16 de julho de 2008

Eu sou feminista!


Sim, eu sou feminista. Sou mesmo. Desavergonhadamente feminista. E não tenho que me envergonhar disso: por que eu, mulher, classe baixa, negra, periférica, nordestina deveria defender um modelo de comportamento, direito e pensamento que em nada me privilegia? Ao contrário, rebaixa, diminui, incapacita.

Sim, e estou feroz. Embora já tenha feito elegias aos homens, embora seja uma mulher que escreve poemas para seus amados, faz desenhos para aqueles que deseja, compra presentinhos, faz almoço e se precisar passa roupa, eu ando impaciente com os homens. Impaciente com os enquadramentos que são dados pelos homens, com a falta de descuido e a eterna prepotência.

E quando em algum momento esbravejo, um deles responde com desdém "hum, ela é feminista". Como se isso fosse uma ofensa! Ora, sou mesmo. Não posso concordar que uma mulher seja puta porque gosta de gozar. Não posso concordar que uma mulher seja otária só porque ela não está disposta a "dar" para determinado cara. Não posso aceitar ser tratada com indelicadeza porque não sou branca e gostosa para o padrão dele. Não posso admitir que o fato de eu andar na rua habilite o sujeito a me passar a mão no seio. Não posso deixar de torcer para que a mulher traída dê um belo corno no marido, que garanhão varre meio mundo. Não posso admitir que um sujeito me torça o braço porque quer que eu dance com ele. Não posso deixar de sentir nojo quando vejo uma mulher defender um patriarcado que não é seu. Não posso deixar de me entristecer quando vejo uma mulher se erguer diminuindo as outras, para ganhar o desejo dos homens a volta. Não posso deixar de aplaudir uma mulher que se impõe. Não posso deixar de esbravejar quando vejo uma mulher negra ser tratada como mula. Não posso admitir que uma reclamação minha seja considerada irrelevante porque sou feminista, e como qualquer feminista, sou azeda, mal-comida e coisas do gênero. Gozo todos os dias, graças ao bom deus. E me deito com aqueles que me interessam, quando me interessam.

Que se lasquem os que impõem os rótulos: gostosa, preta, mula, mal-comida, vagabunda. Que se lasquem esses pequenos medíocres que se vangloriam pela porra de um falo. Que se lasquem em alto e bom som.

Sim, sou pelo direito de uma mulher ser o que ela quer. Inclusive dela se defender e defender as parceiras. Não me interessa sentar numa roda de homens e psicologizar as outras mulheres, destruir para ser a bacana. Não me interessa ser dona do pedaço. Já disse "que se lasquem". Ao longo da história, as mulheres cresceram se debatendo entre si pra ter a porra de um homem, que nem sempre provem. Derrubar a colega, pra subir no conceito do macho. Triste ver isso acontecer. Disso não faço parte. Que se fodam, se torcem o nariz pro feminismo. Feminismo é necessário, enquanto essa porra de machismo correr nas veias de homens e mulheres, mesmo dos ditos conscientes e inteligentes.

Sou filha de uma geração de mães solteiras. Cresci numa casa de mulheres que criaram sozinhas seus filhos. Boa parte das minhas amigas não têm pai. Algumas delas, têm filhos, cujos pais, pouco se lixam. Moro numa cidade, que no carnaval o corpo da mulher é coisa pública. Já fui chamada de puta, por não beijar alguém que nunca vi pela obrigação de saciar um desejo que não é meu. Na rua onde moro, uma senhora de 60 anos quase foi estrupada por um garoto que também tentava roubar sua televisão. Acabei de saber, que a cada 15 minutos uma mulher sofre violência sexual no Brasil. E me justifique agora: por que eu não devo ser feminista? Por que devo defender o direito de quem me oprime?

Texto: Mônica Santana - blog Eu Sou Amelie
Ilustração: Vânia Medeiros

5 comentários:

N. disse...

Eu, Nilton Lopes, 23 anos de cidadão dessa cidade provinciana, sou feminista. Mesmo homem, sou feminista. Preto, pobre, periférico, nordestino, não-heterossexual, sensível/radical e bem disposto. Sim, eu também - assim como Mônica - sou feminista!

Anônimo disse...

Lindo, mesmo!!!
Sou feminista e preciso ser mais ainda.

Assino em baixo, Monica e Niltim.

Rick Gentil disse...

sou feminista, sou machista, sou não-heterossexual, não-homossexual, rico, pobre, radical, conservador, pudico, indecente. sou aquilo o que quero ser. sou td aquilo q se reduz em completamente nada.

Maína Pinillos Prates disse...

Niltin, adorei o texto, mas concordo com Rick que o mais importante é o desejo ser aquilo que quero ser.
Liberdade individual para todos!!!
Beijo gato

acire disse...

concordo com tudo .quem dera tivesse mais mulheres com sua coragem.parabens