25 de julho de 2015

"Les temps sont durs pour le rêveurs"*



Abri os olhos e qual a grande surpresa, estava impermeável a sonhos. A fantasia própria da imaginação não mais poderia penetrar os sentidos. Dormir era um ato impróprio, quase soberbo, no limiar da disfunção mental. Estava tudo praticamente inerte, a não ser o fato de que tudo em sua volta era pragmatismo. Tão objetivo e feito sem esforço de imagem além. Mas também não existia mais ilusão qualquer, não tinha esforço em esconder desejos intuitivos, já que a ideia utópica do prazer era tudo efêmero e racionalizado. 

O cotidiano tinha virado uma equação matemática razoável. Nesse momento, encaixar o fazer da vida em sentido era tão complexo quanto achar o valor de x. O mundo ficou decifrável como poemas lidos de forma semiótica... Ação e reação, tudo a um passo da habilidade de leitura metricamente analisada. Mesmo a relação entre tempo e espaço, era mensurada com relógios e fita métrica sem demais variáveis.

Tudo estava estanque, sem símbolos ou metáforas como parte do dia a dia, tudo preto no branco, todos os vazios a serem ocupados sem receios, todas as desilusões previsíveis e treinadas a não realizar.

E quando me acostumava a não ser traído pelas leituras desvairadas estreitadas por sentimentos disformes, percebi que estava em sonho. As peças continuavam a se desencaixar, os ritos se desmanchavam em águas de marasmos e então o cotidiano se baseavam em um-tal-lugar-possível-impossível. Assim, mais colorido... E então ri quando a moça citou:

"Les temps sont durs pour le rêveurs"*

*Citação do filme: O Fabuloso Destino de Amelie Poulin

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