5 de abril de 2015

Desalinho (parte 1)


- Você pode abrir sua mão pra mim?

- Nenhuma linha aqui pode alterar o compasso do meu ritmo de pensamento. Saber me ler exigirá um artefato um pouco mais complexo, infelizmente.

- Qualquer leitura é simbólica. Posso constatar então, o fato de que eu sou a figura complexa pra literatura de você. Mas não tem importância, a essa altura eu apenas estou interessado em saber por onde não passará o seu caminho, já que (foi interrompido com um susto e um olhar mais agressivo)

- Opa! Não sou literato, nem tampouco dado a signos qualquer. Queria te dizer de todo modo que não há sequer um passo que se dê a partir de agora que não se entrelace, inclusive os não caminhos. (gargalhou sozinho... de repente reverberou de lá uma risada tímida para acompanhar). [aqui deu um rompante e levantou como se fosse discursar] - De fato, o único lugar que eu quero estar é aqui dizendo essas baboseiras pra você.

- Eu já tinha percebido sua dúvida. Seus lampejos mesmo ao deitar aqui nessa esteira ao meu lado. [levanta também]. Mas e então, abrirás pra mim sua mão? Temes a leveza de um possível caminho junto?

- Olhe minha mão [abre a palma voltada para cima] e me diga se tem chance de amortecer o limite da mágoa? Não tem ai um invólucro criativo de não ser e é essa a questão aqui posta. O caminho nem sequer se faz mais importante do que o traço latejado da memória... me diz: supera aqui as barreiras do não saber-me? Do querer não ser muitas vezes? Não há, de fato, qualquer possível nesse ínterim de caminho junto.

- Estou triste com seu desdém. Um roteiro pré-formatado de agonia se permeia pelo seu desafeto. E é a única coisa que consigo ver na aspereza da sua mão, mesmo que tão delicada.

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- Eu entendo tanto de previsão quanto de física quântica

- Então é nesse momento que você me beija?

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