26 de setembro de 2016

Livro de cabeceira



É que o caminho desperto pelo cerco arrasta e perfilara os sentimentos um por um. Como se fosse pra uma apresentação sem lógica, mas que desmascara a estrutura desenhada de um objeto chamado corpo.

O primeiro que veio foi o desdesejo. Esse que só existe pelo outro sem prefixo. Sem atraso, disse que faz parte do olhar do outro pra si. "Se se olhar no espelho, bem no centro dele entenderá motivos de me oferecer de forma abjeta ao alheio", me disse com sinceridade.

Sufocou com um gole de água. Não era assim tão fácil assumir tal sentimento tão imponente de pronto. Talvez o segundo lhe fosse mais delicado.

Será então que daria pra encarar o desafeto? Ri baixinho pra que não se percebesse lágrimas. Mas é claro que em um corpo como tal, com uma alma como essa, o tal sentimento segundo não seria outra escolha. Me comprometi com o infortúnio sincero de não ser. E então, não poderia causar nada em outrem que não fosse o vazio. 

Tal qual comida indigesta que o espírito não metaboliza. Como água que descumpre sua própria função de matar a sede.

Talvez seja o caso jogar-me fora, antes de se apresentar o derradeiro sentimento. E de supetão lhe escancara o desamor. Me enfraquece as pernas, me escurece as vistas, me intoxica de verdades indiscretas. Nesse ponto, o nome exato que se pode dar ao futuro é solidão. Latejando o irreal sobre asas agora já devidamente cortadas. 

Devidamente exibidos, faz então necessário escolher não agredir quem quer que seja. Ora descrito como cara estranho, recolher-me embaixo da cama, atrás do sofá, mergulhado sem respiro, absorto no chão do quarto sem tapete. 

E o nome do romance auto-biográfico seria - Do homem evasivo de fé: desdesejo, desafeto e desamor. Sozinho na prateleira.

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