4 de abril de 2007

Cara Estranho*


Andava com fones no ouvido. E isso já dizia muito, ainda que não se soubesse o que passava de sonoridades para seu ouvido. O que mais importava imponentemente era a irrelevância de todas as situações a volta. Não era limitação, era procura pelos olhares abstratos mesmo que rígidos. Querias ter uma maior liberdade, sem precisar de tristezas ou qualquer outra justificativa para isolar-se nos fones de ouvido que lhe acompanhava o caminhar.

"My tea's gone cold, I'm wondering why I got out of bed at all
the morning rain clouds up my window and I can't see at all
And even if I could it'd all be gray, but your picture on my wall
It reminds me that it's not so bad
It's not so bad"**

Tinha chão. Pedras, areia e muitos contextos por onde teria ainda que passar. E, claro, seu fone de ouvido. Ainda que de tão feliz cantasse chamando atenção dos transeuntes, pontuava sua liberdades acerca de demonstrações públicas de afeto.

Estivera pouco preocupado em continuar, mas existe de fato a interpretação real de o que se vê e o que não se possuia em imaginação. Construções acerca daquilo que se tem em memória é como um laço sensível entre o sonho e a perspectiva de um outro tempo presente. Por isso a música é essencial, para que o movimento seja compassado sem regras particulares, nem definições arquetípicas.

E, sem esperar por mais nada canta em voz alta:

"¿Quién me va a entregar sus emociones?
¿Quién me va a pedir que nunca le abandone?
¿Quién me tapará esta noche si hace frío?
¿Quién me va a curar el corazón partío?
¿Quién llenará de primaveras este enero,
y bajará la luna para que juguemos?
Dime, si tú te vas, dime cariño mío,
¿quién me va a curar el corazón partío?"***

Dançava, há poucos saltitando. Ridículo era não se entregar às faltas e, consequentemente, aos desejos. Dançava estranho e continuava a procurar a chuva pra acalantar o semi-árido constante do seu coração.

Ilustração: Vânia Medeiros

* Música de Marcelo Camelo
** Trecho da música Thank You de Dido Armstrong
*** Trecho da música Corazón Partío de Alejandro Sanz

7 comentários:

Unknown disse...

Ixi, comecei lendo assim: "Estava com fomes no ouvido"... devo estar.

Unknown disse...

Fones nos ouvidos e óculos nos olhos... um chama para dentro, o outro conjunta para fora? Fones nos ouvidos e óculos nos olhos...

Unknown disse...

um lago "sensível entre o sonho e a perspectiva de um outro tempo presente"...nele me afogava e entravam as águas no som dos fones de ouvidos.

Anônimo disse...

E agora enquanto caminhava queria as mesmas coisas do seu texto
uma maior liberdade
a possível providência das ponderações
talvez se desfazer delas num arrepio mais calmo do chão
recebendo só as chuvas com que não contavam os limites de seus dedos.

Unknown disse...

tenho uma incumbência (que palavra esquisita, meu deus) pra você:

tem uma mocinha ruiva no meu flíflí.
adivinha os pensamentos dela?

eu suspeito que ela ainda vai se movimentar muito, com seus sapatos de boneca verdes. mas isso é pra os próximos quadros...

teamo, cariño mio.

Anônimo disse...

"¿Quién me va a entregar sus emociones?
¿Quién me va a pedir que nunca le abandone?"

eu sei quem é esse cara estranho, mas seus fones não o deixa tão indiferente as coisas ao seu redor, quanto se diz.
OU deixa??


te amo mais.

Unknown disse...

Bom.
Achei isso pk me denomino cara estranho.
Ixi. Eh meio que eu e ao mesmo tempo não é!
Andar a companhia das músicas...
mudar de ritmo e canção rapidão...
Eh como a vida.
Como os meus dias.
Eh uma verdadeira canção...
Que posso repetir as mesmas estrofes quando quizer, posso melhorar e posso até brincar com as palavras.
Mas não!
Eu sigo regras de mera gramatica.
Olho pra o papel e não quero mais.
E escrevo, escrevo, infinitamente...eu só escrevo.

Augusto César
ou simplemente
CARA ESTRANHO