15 de novembro de 2007

Pra declarar minha saudade!*


Parte I - À espera...

Aquele grito foi porque acabara de machucar o dedo cozinhando brigadeiro na tarde envolvente de domingo. A casa estava vazia, mas o refrigerante no congelador e os filmes na mesa de centro da sala denunciavam a espera da visita. Tinha música nova na lista de reprodução do computador. Tão envolvente, queria impressionar o convidado quanto à sua atualidade sonora. Devia confessar que as habilidades culinarísticas eram apenas hobby em ascensão. Acho que agora faltava pouco tempo, então, aumenta o volume da caixa de som e, radiante, se faz imergir em águas frias e refrescantes.

Enquanto banhava-se, entoava canto exasperado, mas inofensivo (porém, isso não vem ao caso). Emnava um encantamento imaginário, digno de produção de imagens. Gritos de Picasso? Sonhos de Van Gogh? Borrões de Monet? Era um traço forte, mácula de um abstrato preponderante milindrando desejos exaustos, como aquele "cheiro de manga madura"**. Preparava seu corpo e suas sensações também. Prosaico e audacioso.

Toalha de banho - deitado na cama
sonoridades e sonho!

Ilustração: Igor Souza

* "Pra declara minha saudade" é uma série de textículos que pretende ser uma historieta simples sobre amores, carinhos e desejos. Esse também é o nome de uma música interpretada por Maria Rita no seu álbum Samba Meu.
** Metáfora inventada por Helena Parente Cunha em seu livro "Mulher no espelho".

2 comentários:

Comissão Pró-Índio de São Paulo disse...

que medo alegre o de esperar essa visita que instiga todos esses prazeres prévios.

Um xeru meu querido!

Zé Diego disse...

Nilton, esse dom de escrever as coisas de forma simples e profunda me tras uma expectativa de ler seus escritos q nem te conto, e o negoço é que toda vez que leio me supreendo e vejo como vc sabe lidar com os sentimentos nas palavras...vc viu...