2 de março de 2006

Carnavália*


O sentimento de agrupamento... de pertencimento foi o limite do despreendimento do corpo e da alma. alegria, tinha-se ali possibilidade de felicidade em doses amigáveis. De paixões elevadas à vontade de permanecer observando era um pulo... tinha uma ponte que separava a loucura do desejo e, simplesmente, era muito tênue! Era frivolidade sim... era muito mágico e colorido... era belo e com todo seu conceito estético, afinal eram pessoas, era muita vida. Jeitos diferentes de encarar a concretude de lama do lugar. Era brilho, era brilho!


" Alegria
Pra cantar a batucada
As morenas vão sambar
Quem samba tem alegria!
Minha gente
Era tristre e amargurada
Inventou a batucada
Pra deixar de padecer
Salve o prazer
Da tristeza não quero saber
A tristeza me faz padecer
Vou deixar a cruel nostalgia
Vou fazer batucada de noite e de dia, vou sambar
Esperando a felicidade
Para ver se eu vou melhorar
Vou cantando , fingindo alegria
Para a humanidade não me ver chorar"**


Tudo na verdade não passou de um delito, uma fuga...
fazer esquecer... tirar da mente que existe um mundo real e que um outro mundo é difícil! A grandiosidade da sensação era unânime. A vontade era que a abstração fosse preponderante, que o sentimento de harmonia entre a energia interna e a fruição do espaço acontecesse de forma simples e foi fluidez que se via em toda a parte. O prazer estava posto à experimentação e foi providencial... Encontros, conhecer, trocar olhares e sensações... muitas muitas cores!


" É macaxeira, Imbiribeira, Bom pastor, é o Ibura, Ipseb, Torreão, Casa Amarela
Boa Viagem, Genipapo, Bonifácio, Santo Amaro, Madalena, BoaVista, Dois Irmãos
É Cais do porto, é Caxangá, é Brasilit, Beberibe, CDU, Capibaribe, é o Centrão
Eu falei!
Rios, pontes e overdrives - impressionantes esculturas de lama
Mangue, mangue, mangue, mangue, mangue, mangue, mangue
Rios, pontes e overdrives - impressionantes esculturas de lama
Mangue, mangue, mangue, mangue, mangue, mangue, mangue
E a lama come mocambo e no mocambo tem molambo
E o molambo já voou, caiu lá no calçamento bem no sol do meio-dia
O carro passou por cima e o molambo ficou lá"***


na entrega das sensações, nos brilhos de olhar, no abrir a casa (no amor)
no subir das ladeiras, nas máscaras, nos blocos (no ritmo)
na passagem do trem, no andar do taxímetro, no ônibus (CDU (Várzea))
na fantasia, nos presentinhos, nos sonhos (no pandeiro)
na chuva, no grande sol, no andar, no dançar (no sentir)


Grande carnavália...


* música de Carlinhos Brown, Marisa Monte e Arnaldo Antunes
** "Alegria" - música de Assis Valente e Durval Maia
*** Trecho da música "Rios, pontes e Overdrives" - composição Chico Science e Fred 04


(texto em homenagem ao carnaval 2006 em Recife - homenagem a Vân Van - lindo espírito de lulz que me levou; Moniquinha - linda alma que se entregou a nós; Leninha e Fernandinho que abriram as portas da casa e nos entregou a chave; Sarinha e Kerols pela lindissima companhia; e a outras tantas pessoas que conheci e que estavam junto a nós nessas noites)

3 comentários:

Anônimo disse...

Ahhh, que lindo!

Foi lindo demais ter embarcado nessa aventura musical com você, foram lindas nossas brincadeiras, nossos papos, nossas esperas do bom e velho CDU várzea, nossas cervejinhas e nossas tapiocas, nossos caminhares pelas impressionantes esculturas de lama daquela terra que eu amo.

Foi demais tudo!!

beijo em você e que venham mais carnavais!

Unknown disse...

Lindo Texto, Niltinho. Lindo Texto!!!
Aliás, amei sua escrita. Fluente e poética. Gostei demais.

Anônimo disse...

É sempre tempo de lembrar o Carnaval...o nosso Carná! Eu me sinto felicíssima por fazer parte desse momento, por estar nessas palavras, nessas lembranças... e como disse Moniquinha, seus textos são realmente fantásticos. Parabéns, meu Niltito! Amo-te.