7 de janeiro de 2010

Ain't no sunshine*


Ele logo me olhou com esmero, antes mesmo de eu estender o olhar para sua direção. Nem sequer pressentia aquele vislmbre. O desvio sínico do olhar o denunciou entre batuques e luzes amarelas. Era quase carnaval na cidade, era calor de janeiro. Batucada na rua para alegrar os corações alheios. Também para vender música de sucesso e manter a indústria do entretenimento. Mas isso pra ele é uma página a virar. O que mais importava era a pele escura que exalava frescor, como cheiro de flor de laranjeira no salão de samba antigo ou perfume de pitanga no cangote da menina [imagem borrada de melancia no chão caída da janela]. Queria eu que cessassem os arrepios ao sentir o cheiro das folhas de pitanga que se jogam no chão em oferenda, talvez não sentisse também a vontade que dá dos braços dele acariciando meu braço até apertar de leve a minha nuca como carinho desavisado no meio do dia. O sol nos aproxima cada vez mais, como se a pele entrasse em contato com uma energia de ligação, produção e criatividade de cores. Passam o sol se pondo, a lua cheia do mar, a areia quente que se vê da janela do ônibus, o verde dos coqueiros do Jardim de Alah. A alegria é quase uma ditadura, sorrisos abertos para a coletividade impera. No fundo, me sinto cansado, até lembrar que ele me procura pela cidade de ladeiras...

*Título de música do Jackson 5

Um comentário:

Franklin Marques disse...

tudo me parece um sorriso de canto de boca que se esconde durante o dia, mas não se esquece seja lá qual for a hora... os mais atentos o percebem, acerto?
beijo meu amigo!