29 de agosto de 2013

Ela era arara azul e pavão no rosto



O corte no asfalto tem gosto de cor. Uma cor agridoce e no final azedinho. Tão acentuado seu paladar que parecia carinho nas papilas gustativas em forma de intensidade de luz. É, porque cor é luz também! Isso se sabia pela reação que teve ao ver o chão: LAMBEU! Pôs a língua naquele lugar descartado como uma forma de protesto pela falta de qualquer coisa que fazia caminhar naquele lugar. E isso, no final, era desejo de ter arco-íris na boca e operou pela textura que tinha aquele prazer.

Ela desfilava uma cabeça de pena. Isso mesmo, uma cabeça penacho exuberante. Era um pavão com cauda na cara, exposta, maliciosa e colorida, tal forma parecia gostosa de tão vivas que eram os tons do seu rosto. Seus olhos eram dois grandes círculos formados no penacho de arara azul.

No fundo, se empenhou na virilidade desprotegida. Rebolava distraída como se os quadris deslocados fossem impeditivos para o caminhar. Parava em qualquer lugar para cuspir fogo, pintar postes ou suas unhas, ouvir o mar desformar ondas

Seduzida pela rua, comia a passagem tão irreal que gananciava tristeza em prazer. Como cores em gostos!

Ilustração: Flávia Bomfim

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