23 de agosto de 2016

Linhas discretas [ou Carta de saudade com o tempo]

 
Soterópolis, inverno 2016.

Caro amado,

Ontem mergulhei tranquilamente em águas serenas. Lancei olhares para um um lugar tão longe de horizonte, tal espaço lúdico de cores inventadas, borradas como num blueberry nigths*. Um forte amarelo regurgitava uma linha tênue de calor que espairava querida serenidade. 

E é por isso, tão só por isso que lhe escrevo. Dentro desses descaminhos seu olhar era uma imagem simbiótica na minha emoção. 

Nesses dias, escrever tem sido trabalho inóspito de solidão. Como se as palavras me jorrassem folhas secas pela paisagem. A beleza alí estava no grotesco limiar da falta amarelada e seca de vida. Mas, bonito, então, dúbio. Como cada conjunção de discursos orquestrados. O chão amontoado com a textura desconcertante do movimento vento-árvore-terra. Mas é meu ofício operar nessa página branca, latente. 

Soube por vias de sensações que são dias nublados por aí. Por aqui também chove. São águas de agonia que vão desde a fragilidade da fé na coletividade até a saudade de algo que ainda não se teve por aqui. Mas a carta tem mesmo o objetivo de falar sobre como a distância pode causar tempestades que extrapolam toda pele. Escrever-te é tal tentativa de mitigar tua ausência.

E então, quando fores leitura, sejas o abraço tal desejo de retorno ou então esse sorriso que tentas esconder agora.

Pelo bem querer. 

Do seu,

Tempo. 

* referência ao título do filme de Won Kar Wai

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