18 de janeiro de 2012

Satisfações [ou Ode à essência]


Derramou de vermelho e azul a paisagem descompassada do tempo. Impetuosamente, arriscou balbuciar qualquer palavra de tensão. Mas, como? Se a imaginação não suporta mais do que meia dúzia de sugestões de sensações de volúpia? Então não está na ilusão qualquer mero devaneio, ao contrário, não sabia a consequência da reação de fazer o que fez. Limitou-se a não se planejar, mas estava inquieto.

Logo que induzido a se manifestar, disse em alto e bom som:

- Quando me conceituo, não me limito! Ao contrário, digo que nesse momento estarei contribuindo com o entendimento do meu vazio, como parte, e, assim, dizer-me quem sou eu é ampliar o meu anseio de me estender do corpo à palavra alma do meu ser (de hoje).

Mas, então, foram gargalhadas ao redor. Não se irritou, aleijou a frustração de desentendimento. Queria se esconder daquelas prosopopéias e cinismos, mas pra onde iria assim tão rápido? Então, num súbito ímpeto de coragem, o perguntaram:

- Decida-se: há liberdade no se conceituar ou é seu lugar de fuga do que há de essencial em você?

Foi então o momento de gargalhada como resposta.

Não há essência, pensou! Nem há que se ter a necessidade de buscar em si algo de tal necessariamente de um ínterim único. É tudo uma invenção, uma diversidade de ambições e assombramentos (daqueles sustos emergenciais). Rasgar-me, além de doer não teria funcionalidade. Outrora, pensaria que era inventivo da minha identidade, mas agora não quero mais ser tão limitado.

E aventurou o corpo sobre tons de músicas em cor. E o grupo tornou-se movimento dentro de si.

Ilustração: Vânia Medeiros

Nenhum comentário: