21 de março de 2012

O pintor destraído



"Me perdi mais uma vez, mesmo tendo a bússola apontada para o caminho. Insatisfeito por andar sempre só, me entranhei naquela selva árida onde o horizonte turvo mais me parecia estradas reluzentes. E caminhei insensato, inadvertido. Me feriu o tempo, me humilhei pela falta exacerbada, pelo exagero, pelo drama. Infortunado, que sou, tinha que entender que era mais um passo em falso, mais uma armadilha própria. Queimei as folhas em volta por ciúme do tom de verde ruborizante, deixei me furar pelo espinho daquela flor pra sentir o sangue derramando. Barroco, intransigente com as criatividades, míope estava de uma desavença endógena. Me perdi e não sei aonde foi que larguei a sensatez, a coerência. Pois sabia da minha perda e dos motivos. Não sei como voltar e como criança tenho mesmo que chorar de desesperança, orvalhando o drama cartesiano pelos poros destraçalhados. Um ritmo brega, rasgado, uma balada sem cerimônia*, um descontentamento. E eis que assim estou. E construo essa arte piegas, arvorada em desejos imagéticos de me convencer do contrário. Estou no caminho certo da perdição, queria eu", trecho extraído da carta de intenções do grande pintor barroco** do século XXI, que se esconde em fantasias baratas e palavreados inconstantes. 

Autor desconhecido.
**sem prejuízos ao barroco como escola artística.

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