14 de agosto de 2006

Felicidade - imaginação delicada


Dos limites que se observa no território do símbolo, do que se vê é beleza. É, de fato, ponto pacífico a linha do horizonte no mar. Trasnpor!

O cuidado com a singeleza das pétalas permite transcender o duro e usar o sólido com a flexibilidade delicada. Dar passos em relação a sobriedade tangível. Enxergar reflexos irrisórios da mente como diálogo consigo mesmo. A vontade de se confessar é natural. Dos limites que já não são mais visíveis, porém paupáveis, tácitos. Um vislumbre do que se pode ser quando se nada em direção à linha que pode não existir.

A felicidade é conversar na varanda da casa de quem não conheço com alguém de sandália na mão e sorriso bonito. Dele que me olha fixamente, uma pré-ocupação: As verdes bolinhas de gude e o vermelho-barro do campo de futebol. E, claro, o grito de gol.

Os passos não são dados. Parece que de alguma forma o paralisar não tem proferido o devido incômodo. Liquefação do desejo de movimento. Este não se mistura mais nas mais tênues vesículas. Continuar na estaticidade?

A ingenuidade faz novamente construir sem nenhum nexo a presença da culpa. É insensatez diferente da amargura. O signo do tempo é a esperança. Joga-se as bolas de gude verde no campo de futebol vermelho-barro e, com a chuva que cai, se completam a constência dos ritmos comunicáveis. Tudo fica colorido e, agora, com cheiro de terra molhada.

Mas, o que dizem os ventos?

"A franja na encosta
Cor de laranja
Capim rosa chá
O mel desses olhos luz
Mel de cor ímpar
O ouro ainda não bem verde da serra
A prata do trem
A lua e a estrela
Anel de turquesa
Os átomos todos dançam
Madruga
Reluz neblina
Crianças cor de romã
Entram no vagão
O oliva da nuvem chumbo
Ficando
Pra trás da manhã
E a seda azul do papel
Que envolve a maçã
As casas tão verde e rosa
Que vão passando ao nos ver passar
Os dois lados da janela
E aquela num tom de azul
Quase inexistente, azul que não há
Azul que é pura memória de algum lugar"*

Lá, de longe, a partilha se conserva. A troca combina livre com a sensação de emancipação. Reconquistar o evoluto. Re-evoluir. Travar com exaspero a batalha da imaginação delicada com o pragmatismo concreto. Dos dois se faz a iluminação da estrada.

A essencial inutilidade é o limiar dessa inteireza. Olhar a cidade com "justeza". Ver o espelho com tranquilidade. Apenas caminhar. Das flores invasivas, dos cheiros desconcertantes.

" Para Adidas o Conga: Nacional
Para o outono a folha: Exclusão
Para embaixo da sombra: Guarda-Sol
Para todas as coisas: Dicionário
Para que fiquem prontas: Paciência
Para dormir a fronha: Madrigal
Para brincar na gangorra: Dois
Para fazer uma toca: Bobs
Para beber uma coca: Drops
Para ferver uma sopa: Graus
Para a luz lá na roça: 220 volts
Para vigias em ronda: Café
Para limpar a lousa: Apagador
Para o beijo da moça: Paladar
Para uma voz muito rouca: Hortelã
Para a cor roxa: Ataúde
Para a galocha: Verlon
Para ser moda: Melancia
Para abrir a rosa: Temporada
Para aumentar a vitrola: Sábado"**

Para extrair simbolicamente o ato de desestatizar, AMOR.

Ilustração: Vânia Medeiros

*Trecho da música Trem das Cores de Caetano Veloso
** Trecho da música Diariamente de Nando Reis {Na voz de Marisa Monte}

Um comentário:

Raiça Bomfim disse...

Queria tento sentar numa varanda e conversar com vc sobre as imagens que você descreve...