19 de fevereiro de 2006

"Tanta Saudade"*



Por aqui tudo continua da mesma forma...

O jeito dominador de ser garante que se veja quadras ao redor e espaço pra continuar sendo o que é. Não sente vontade de mudança não, é incrível, mas parece que quer continuar da mesma forma, não adianta mais... não dá passo sem nó, aliás não dá passo.

Os rabiscos de papel falam disso sem dúvidas, sem nenhum tipo de convicção, nem credo, fala de que agora nem existe mais disposições para mutações. Mesmo se ver o moço passar pela rua, desajeitado, desajustado, mesmo se ouvir Chico Buaruqe, mesmo se assistir aquele mesmo filme novamente, mesmo se acreditar em lágrimas como presságio de esperança. Não muda mais, não quer mudar.


"De onde vem a calma daquele cara? Ele não sabe ser melhor viu?
Como não entende de ser valente, ele não sabe ser mais viril. Ele não sabe não viu?
E as vezes dá como um fio. É o mundo que anda hostil, o mundo todo é hostil.
De onde vem o jeito, tão sem defeito, que esse rapaz consegue fingir?
Olha esse sorriso, tão indeciso, tá se exibindo pra solidão..."**

Até agora tudo parece tão simples... a vontade de modificar o ritmo dos passos garantia uma angústia de quem nem queria se movimentar. Nem pôr-do-sol, nem filminho a dois, nem tocar violão, nem poesia, nada tinha a capacidade de mover o corpo. Era agora simplesmente a necessidade de subverter a ordem, a lei, a regra do universo de que tudo nesse mundo muda. A perspectiva era de estatizar os sentimentos, promover a interação do corpo (como energia luminosa e afluente corrente) e espírito (o inconfessável lugar onde se guarda as sombriedades, as exigências). parecia que tudo estava resolvido. Ia enfrentar com coragem a opção de ser o mesmo até quando quisesse.

" um homem com uma dor é muito mais elegante caminha assim de lado como se chegasse atrasado andasse mais adiante carrega o peso da dor como se portasse medalhas uma coroa um milhão de dólares ou coisa que os valha ópios édens analgésicos não me toquem nessa dor ela é tudo que me sobra sofrer, vai ser minha última obra"***

Ainda que quisesse ser melhor, ainda que sentisse a necessidade de conquistar outros caminhos ainda não desbravados, ainda que assim, estático, continue solitário, sombrio, prefere não mudar, prefere continuar o caminho... mas, agora tem espelhos pela sala e mesmo que deviasse o olhar...

MUDOU... TRANSFORMOU... é outro agora, mas prefere continuar da mesma forma, como sempre!

* Chico Buarque / Djavan
** Marcelo Camelo
*** Paulo Leminsky

Um comentário:

Anônimo disse...

Estou aqui meio sem ter nem palavras...

Muito lindo, seu texto nos carrega!

Muito bom de verdade, Niltiho, poxa vida!!!!

Virei fã (MESMO).

bEIJO.