2 de março de 2012

Segunda Pele*



Invadiu-me a alma tantinho assim com presteza e sensatez. Nenhuma coerência até então, só desbunde de uma beleza estonteante. Me sambou, com esse verbo que relativiza a condição de ser íntegro, racional. Transportou-me para a leveza imprevisível. Ela, travestida em cores que vibram e se locomovem tão repentina quanto vertiginosamente. 


"solta, vestida de lua na nuvem
dança como se dançasse pra ninguém,
ou só pra mim
ainda bem"**


Tinha exalado tal perfume que envolve e enebria. Cai do céu correntes fortes, novelos de lã em nó cego, rígido e coeso. Brilhantes, salientes, carentes de uma luz possível de tanta paz na guerra de sortes. ora, estava lá a balbuciar cânticos que nada servia, a não ser pra acompanhar seus passos firmes e sutis naquele tablado. Ela me guiava com parcimônia e energia vibrante, tão doce, tão reluzente.


"Ele não é dado pra ciúme,
mas encabulado assume que prefere até que eu não vá.
Digo que meu jogo se resume a um rastro de perfume
que eu deixo nos ares de lá"***


Dançou para minha solidão, como se a recusasse. me tocou em um lugar de segredos com aquele suave voz. Potente, similar a um toque sutil na nuca deslizando para o pescoço e desembocando no coração. Esse amaciado até o momento da instabilidade de sensações. poltrona vazia do lado gritava, mas ela parecia balbuciar no meu ouvido "Você não poderia surgir agora" e eu chorei.


"Eu tava aqui pensando em tudo mais menos você
e achei tão engraçado ter prestado atenção
na sua distraída intenção de me entender
como se já soubesse a chave da minha prisão"****


Daí fui ficar pertinho do seu sapateado, ver trocar uma pele por uma saia rodada de cor. Rodopiou, sorriu na minha frente e esbravejou um samba seguro, um frevo dobrado, curvando-se no final.


"Deixa o mar ferver
deixa o sol despencar
deixa o coração bater, se despedaçar
chora depois, mas agora deixa sangrar"*****


E eu entendi que tinha que deixar sangrar, amado como uma segunda pele.


Uma homenagem a Roberta Sá!


*Nome do álbum e do show da cantora Roberta Sá
**Trecho da música Pavilhão de Espelhos
***Trecho da música O Nego e Eu
****Trecho da música Você não poderia surgir agora
*****Trecho da música Deixa Sangrar

2 comentários:

Maria disse...

Foi um belo show! Roberta é tudo de bom afinadíssima como sempre a banda idem quero bis rsrsr

Celine Ramos disse...

Emoções de espetáculos são sempre intensas e nos deixa derramando.