multidão de diversidades (ao fat boy slim)
Acompanhando a alegria do caminhar (trio elétrico)
Sentimento de pertencimento e identidade (s-o-t-e-r-o-p-o-l-i-t-a-n-o)

* Trecho da música Eu fui atrás do caminhão de Clori Roger (cantado por Chiclete com Banana)
** Trecho da música Carnaval de Salvador de Saulo e Sérgio Fernandes (cantado pela Banda Eva)
*** Trecho da música Barulhinho Bom cantado pela banda Negra Cor

(texto em homenagem aos PPS que fizeram comigo a possibilidade de estar na singeleza da alegria sem prescrição e nem impedimentos de prazeres momentâneos. Amo vocês. Aos APPS muito importantes também nessa vivência de dias alegres. À Xotoko, Darlan, Dan, Roger, menina Quel, Adelino. A linda Van e Igor pela cia no caminho Barra Ondina eletrônicos. E aos 2 milhões de pessoas, que com fé e simplicidade fizeram a beleza de um carnaval inesquecível)