29 de julho de 2013

Cheiro de parque [ou magnetismo em tato]



Um gosto de verde me pegou. Leve e refrescante sabor me apalpava os sentidos. Ora, se a brisa do mar amparava os arbustos, de certo era daí a sensação de apego a matas tão vivas. E foi assim que foi, os dois alí amparados pelo vento, vertiginosamente sutil em desejo. Era ali um entrecorto, um desequilíbrio, um olhar atento e um amparar firme. E ainda que tivesse sentido tudo aquilo, nada poderia ser descoberto senão o poliamor, um amor múltiplo transfigurado em corpo tomado de ardilosa sensação.

Foi um cheiro de mato, um lago tão extenso quanto a visão poderia alcançar. Foi alí nessa paisagem de janela que um braço tomava o outro de prontidão, sem soltar, com seu único desafio de prender a chama acesa para que não afetasse o limiar externo. Tudo isso em pleno arrebol, assuntado.

E então, ponto por ponto de desejo os prendia. Embebecido de doce vinho fresco, partilhado de carícias que entoavam sons abundantes. E então fez-se o toque, como parte de um alvoroçar. Descobertas sensoriais, deslumbres desformes, corpos em retidão malemolente, exalando odor de suor e toque. E antes que pergunte por eles, eram dois, ele, ela e tantos outros, um por dentro de cada um, como um só!

O ápice apontava para a descoberta de pontos de sensibilidade. Se apressava para que apontar para o lugar certo em tato colaborasse para um contorcer e arrepio do corpo de outrem (visto que eram tantos alí incitados). Cruzou-se as pernas em coreografia, desfigurou golpes de prazer, ampliou os toques em desalinho constante, desgovernou sentidos. E o olfato agora mergulhado em literaturas e chuva artificial pedia gozo deslumbrante e gosto de pêra espumando todo corpo.

E então, como se um magnetismo viril acompanhasse os sentidos, tava alí, no caminho com cheiro de parque e lagoa em poros.

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