14 de maio de 2012

Linhas e Pontos



Duas linhas não substituem o ponto, pensou constantemente entre tremores e desejos.

E era assim que estava, saliente dos vícios, cumprindo os prazos de todas as inconstantes vontades. Não se continha, cuspia no prato que nunca o deram para comer bem. Rasgou o leque em desterro, desafio, territórios de agonias impagáveis. Era um incompreendido, pensou os outros que não conseguia entender suas incoerências.

Era uma ave, com traços incontáveis e coloridos. Era uma mulher, com volúpia, com silhuetas nas janelas, com arte de fenda entre as pernas. Era ele quem assolava a vagareza das decisões alheias, era um touro charmoso, sem cabelos, com astúcia e uma cor de pele brilhante, saltando aos olhos.

Dois pontos constroem uma linha, bravejou sem identidade.

Deixou-se fotografar na tela, pintas eram vistas, um certo volume entre as pernas. Sem rigidez e com malemolência, ria de sua falta de paciência com o outro. Não o tinha em desejo, tinha em fraternidade, mas gostava de ser bajulado pelo traquejo, pela ilusão.

Gozou de si mesmo, insensível que estava, desligou-se da câmera que o acariciava como um símbolo de que não há conexão, não há apropriação do corpo alheio, nem em imaginação. Ele se bastava, era ela naquele momento de tão feroz. Era ele naquele sorriso tímido. Era o outro que o tinha em carícias, era a outra (o outro) que perdia sua dignidade pelo tempo em  constância.

Dois pontos e duas curvas irão se encontrar, bocejou insensato...

Foto: Caio Barbo

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