1 de março de 2008

chuvas e desejos em duo.


TAMPOUCO seria o infortúnio daquele homem em descrever os passos dela. Cuidadosamente, apenas a observou sutil e de forma displicente. Arguira a algum de onde a jeitosa silhueta que vira chegaste de mansinho, pois não acreditara que era real. Ela virou alguma esquina alí a frente e ele dispersou o pensamento. Atravessou a rua e se deparou com a imagem da cidade submetida ao sol escaldante daquele horário, que não importa agora. Talvez por que o sol amarelo produz luz branca, foi que ele teve agonia no peito, sem saber muito o por que de não se fazer entender-se por si.

Taí a solução de seus dilemas básicos, falta descrever as cores que consiga ver adiante (tanto no espaço, tanto pelo tempo que ainda chegará). Com malícia ajeitou os poucos cabelos e franziu a testa sem mostrar preocupação com o que teria que fazer. Tinha as suas responsabilidades, sabia, e as encarava com bom humor para passar as tardes que lhe faltavam. Questionara no vazio: pra que a vicissitude do tempo urgente se a primazia do futuro é o mistério? Mesmo assim tinham ações a cumprir que não eram de seu destino, mas de seus compromissos.

Seu forte era andar. Como conseguia decifrar o chão de léguas e o mar de corredezas acima, soprava o ar com vontade de vento frio em seus poros. Molhado, sim, as células sudoríparas não lhe falham. Pisou firme mais uma vez ajudando o outro pé a estar na frente, de tal forma mecânica que se pensasse sobre não andaria mais.

Pediu um sandwiche para comer, falava inglês com sotaque rígido de música pop, mascava chiclete de menta quando não escovava os dentes após o almoço. Mas nada é ilusório por que tem o diálogo na sua mais límpida forma de se ver interpretado. Para ele, o amor é feito de sensações de desejos recorrentes, tal qual o sonhar com transas e o ouvir atentamente o que o outro quer dizer, às vezes indagando-o.

Faltou ainda falar-te do sexo dele. Enaltecido estava por encontrar uma vontade de continuar a andar. Colocava a orelha e a cintura econstada sempre em algo frio pra sentir prazer. Era um homem, oras. Mulheres fabulosas jogariam pedras a ricochetear em lagos do centro da cidade.

Um homem que o estava seguindo notou a discrepância a que ele tratava o cotidiano. Não ousou o seguir mais e sentou na areia ainda a olhá-lo. Então ele enconstou e perguntou se o amigo tinha um cigarro. em troca da resposta negativa um beijo para sentir sua lingua e um silêncio junto para ouvir o mar. De lá sai a mulher a quem observava mais cedo. Descreveram juntos os passos dela e mais uma vez se beijaram.

Ele sente os mesmos desejos de antes. Agora, eles sentem desejos em conjunto.

"I kiss you on the brain in the shadow of a train
I kiss you all starry eyed, my body's swinging from side to side
I don't see what anyone can see,
in anyone else but you"*


Foto: Tiago Lima

* Trecho da música anyone else but you de The Moldy Peaches

6 comentários:

Rick Gentil disse...

"pra que a vicissitude do tempo urgente se a primazia do futuro é o mistério?"

a ignorância às vezes pode ser uma virtude. pq saber as coisas d imediato, qnd se tem prazer no acontecimento inesperado? a banalidade das coisas nos faz perder a capacidade d nos surpreendermos com as coisas da vida. p mim, isso eh q faz do homem um ser medíocre e incapaz.

gosto do q vc escreve, pq mostra q vc naum eh medíocre nem incapaz. Mais uma vez, suas palavras t definem...

=]

Larissa Santiago disse...

um beijo molhado à luz do sol... um desejo!

Zé Diego disse...

adoro a mistura dos pensamentos com acontecimentos mínimos, que conformam o todo, confluentes em episódios marcantes...escrever sempre alivia a minha alma, e ler muitas vezes também...

Larissa Santiago disse...

uma saudadeee "nem..."
bjinhosss

PatSodré disse...

São esses encontros que nos fazem novos...os encontros e as palavras.
E ser novo é ser o mesmo e diferente!

NEWtim.

Anônimo disse...

MEu amor.
Vai em MoBlog, vê um negocinho.


Adoros os beijos na praia, e o olhar atento a tudo fora do mar.