16 de maio de 2006

Estatizar por um momento


Um dia, um certo dia triste, a agonia se revelou tão compreensiva. Diferente de outros tempos já não passava por nenhum espaço a bonança. Foi muito violento estar nesse tempo. Um dia, um aquífero dia, tinha sonoridades que se discutia em sombras de mangueira esquecida pelos anos que se passaram. Nesse dia tão vazio, não tinha mais esperança nem propósito. Nesse dia faltava ninho pra passarinho, faltava pernas ao homem, só não faltava lágrimas aos pitorescos olhos. Estes, no final das contas, foi pintado triste pela menina. No mesmo lugar de entender a esquizofrenia. Não sei por que, mas dos detalhes daquele momento nada queria ir embora. Atônito. Pedrificado. Eu não quis mais amor nenhum. Não estava nem ao menos preparado para ouvir nada. Naquele dia de sincope, tinha derretido qualquer coisa em mim de maneira explícita. Tanto que eles perceberam por lá. Andar e os olhos a se perder pelo espaço. Escrever palavras estúpidas que não são do feitio. Analisar o mundo de forma tão grotesca que já tinha até caimento, não ia nunca mais crescer. Como é perder o amor? Largar-se pelo chão em desespero no chão do trabalho ou rir sem vontade para a menina confortante? Não há respostas cabíveis. Se o coração é de vidro nunca suportaria uma pedrada. Quebraria assim tão fácil, evidente que sim. Sem sentido. Palavras até então sem exatidão!

" Estranho mas já me sinto como um velho amigo seu
Seu all star azul combina com meu preto de cano alto
(...)
O tom que eu canto as minhas músicas pra tua voz
Parece exato
Estranho é gostar tanto do seu all star azul..."*

O chorar é resultado de uma dor tão intensa. Tão verdadeira. Tão exata que parece ter sentido. Estava tudo entendido. Meu amor egoísta. Meu eu egoísta. Minha forma estúpida de olhar o outro sempre. Nunca é tão versátil andar em chão de piso áspero e se deliciar com o som do piano gritando por um eco a se expandir. Não dava mais estar a derramar as estrelas por esse caminho a todo instante. Tinha que se concentrar em acreditar que tudo tinha sido deixado pra trás como se esquece aquele antigo texto declamado por séculos. Maquiagem descolada da máscara que coloquei agora. Borou tudo de novo. Ela não vai gostar de me ver assim. Há uma nuvem embaçada em frente aos olhos. Nem uma gota que insiste em cair daquele teto é visível por este aqui. As ruas estão bloqueadas. Não há nem transito nem pedestres. Até a chuva parou de cair. Nunca que eu quis falar de im. Exibir as imperfeições. Mas deixar que os prantos sejam pratos cheios para a poesia é não roubar dela o que lhe é necessário. O sofrer e querer bem.

" De onde vem o jeito tão sem defeito
que esse rapaz consegue fingir?
Olha esse sorriso tão indeciso
Esta se exibindo pra solidão
Não vão embora daqui
Eu sou o que vocês são
Não solta da minha mão
Não solta da minha mão

Eu não vou mudar não
Eu vou ficar são
Mesmo se for só
não vou ceder
Deus vai dar aval sim,
o mal vai ter fim
e no final assim calado
eu sei que vou ser coroado rei de mim"**

A busca nesse instante é ficar em silêncio. Ficar no vazio do quarto colorido. Ler o que é pra ser visto e contunar não entendendo nada, mas aceitando a condição de continuar ou não. De repente é um sofrer tão forte que nem poesia mais cabe nesse mar de olhar. É a descoberta de que a sensação de abandono é tão destruidora quanto qualquer outra forma de auto flagelo. A simples descoberta de que é impossível viver sem colo e quem o faz está fadado a um ser duro. É crueldade. Esquecer isso. Já acabou mesmo, não sobrou mais nada de mim. Só uns cacos de vidro de coração no chão. A menina que me pinta colorido custa a catar... E me pinta negro de fundo cada vez mais azul, além de cantar bem perto:

"Anda
tira essa dor do peito, anda
despe essa roupa preta e manda
seu corpo deslembrar

Canta
vira dor pelo avesso
Canta
larga essa vida assim as tontas
Deixa esse desenganar

Calma
Dê o tempo ao tempo, calma
alma
Põe cada coisa em seu lugar
E o dia virá, algum dia virá
Sem aviso

então..."***

Ainda faltou dizer que de cego ou de atrapalhado o menino, não esqueceu, mas perdeu de vista aquela flor. O menino dormiu no ponto. Chorou até o amanhecer. E quando de dia derrama lágrimas antes de tentar continuar a andar.

E, ao ouvir Caetano, lágrimas...

" Um amor assim delicado
Nenhum homem daria
Talvez tenha sido pecado
Apostar na alegria

Você pensa que eu tenho tudo
E vazio me deixa
Mas Deus não quer que eu fique mudo
E eu te grito esta queixa"****

Ilustração :: Do blog de Maria Fabriani

* Trecho da música All Star de Nando Reis (Na voz de Cássia Eller)
** Trecho da música De onde vem a calma de Marcelo Camelo
*** Música Sem Aviso de Franscisco Bosco e Fred Martins (Na voz de Maria Rita)
*** Trecho da música Queixa de Caetano Veloso

7 comentários:

Anônimo disse...

gosto tanto daqui...

f.

Amanda Luz disse...

Nossa Nilton, amei seu blog. Vi através do de Matheus. "Fabuloso Destino" tb é um dos meus filmes prediletos. E tb amo Nando Reis, e Los Hermanos, e Caetano... QUer parar de me imitar?! =P

Gostei mto de saber que vc escreve mui bien.

Bjo,
Amanda.

Iris de Oliveira disse...

Niltim!!!!!!!!!!! é vc? do CRIA? ( se não for me desculpe)
que lindo esse blog ( sinceramente lindo). textos deliciosos!!! que alegria para meu fim de tarde!!

um monte de beijo pra vc! fabuloso blog!

Matheus Magenta disse...

valeu niltim! ótimas referências no seu texto! parabéns, continue escrendo daí que eu vou tentar daqui! hehehehehe, abração!

Anônimo disse...

Cara o visual do seu blog tá muito legal. Colokei o seu blog como link no meu p/ sempre dar uma olhada vou divulgar p/ a galera

falowwwwwwwwwwwww

Lua disse...

Lembra que você havia me dito que achava que não conseguir expressar p/ os outros os seus sentimentos nos textos?ESQUEÇA! Isos pode ter acontecido com os anteriores, pois a partir deste sinto o começo de "UMA NOVA ERA". Perfeitamente lindo!Absolutamente identificável com a minha pessoa, e aposto que com outras também.
Cheiro, neguinho!

Liu Lisboa disse...

quando abri seu blog e vi o tamanho do texto pensei "poxa, queria ler, mas tô com tanto sono...vou ler só um pedacinho, depois leio mais". aí li um pedacinho, aí continuei lendo mais um pouco, "só mais essa frase"...e acabou que devorei seu texto todinho, que nem pedaço de bolo de chocolate com cobertura que a gente só passa o dedo e lambe.
deu pra entender que amei, né?