"Imagina
Imagina
Hoje à noite
A gente se peder
Imagina
Imagina
Hoje à noite
A lua se apagar
(...)
Sabe que o menino que passar debaixo do arco-íris vira moça, vira
A menina que cruzar de volta o arco-íris rapidinho vira volta a ser rapaz
A menina que passou no arco era o
Menino que passou no arco
E vai virar menina
Imagina
Imagina
Imagina"**
Foi-se ilusória e concisamente instaurada a perfeita atmosfera. Atraia comentários audaciosos. Maquinário de construção da idéia e imagem de um outrem que passa próximo. Aquele espaço para eles era o lugar dele e do outro que chegou. Apenas isso e nada mais. Pelo menos por enquanto. Durasse o tempo que fosse necessário. Pois da natureza da relevância tudo tomava conta dos pensamentos. Risos, aliás, gargalhadas. Contidas em apenas o derretimento de um olhar quase desviante. Mas ele estava alí, voltara. O outro o estava a esperar, movimento. Um caminhando lentamente (o instante comum passava-se o tempo sem pestanejar - porém o tempo deles era concreto e diferente dos demais). Ele apareceu para distrair a atenção que um outro tinha da reflexão justa e necessária que o tirava da liquidez e do desânimo. Acertou-se consigo que, como um leão deve fazer ao roçar sua limpa juba nas costas da sua leoa tão feroz quanto afável, amar era um passo delicado e gentil a outro momento imprescinível para a potencialidade de sua inteligência ainda imatura. É muito bom lembrar que não tinha música. Aliás naquele momento era inútil pensar nisso. Nem existia possibilidade de imagem e de som ao redor dele que chegara e dele que o esperava. Movimento.
"Diz quem é maior que o amor?
Me abraça forte agora, que é chegada a nossa hora
Vem, vamos além. Vão dizer
que a vida é passageira
Sem notar que a nossa estrela
vai cair"***
Chegou perto, olhou nos olhos (quando podia) e diálogo:
Ele (que esperava) - Do seu olhar, a limpeza que abstraio é a revelação de que um senhor de sentimentos apavora a coragem às avessas que impede de a felicidade ser experimentada em qualquer instante. Mas ainda não consigo conceber a dimensão que isso pode nos limitar e até esmaecer. Podemos provocar então outro signo rítmico?
Outro (que chegou) - A ansiedade dos poros é estarem abertos para sentirem com, cada vez mais nitidez, a proeza de alcançar um outro estágio das sensações. E isso nunca pode ser limitador. É consequência. E, mais do que isso simplesmente, é antecipar o gozo. Racionalizar a possibilidade de sentir. Mas pode parar por aqui e afeto do olhar continuar a sucumbir nossos espíritos luxuriosos.
Ele (que esperava) - Absolutamente espontâneo. Deve-se ter cuidado com as intemperes do caminho. Socorrer as vicissitudes e alimentar a vontade duradoura. E se a gente puder deslizar a imensidão e varrer outros lares? Acho que está na hora!
"De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zêlo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e darramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contetentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Que não seja imortal, pôsto que e chama
Mas que seja infinito enquanto dure"****
Foto: Vânia Medeiros
* Uma conversa um pouco maior para deleite dos apreciadores literatos e desprezo dos outros tantos. Limitação do autor: Falta de concisão e talvez um pouco de sensatez.
** Trechos da música Imagina de Chico Buarque e Tom Jobim
*** Trecho da música Conversa de Botas Batidas de Marcelo Camelo
**** Soneto de Fidelidade de Vinícius de Moraes
2 comentários:
eu estou GRITANDO.
(2 minutos depois...)
ainda estou GRITANDO.
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