27 de dezembro de 2009

Por uma noite apenas


Nossas mãos se encontraram num similar toque. Algo tão inesperado como um episódio inédito daquele seriado na madrugada de sábado quando nada se tem a fazer. Felicidade espontânea. E tudo mais era um glorioso sentimento de mistério e de sorte. Havia muita coisa a ser dita e antes de mais nada havia pouco a ser proposto. Ufa, ainda temos as noites para passar em claro só para enaltecer a nossa companhia. E eu que não mais me imaginava no impulso do amor sem contenção, estava lá a admirar o momento como magia ímpar. Queria que a solidão tivesse ali a me ver naquele momento, morreria de tédio e ligeiramente se sentiria rejeitada. Particularmente, estava inteiro ali, com um palpitar sensível e uma vontade de que o olhar se ampliasse e de forma crescente como assim queria nosso pensar.

E assim continuava. Sem teto para vôos inseguros, sem chão para lisergias irrisórias. Cartas de baralho eram fichinhas, o que estava em jogo era o estar imerso um no outro. E não mais bastava, estávamos dentro um do outro, tão entranhados que se libertava de concretudes amenas. Que os outros ouvissem os nossos ruídos de emoção não nos importava, embora poderíamos incomodar com a altura da nossa falta de limite, da nossa zoada simbólica, do nosso despir-se. Desnudos, éramos só o sexo! Puro equilíbrio, tesão sem nostalgia, tensão com prazer. Encarnados na madrugada afora.

Quanto mais se ia a escuridão lá fora para um lugar descompromissado com a agonia, mais neblina torneava a luz amarelada que penetrava amena pela fresta da porta entrecortada pela persiana. Iluminava parte do rosto dele que de vez em quando se transformava em sorriso ou em rusga de apaziguamento. Observamos que não tínhamos mais relógio possível e que também não podíamos deixar de pensar que haveria de chegar o momento do sonho. Mesmo assim a nossa esperança de cumplicidade nos impedia de sair Dalí, por desejo.

Mais se colocava o toque como pincelada de palavras vãs e conversas rasteiras do que a noite nos propunha. Éramos profundos demais para requerer uma vida desassistida de encontro. Mal se podia parar de pensar no próximo momento e como era divertido passear pela simples capacidade de compreender. Era o amor ali, como paixão pelo discurso. Um beijo na alma. E tinham ali mãos encontradas, certas de que mesmo vindo o depois, sempre estará ali aquele momento como a realidade mais possível. E então, sem radicalismos morais, com alteridade assistida, rodeado por um relativismo sensato, nos amamos como carrossel em parque de diversão. E como roda, segue a vida, agora em comum.

Pela convresa que tivemos e pelo amor ampliado

Um comentário:

Franklin Marques disse...

que felicidade, que beleza, que alegria, quanta emoção! que ofegante, que zumbido, que cores, sons e cheiros... ahhh, que prazer!
Meu amigo, que belo texto, fico feliz por eles, por você e quem mais vier.
Bjão enorme.