16 de julho de 2013

As Pintantes


Eram disformes em solidão. Ora, para quê tanta envergadura e tédio, se se podiam mais obtusas? E foi assim que acolheram pedras e poeira no cotidiano. Uma mais que a outra, de fato, sem perenidades vacilantes, sem agonias ou vícios falidos. Um dia se embrenhou pelo campo de matas irreconhecíveis como se não tivera medo, mas era mesmo um amarelo ouro de cidade sitiada que a prendia. Uma sem medo, como se fosse um, uma travestido de linguagem. Outra "sujismunda" de rudes alegrias pululantes. A outra mais normal mesmo, sem saber tanto de si.

Tomou o rumo fora de mim as três, mesmo que uma delas fosse homem. Era como se eu não fosse tão elas, personagens principais de uma trama de veludo. Estampando gravuras com sobreposição de imagens cortadas sem rito, sem pressuposto. Um descompasso de linearidade, sem intenção, com problemática!

Elas ovulavam juntas, como se o desejo proeminente de um tato hormonal sobressaísse sem cabimento. O argumento era de que não tinham nada em comum, além do tesão ao mesmo tempo. Repito, uma delas nem ela era como queria que fosse, até ser. Mesmo ovulando. Mostrou detalhes do seu sexo para provar-se indecisa e as outras sarapintavam as esquinas da ilusão de ser. E riam, absolutamente sem nexo.

Um dia, foram as três imbuídas pelas dúvidas ao mesmo caminho do traço. Uma mais veloz que a outra. Pelo caminho, ergueram torres de sustentação, riscos em um verde singular, tecidos rasgados com as mãos de forma a deixar um corte assimétrico por vontade, pinturas no chão da cidade e até música feita de sabor de coco e umbu. Essas mulheres que pintam me comovem, pensou o senhor à espreita. E, quando cansadas, continuaram a produzir aquela sensação de desapego.

Não tinha final, mas se assim o fosse, três desenhos corromperiam nossas visões, delas!

Ilustração: Vânia Medeiros

Nenhum comentário: